Nada é mais passageiro que o tempo. Tudo o que envolve nossa breve passagem por aqui está impregnado pelo efêmero: crescemos rápido demais, sem muito tempo para aproveitar cada etapa da vida; morremos cedo demais, sem realizar todos os sonhos que ainda ontem alimentavam nossa alma.
A própria fé, para escândalo de muitos heróis do impossível, padece momentos de incerteza.
Ao longo da caminhada, somos marcados por dores profundas que abalam nossas mais sólidas convicções. Nunca nos livramos dessas dores. Elas demoram a cicatrizar. E não há nada que possamos fazer, a não ser esperar que o tempo nos ensine a conviver com o sofrimento.
As alegrias parecem passar mais rápido: a lembrança do primeiro beijo, o primeiro amor, a primavera... Ah, a primavera! As flores alegrando espaços antes em preto e branco.
O exercício da saudade é sempre muito doloroso. De repente, a paisagem passa a ser melancolia! A tristeza parece poesia...
Na Bíblia, em meio ao existencialismo do livro de Eclesiastes, o autor assim discorre sobre o tempo: "Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu: há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou; tempo de chorar e tempo de rir; tempo de prantear e tempo de saltar; tempo de espalhar pedras e tempo de juntar pedras; tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar; tempo de buscar e tempo de perder" (Ec. 3.1-2;4-6a).
Os físicos dizem que o tempo é linear, seguindo sempre em direção ao futuro. Não passamos de simples espectadores diante do espetáculo do “Sr. Cronos”. O tempo continuará existindo - nós não.
Até quando a vida estará atrelada à determinação inexorável do tempo? Não sei a resposta. Eu só posso imaginar que um dia, em algum lugar, o tempo há de parar e poderemos viver a beleza daquilo que nossos olhos ainda não conseguem enxergar.
Dostoievski disse que “o Infinito e o Eterno são tão essenciais ao homem como o pequeno planeta no qual habita”. C. S. Lewis disse que as coisas que agora vemos “são somente o aroma de uma flor que não achamos, o eco de uma melodia que não ouvimos”. Por enquanto, temos que nos contentar com os “ecos” e “rumores” desse novo tempo, quando, enfim, “haveremos de conhecer, como agora somos conhecidos” (1 Co. 13.12).
Espero ardentemente por esse dia e lugar. Espero não perder a esperança antes de chegar lá. Mas confesso que a espera é cansativa. Tenho medo de meu coração atrofiar.
E enquanto espero, me inspirarei nas palavras do Pr. Ricardo Gondim: "Buscarei o convívio dos pequenos grupos, priorizarei fazer minhas refeições com os amigos mais queridos. Meu refúgio será ao lado de pessoas simples, pois quero aprender a valorizar os momentos despretenciosos da vida. Lerei mais poesia para entender a alma humana, mais romances para continuar sonhando e muita boa música para tornar a vida mais bonita. Desejo meditar outras vezes diante do pôr-do-sol para, em silêncio, agradecer a Deus por sua fidelidade. Quero voltar a orar no secreto do meu quarto e a ler as Escrituras como uma carta de amor de meu Pai".
Esperarei ainda o outono chegar para ouvir o vento cantar velhas canções e ver o arrebol tingir o céu de vermelho intenso.
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