quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Conhecimento de causa

Agripino entende de políticas eleitoreiras

O leitor João Maurício escreve ao blog comentando o boicote que a oposição 'Justo Veríssimo' quer impor ao programa "Territórios da Cidadania".

Merece destaque o trecho em que ele observa que a reação dos tucanos e "demos" ao programa do governo federal reflete a típica visão "liberal", segundo a qual a função do Estado é bancar a iniciativa privada. "Esse negócio de investir para acabar com a miséria num (sic) é papel do Estado não", escreve o leitor.

Lei a íntegra do comentário:

Interessante é que a maioria das ações do "Territórios da Cidadania" acontecerão (sic) em municípios com população pouco expressiva em termos numéricos e em áreas mais afastadas dos grandes centros urbanos, áreas onde geralmente o IDH é mais baixo. Então pergunta-se: se fosse programa eleitoreiro, não deveria se concentrar nos grandes centros urbanos, onde teoricamente o impacto "político" seria maior? O "x" da questão é outro. A turma dos demos, antigos (PFL), e dos demos convertidos ou neo-demos (PSDB), não suportam ouvir falar em programas sociais cujo objetivo seja reduzir a miséria no país. Mas nisso tem situações engraçadas, a exemplo das declarações de José Agripino, condenando, evidentemente, o Programa do Governo Federal. Mas ao menos dessa vez – sejamos justos – ele pode até não ter razão, mas fala com conhecimento de causa. Ou seja, o "galeguinho do Alecrim" sabe bem o que são políticas eleitoreiras... Suas práticas de antanho lhe servem de guia, certamente. Na concepção de "liberais" como "jaja" o Estado brasileiro tem por função bancar a iniciativa privada, como fez o BNDES no caso das privatizações da Vale, das Telecomunicações... emprestando dinheiro do Estado aos "empresários de bem" para quem (sic) comprassem os bens... estatais. Esse negócio de investir para acabar com a miséria num (sic) é papel do Estado não. Isso é politicagem, diz "jaja" e sua trupe. Afinal, de quem é mesmo essa tarefa?... Bom, mas como é homem sensato e fiél aos ideais da República tupiniquim, "jaja" vai estrear um programinha na Radio Tropical...

Grotesco II

O sensacionalismo não é exclusividade dos pequenos jornais. Os grandes, vez por outra, também descem a ladeira e aderem a esse gênero jornalístico.

Vide o exemplo do Diário de Natal de hoje, que exibe na capa a foto de parte do corpo de mais um detento assassinado no presídio de Alcaçuz.

A foto mostra o braço ensanguentado do morto, onde se lê a inscrição tatuada: "mato por prazer".

Há um balão com o aviso de "Imagens Fortes", que serve apenas para despertar ainda mais a curiosidade do leitor adepto desse tipo de notícia.

Na manchete, também impera o tom apelativo: "Segunda degola faz de Alcaçuz um novo 'caldeirão do diabo' ".

Na capa do caderno "Cidades", em letras garrfais vermelhas, sobre uma foto desfocada, lê-se a seguinte manchete: "De segurança máxima a novo caldeirão do diabo do RN".

A Tribuna do Norte resistiu ao sensacionalismo e deu menos destaque à notícia. O jornal não deixou de noticiar o caso, mas optou por não chocar o seu leitor. Colocou uma foto pequena na capa, mostrando um policial de costas e ao fundo, imagem meio desfocada, os pés do presidiário assassinado. Não há manchete chamando atenção para a notícia; apenas a inscrição acima da foto: "Penitenciária de Alcaçuz".

Na página 9, a manchete é a seguinte: "Mais um detento é decapitado no RN". O jornal não apelou a metáforas futebolísticas de mau gosto nem usou apelidos grotescos para se referir aos envolvidos no caso. A foto interna também é sutil, como a da capa.

Até o JH Primeira Edição maneirou a mão dessa vez e não colocou nenhuma foto nem manchete apelativa sobre mais essa morte no presídio.

Vai longe o tempo em que o DN podia ser considerado o melhor jornal da cidade.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A Chantagem

Dilma Rousseff reage às ameaças da oposição 'Justo Veríssimo'

A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, mandou um recado hoje à turma da oposição 'Justo Veríssimo' - aquela que quer que o povo se exploda.

Dilma disse que o governo não pode parar somente porque é ano de eleição e que as ações do governo não são eleitoreiras.

"Eleitoreira" é a senha da oposição 'Justo Veríssimo' para desqualificar todo e qualquer programa social do governo federal.

Tucanos e "demos" ameçam entrar Justiça contra o recém lançado Territórios da Cidadania, que vai destinar, neste ano, R$ 11,3 bilhões para os 958 municípios brasileiros com menor IDH.

A ministra não entende o terrorismo da oposição 'Justo Veríssimo' contra o programa. "O [programa] Territórios da Cidadania é um dos melhores e mais efetivos programas de distribuição de renda. O programa é focado, tem um papel que é de resgate daqueles bolsões de pobreza que não são facilmente atingidos. Isso representa um esforço articulado do governo. É o governo somando esforços. Não é gastando mais, mas melhor", disse ela à Folha Online.

O programa vai ser coordenado pelo ministro Guilherme Cassel do Desenvolvimento Agrário e compreende 135 ações, envolvendo outros 19 ministérios. A previsão é de atender 24 milhões de pessoas nas comunidades rurais, aldeias indígenas, quilombolas e colônias de pescadores inicialmente mapeadas pelo programa.

O Ministro Guilherme Cassel disse ao jornalista Paulo Henrique Amorim que a novidade do programa é fazer com que recursos e programas já existentes cheguem a regiões que não eram beneficiadas, levando assistência social e desenvolvimento a essas populações.

"Ele (o 'Territórios da Cidadania') é pensado em três eixos básicos. O primeiro deles é garantir acesso universal a direito de cidadania: documentação, assistência social, o básico. O segundo, superar a infra-estrutura: água, energia elétrica, casa. E o terceiro: apoiar atividade produtiva a partir de atividades que podem tirar essas regiões da estagnação econômica", explicou o ministro.

A oposição quer boicotar o Territórios da Cidadania e fica usando essa desculpa furada de que o programa é eleitoreiro.

Para a população que sobrevive em condições precárias, não interessa se é ano eleitoral ou não. O que importa é que ela vai ter, pela primeira vez, acesso de fato à cidadania.

A chantagem da oposição, ameaçando entra na Justiça contra o programa, é birra de menino mimado.

É igual aquela história do garoto que é o dono da bola. Ele não joga nada, mas se não deixarem ele ser o atacante, não tem jogo.

Grotesco


Muitos jornais sobrevivem do sensacionalismo, principalmente da exploração e banalização da violência.

O JH Primeira Edição (capa reproduzida acima) presenteou os admiradores do mundo-cão com a foto de capa de um homem todo costurado, após ter levado sete facadas.

Danilo Angrimani, autor de "Espreme que sai sangue", um dos mais conhecidos estudos do sensacionalismo na imprensa brasileira, explica que "o jornalismo sensacionalista extrai do fato, da notícia, a sua carga emotiva e apelativa e a enaltece", como estratégia para seduzir o público.

Muniz Sodré fala em uma "estética do grotesco" como aspecto preponderante em jornais e programas sensacionalistas. Ele também utiliza a expressão “estética do sangue” para caracterizar esse tipo de jornalismo.

Marcondes Filho afirma que a imprensa sensacionalista "não se presta a informar, muito menos a formar."

Cito novamente Danilo Angrimani, que diz que "sensacionalismo e credibilidade se repelem, são incompatíveis."

O jornal sensacionalista sabe que o leitor gosta do fait divers (notícia "curiosa", numa tradução livre) e o transforma em manchete de capa, como fez o JH Primeira Edição.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A Veja que ninguém vai ver



A capa acima seria um marco no jornalismo brasileiro se fosse de verdade. Infelizmente é apenas um peça fictícia do blogueiro André Lux. Na falsa capa, a Veja reconhece que não conseguiu derrubar o presidente Lula e comemora o fim do governo desastroso do "ditador" George W. Bush.

Oposição 'Justo Veríssimo'

A oposição não sabe mais o que fazer pra derrubar o presidente Lula.

Por mais que "demos" e tucanos tentem, eles não conseguem abalar a popularidade do homem, que segundo a mais recente pesquisa CNT/Sensus, passa dos 60%.

Derrubaram a CPMF no final do ano passado pra ver se o governo federal ficava com as calças na mão, sem "dinda" pra continuar os programas sociais e pra investir em novas ações.

Avaliaram que seria fácil ganhar a parada das eleições municipais deste ano, porque um governo sem dinheiro em ano eleitoral é um governo fraco.

Ainda falta muito tempo pras eleições e, até lá, tudo pode acontecer. Mas o tiro da oposião parece ter sido furado.

Primeiro porque o governo, apesar da perda da CPMF, não cortou as verbas dos programas sociais.

E além de manter os programas atuais, o governo começa a executar outras ações na área social para favorecer a parcela mais carente da população.

Foi o que aconteceu hoje, em Brasília, quando o governo lançou o progama "Territórios da Cidadania".

O programa compreende 135 ações de 19 ministérios e vai contemplar as regiões do país com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Aproximadamente mil municípios devem ser beneficiados.

Apenas em 2008, serão destinados R$ 11,3 bilhões para os municípios selecionados.

Os municípios foram agrupados em cerca de 60 territórios. Em 2009, o programa vai alcançar 120 territórios em todo o país, segundo o governo federal.

Mais de 2 milhões de famílias de agricultores familiares, assentados da reforma agrária, quilombolas, indígenas, famílias de pescadores e comunidades tradicionais terão acesso às ações neste ano. Isso somente no meio rural.

No total, a previsão do programa é beneficiar 24 milhões de pessoas envolvidas.

O objetivo do programa é eliminar os bolsões de pobreza e reduzir das desigualdades sociais.

A oposição ficou doida quando o programa foi lançado. O deputado Rodrigo Maia (RJ), presidente do Democratas (DEM), disse que o programa é puro "assistencialismo".

O senador José Agripino Maia (RN), coincidentemente do mesmo partido de Rodrigo Maia, disse que não esperava que o governo, mesmo perdendo a CPMF, ainda tivesse tanto dinheiro pra investir nos mais pobres.

"O governo não disse que estava quebrado sem a CPMF ? Como lança, então, esse programa agora?", perguntou assustado Agripino Maia.

O medo deles é que o programa dê certo e beneficie os candidatos a prefeito apoiados pelo preidente Lula.

E até mandaram um recado: vão recorrer à Justiça Eleitoral e questionar o programa, que eles chamam de "eleitoreiro".

Por trás desse papo furado, está o pavor que "demos" e tucanos têm do povo. Como diria Justo Veríssimo, personagem antológico criado por Chico Anysio, eles querem que o povo se exploda.

No início, eles também tentaram boicotar o Bolsa Família, dizendo que o programa era "assitencialista", que era uma "bolsa esmola" e blá blá blá...

Quebraram a cara antes e vão quebrar novamente.

Pergunte aos universitários

O novo (?) "Aqui Agora", que voltará ao SBT em março, vai contar com uma platéia de universitários.

O papel deles será de debater sobre carreira e comportamento.

Mais um ingrediente trash deste que foi o telejornal mais sensacionalista da década de 1990 na televisão brasileira.

Parece até que estou vendo (quer dizer, imaginando, porque não vou assistir a volta dessa porcaria de jeito nenhum), a platéia cheinha de pingüins de universidades particulares. Após uma matéria, a câmera focaliza a turminha e o apresentador pergunta: "O que vocês têm a dizer sobre esse assunto?". E eles: "Hein, como assim?!".

Ai, Jesus, isso não vai dar certo.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Iguais, pero no mucho




















As capas da Veja e da Carta Capital desta semana são quase iguais.

A foto é a mesma - a sombra do rosto do ex-presidente cubano Fidel Castro. A diferença é apenas o enfoque.

Veja comemora a renúncia de Fidel Castro com a manchete na capa: "Já vai tarde". Típico do estilo refratário e panfletário da revista.

Carta Capital se baseia nas análises de diversas personalidades para tentar imaginar como vai ficar "Cuba sem Fidel".

Muito bom o editorial de Mino Carta: "Fidel Castro e o golpe de 1964".

Carta Capital também entrevistou o historiador Tariq Ali, para quem os cubanos exilados em Miami são "fascistas".

Tariq Ali considera que a volta dos cubanos exilados para a ilha seria ruim, porque “todo o trabalho realizado desde 1959 seria destruído”.

"Muito Além do Cidadão Kane"

Documentário sobre a "história secreta" da Globo faz 15 anos

A Folha publica hoje entrevista com o professor britânico John Ellis, produtor do documentário "Muito Além do Cidadão Kane", que conta a verdadeira história da Rede Globo, as ligações políticas e a relação íntima com o governo militar da emissora fundada por Roberto Marinho.

O documentário foi transmitido pela primeira vez em 1993, no canal britânico Channel 4.

Há depoimentos de políticos como Leonel Brizola (1922-2004), Antonio Carlos Magalhães (1927-2007) e do presidente Lula, então dirigente sindical. Também há depoimentos de artistas como Chico Buarque, que na época da ditadura militar era vetado na emissora.

O documentário completa 15 anos, mas nunca foi exibido em nenhuma emissora brasileira, porque a Globo não cedeu os direitos de exibição de suas imagens.

Isso não impediu, porém, que o documentário fosse exibido em eventos públicos no país. Hoje, o filme está disponível na internet para ser visto e armazenado.

Confira a entrevista na íntegra:

FOLHA - O que acha de o governo Lula tentar erguer uma TV pública?

ELLIS - Talvez seja tarde demais para a criação de uma TV pública. O que ela mostraria na maior parte do tempo? Há, claro, sempre espaço para uma melhora da informação pública na TV, tanto em notícias, em programas factuais, quanto nos assuntos presentes nas novelas, e como eles são abordados. A experiência no Reino Unido mostra que a TV pública deve ser separada do governo. Esse modelo de TV pública é possível no Brasil? Nenhum governo que eu conheço iria querer criar agora uma empresa de telecomunicações se não pudesse controlá-la diretamente. Especialmente agora, quando há muitas TVs espalhadas pelo mundo. O serviço público de TV na Europa foi iniciado em uma época em que a TV era uma novidade. Mesmo que a BBC seja separada do poder, quando a emissora foi realmente contra o governo em questões políticas específicas, o governo conseguiu reagir de maneira bem-sucedida contra essa oposição. O sucesso da TV pública independente no Reino Unido não foi propriamente na área da política. Entretanto foi bem-sucedida na educação pública, sobre temas locais importantes, na participação social, na proteção do consumidor e até em melhorar o padrão geral dos programas no país.

FOLHA - O sr. acha que o documentário "Muito Além do Cidadão Kane" ainda é atual?

ELLIS - Ele descreve uma situação que evoluiu, mas não sei bem qual é a profundidade dessas mudanças. O filme é bem-sucedido também, com a ajuda de muitos arquivos que permitem fazer essa oposição, em contar a história do crescimento da dominação da Globo na mídia brasileira. Essa é uma história importante e deveria ser conhecida pelo menos por todos que estão estudando a mídia nas universidades e qualquer pessoa que estiver interessada na história política do Brasil.

FOLHA - Há quem diga que o Channel 4 encomendou seu documentário para atacar a Globo, que ameaçava entrar no mercado europeu de TV. Isso é verdade?

ELLIS - Definitivamente não. O objetivo do programa era justamente entender a TV no Brasil. No passado, o Channel 4 exibiu pelo menos uma novela da Globo ("Escrava Isaura"), mas a produção não foi um grande sucesso. Há uma enorme diferença entre a cultura das TVs do norte e do sul da Europa. A Globo teria mais chances em mercados como Espanha, Itália, Grécia ou, especialmente, Portugal, mas não no Reino Unido. A competição no Reino Unido vem das empresas norte-americanas e das empresas de Rupert Murdoch (News International, BSkyB e o conglomerado da Fox).

FOLHA - O filme foi proibido?

ELLIS - Isso não é verdade. A Large Door concedeu o direito de exibir o programa em eventos e em público a diversas organizações no Brasil. Não poderia ser transmitido pela televisão porque muitas imagens pertencem à TV Globo. Fiquei sabendo que o vídeo foi mostrado em muitos eventos públicos no Brasil. Ele foi feito por meio da lei britânica de direitos autorais, que permite o uso de trabalhos escritos e, por extensão, audiovisuais, desde que "com o propósito de fazer comentários e revisões críticas" [sobre aquela obra]. O documentário foi finalizado por Simon em março de 1992. Ele entrou em coma no início de junho daquele ano e morreu em 17 de agosto sem ter recobrado a consciência. Eu supervisionei a revisão do programa e a inclusão de uma entrevista para atualizar o filme, que foi ao ar em maio de 1993. No Brasil, talvez você possa considerar que o filme é proibido, já que a recusa da Globo em ceder os direitos de exibição de suas imagens significa que ele não pode ser transmitido por canais brasileiros.

FOLHA - O documentário é apontado por alguns como um produto manipulador, que usa uma falsa linearidade para induzir o público a acatar sua posição.


ELLIS - Toda representação "manipula" o público. O filme tem uma narração linear exatamente porque quer mostrar o crescimento do poder da mídia durante um período difícil da história moderna do Brasil. Ele foi feito para uma audiência no Reino Unido que não sabia nada sobre a história do Brasil, não se esqueça! Deveria haver outras narrativas sobre essa história também.

FOLHA - Nos últimos anos, o Brasil viu se intensificar uma guerra entre a Record e a Globo. O sr. tem acompanhado?


ELLIS - Não tenho acompanhado de perto esse essa história. Mas sei que duas empresas estavam interessadas em comprar os direitos de "Muito Além do Cidadão Kane" no Brasil quando ele foi mostrado pela primeira vez no Reino Unido. Uma era a própria Globo.Eles perderam o interesse quando disse a eles que poderiam comprar os direitos de TV, mas não as licenças para exibição em público e a distribuição de VHS, já que esses direitos já haviam sido concedidos a outras organizações no Brasil.A outra empresa era a TV Record. A igreja [Universal do Reino de Deus] já tinha uma filial em Londres naquela época. Mas percebeu que haveria uma disputa judicial com a TV Globo a respeito das muitas imagens retiradas da programação deles. Então decidiu não comprá-lo.