quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Antônia


Pobre entra no cinema?

De Leonardo Cruz, no blog "Ilustrada no Cinema", hoje (14/02/2007);

"Antônia, o filme, estreou na última sexta com todos os elementos para ser um êxito de bilheteria. A saber:


1) vinha no embalo de uma série de TV global que teve boas médias de audiência no ano passado.


2) teve intensa atenção da mídia, especialmente na Globo, co-produtora do filme, que dedicou espaço em seus programas mais nobres para exibir cenas e entrevistas com as protagonistas.


3) foi alvo de uma boa campanha de marketing, com propaganda nos principais jornais e trailers/comerciais na TV.


4) recebeu críticas positivas dos principais jornais e revistas do país. Na avaliação geral dos críticos, "Antônia" é uma peça de entretenimento popular que funciona bem.


5) foi lançado com 125 cópias nas principais cidades do país. Mais do que, por exemplo, os candidatos ao Oscar "Babel" (81 cópias) e "A Rainha" (80).


Mesmo com tudo isso, o filme teve apenas 23.906 espectadores em seu primeiro final de semana e ficou em décimo lugar no ranking de estréias, atrás de xaropadas como "À Procura da Felicidade" e "Rocky Balboa". No pior cenário previsto por seus produtores, "Antônia" teria 80 mil espectadores nos dias de estréia. O que deu errado?


Um palpite: o cinema deixou há muito de ser entretenimento popular, com seus ingressos entre R$ 15 e R$ 20. É lazer para classe média alta, que tem real poder de consumo. E "Antônia" não atrai tal fatia da população, porque não tem nenhum astro ou estrela (de Hollywood ou das novelas), é um drama (não uma comédia escrachada) e retrata o cotidiano da periferia de São Paulo. Não é fácil escrever isto, mas a realidade é que esse público consumidor não quer ver pobre no cinema. Na história nacional recente, a única exceção foi "Cidade de Deus". Ou estou enganado?"

terça-feira, 13 de fevereiro de 2007

A juventude do Brasil

Artigo de MANUELA D'ÁVILA, publicado na Folha de S. Paulo, hoje:"


"A REALIDADE da juventude brasileira é reveladora: somos 48 milhões, com idades entre 16 e 29 anos, vivendo, na maior parte, nas regiões metropolitanas. Se a violência, o desemprego, a falta de qualificação profissional e de acesso à educação atingem toda a população, é nos jovens que as estatísticas se tornam mais assustadoras. Quando pensamos na representação política dessa parcela, temos números menores que os relativos à presença feminina: são apenas 3% dos deputados federais.

Nos dois casos, os números não condizem com a participação desses segmentos na sociedade. Mulheres e jovens são parte expressiva da população economicamente ativa do país, atuamos nos movimentos existentes em bairros, sindicatos, igrejas etc.

Uma das explicações para essa baixa presença institucional é a débil estruturação partidária do país (a reforma política deve prever a participação dos jovens e das mulheres na constituição das listas partidárias). Praticamente não há espaço para jovens na disputa com "caciques" dos partidos tradicionais. Também é pouco provável que eles articulem recursos para a campanha (já que o financiamento eleitoral não é público).

Entretanto, é impossível não analisarmos o preconceito com essa parcela da população. Cotidianamente vivemos uma contradição: existe um "fetiche" com o "ser jovem" na sociedade contemporânea. A beleza é associada à juventude eterna, a comercialização de produtos é vinculada à juventude (mesmo que ela não os consuma). De outro lado, vemos a juventude vinculada à falta de capacidade (e não à pouca experiência).

Comprova essa interpretação o fato de uma parlamentar jovem ser associada a determinado padrão estético, e não às suas ações e idéias políticas. Infelizmente, ainda nem todos compreendem que a juventude e as mulheres não são enfeites nos espaços institucionais. Que têm importantes contribuições a dar na renovação da política. Da sua dinâmica, de suas idéias, do seu "modus operandi". A ousadia, a criatividade e desprendimento são exemplos disso.

Temos tanto por fazer! É preciso superar a contradição entre emprego X educação. A maior parte dos jovens precisa auxiliar no orçamento doméstico. Como garantir que as poucas oportunidades de trabalho não se contraponham ao acesso às escolas e às universidades?

A existência real de escolas e cursos universitários noturnos é uma alternativa. Também é imprescindível que qualificação profissional e trabalho sejam entendidos como complementares ao processo educacional.

É relevante dizer que essa já é a vida dos jovens de classe média de nosso país que, até sua formação estar conclusa, se dedicam fundamentalmente a ela (sendo universitários e estagiando ou cursando o ensino médio e cursos de informática).

É inadmissível que 38% dos jovens engrossem as estatísticas da evasão escolar. Como garantir que permaneçam em sala de aula? Uma maior eficácia do transporte escolar é necessária. Seu repasse é hoje um dos grandes desafios dos governos estaduais. Entretanto, a legislação não exige que também seja garantido o transporte aos alunos do ensino médio. Queremos ou não aumentar a escolaridade dos brasileiros?

São os jovens que mais estão envolvidos em situações de violência. Sofrendo e cometendo. Acharemos correta a diminuição da maioridade penal até o dia em que os jovens já nascerão presos ou vamos lutar para incluir crianças, adolescentes e jovens no projeto de desenvolvimento? A construção do tão propagado "futuro do Brasil" deve se dar no presente.
É impossível que um jovem morto aos 16 anos no narcotráfico se torne médico aos 30. Trata-se, portanto, de alterar o presente. É evidente que nada disso se tornará possível se o Brasil não crescer sua economia, se não vivermos um desenvolvimento nacional sustentável.

É para fazer debates como esses, como a reforma universitária, os programas de oportunidade de empregos e qualificação profissional, a Lei dos Estágios, a meia-entrada, o Plano Nacional e o Estatuto da Juventude que chegamos à Câmara. Para mostrar que inclusão da juventude e desenvolvimento nacional sustentável devem ser apenas uma pauta.

Também queremos contribuir para a melhoria das relações da Câmara com a sociedade, com a transparência, estabelecendo vínculos com os movimentos sociais e com a própria sociedade. Com tantos desafios e trabalho pela frente, o rótulo de "musa do Congresso" será como apelido de primeiro dia de aula. A expectativa é que prestem atenção em minhas idéias."

MANUELA D'ÁVILA , 25, jornalista, dirigente nacional da União da Juventude Socialista, é deputada federal pelo PC do B-RS.

Lula prepara revolução na educação, diz "El País"

Da BBC Brasil, extraída da Folha Online, hoje:


"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prepara uma revolução na educação brasileira para tentar reverter o quadro negativo na área, o que não conseguiu durante seu primeiro mandato, afirma reportagem publicada nesta terça-feira pelo diário espanhol "El País".

"A primeira promessa de Lula quando assumiu a Presidência em 2002 foi melhorar a qualidade da educação, objetivo em que fracassou, segundo os dados do Ministério da Educação", diz a reportagem.

Para o jornal, "Lula é um político pragmático, sem muita carga ideológica, mas com um grande senso comum".

"Entendeu que, se pretende se candidatar em 2010 a um terceiro mandato, para o qual teria que mudar a Constituição, terá que vencer a batalha da educação, peça fundamental para acabar com as grandes diferenças sociais do país", avalia a reportagem.

Para o jornal, os problemas incluem o analfabetismo ainda relativamente alto, crianças que terminam a escola primária praticamente sem saber ler e sem entender o que lêem, ensino médio não obrigatório, professores que ganham menos que um peão de obra e escolas onde os computadores ainda não chegaram.

"Mudar esse panorama é o objetivo da revolução proposta por Lula: uma base salarial digna para todos os professores do país (cerca de 2 milhões), recursos para a formação do professorado, melhoras nas estruturas das escolas, a obrigatoriedade do ensino médio e a existência de um computador por aluno em todas as escolas públicas", relata a reportagem."
Comentários:

1. Essa história de terceiro mandato tá virando obsessão. Estão forçando a barra pra forjar uma semelhança entre Lula e Chávez.

2. Sobre "professores que ganham menos que um peão de obra", já vivi isso na pele, quando dava aulas no Projeto Aprendiz Cidadão do Senac. Quando meu contrato temporário terminou e fui assinar o contrato pra me tornar efetivo, meu salário foi reduzido e fiquei ganhando menos que o pessoal da limpeza.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Fugindo do controle. Sempre

Da Carta Capital dessa semana:


A tentativa de criar um manual de classificação indicativa é tachada de autoritária

"Dois anos depois de bombardeado o projeto de criação da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (Ancinav), as tevês voltam a acusar de autoritária uma proposta do governo Lula destinada a regulamentar os canais abertos brasileiros. Desta vez, o alvo não é o Ministério da Cultura, mas o Ministério da Justiça, que prepara uma portaria para alterar os critérios de classificação dos programas por faixa etária e horários e criar mecanismos de punição para quem descumprir as regras.

Apesar de estar em discussão há três anos, a portaria chegou a público como um bicho-de-sete-cabeças. A Rede Globo fez até um vídeo institucional contra o projeto. O comercial mostra uma menina com os olhos vendados por várias mãos e sublinha: “Ninguém é melhor do que os pais para saber o que os filhos devem assistir”.

Atores, produtores e representantes de outras tevês também levantaram a voz contra o texto do novo manual de classificação indicativa que, não custa lembrar, é reivindicação antiga de entidades ligadas à luta pelos direitos da criança e do adolescente. A exemplo do que aconteceu no episódio da Ancinav, chama a atenção o fato de, em vez de questionar possíveis pontos problemáticos, as tevês tentam derrubar o projeto na íntegra e, mais uma vez, usam a palavra “censura” para desqualificá-lo.

A pressão das tevês sobre a classificação indicativa não é nova. A própria portaria hoje em vigor, criada pelo então ministro da Justiça José Gregori, em 2000, está sendo questionada no Superior Tribunal de Justiça (STF), pois, segundo as emissoras, caracteriza uma “censura prévia” aos programas.

A classificação, que define os horários adequados aos programas de acordo com o nível de violência ou com as cenas de sexo exibidas, é prática comum em diversos países democráticos. Trata-se, apenas, de um mecanismo de controle social sobre as emissoras, que, no Brasil, são concessionárias de um serviço público."