Hillary Clinton vai usar medo contra Barack Obama
Em 2002, no segundo turno das eleições presidenciais, antevendo sua iminente derrota, José Serra, então candidato tucano, pregava a tática do medo numa tentativa desesperada de virar o jogo e conseguir vencer o então candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva. Até a atriz Regina Duarte foi para a TV dizer que tinha medo do Lula. O resultado dessa história nós conhecemos. Lula foi eleito presidente sob o lema "a esperança venceu o medo".
Mais tarde, em 2006, foi a vez de Lula usar o medo na sua campanha de reeleição contra seu então opositor, novamente um tucano, o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. O lema da campanha lulista foi "não troco o certo pelo duvidoso". Desta vez, o truque do medo funcionou e Lula foi reeleito presidente.
Em 2008, os Estados Unidos vão escolher seu novo presidente, após oito longos anos do comando nefasto de George W. Bush na Casa Branca. Estas eleições americanas têm um significado ainda mais importante, dado o seu caráter de ineditismo sob alguns aspectos, além das questões políticas e econômicas. Pela primeira vez, a nação mais poderosa do mundo poderá ser governada por uma mulher ou por um negro.
A ex-primeira-dama e senadora Hillary Clinton e o também senador Barack Obama disputam a indicação do Partido Democrata para concorrer à Presidência dos EUA. No sistema eleitoral americano, os pré-candidatos têm que disputar prévias nos 50 estados, além do distrito de Colúmbia. Aquele que conquistar o maior número de delegados nos estados é oficializado candidato no congresso nacional do seu partido.
A corrida começou ontem (04/01), no estado de Iowa, região central dos EUA, cujas prévias foram vencidas pelo democrata Barack Obama e pelo republicano Mike Huckabee. Hillary Clinton ficou apenas em terceiro lugar entre os democratas. O segundo lugar ficou com John Edwards.
As próximas prévias acontecerão em New Hampshire, terça-feira que vem (08/01). De acordo com o portal G1, Obama está páreo a páreo nas pesquisas de New Hampshire com Hillary Clinton.
A vitória de Obama em Iowa fez surgir o sinal amarelo no comando da campanha de Hillary. As estratégias de Obama e Hillary são muito parecidas com as estratégias de Lula e Serra em 2002, aqui no Brasil.
Obama se apresenta como o candidato da "esperança de mudanças", enquanto Hillary posa de experiente e aposta no medo da inexperiência do jovem senador negro para vencer a disputa democrata.
Diante da tática da ex-primeira-dama, Obama responde que "a esperança vai vencer o medo" - assim como fez Lula no Brasil em 2002. "Estamos escolhendo a esperança em vez do medo", disse Obama após a vitória em Iowa.
Este é apenas o primeiro capítulo de uma emocionante disputa que se arrastará até fevereiro, quando a maioria dos estados americanos já terá realizado suas prévias e nós poderemos saber se, lá como cá, a esperança terá mesmo vencido o medo.
Com informações do G1 e da Folha de São Paulo
sábado, 5 de janeiro de 2008
Especulação imobiliária no RN vira assunto nacional
Primeiro foi o "Jornal Hoje" da Globo e agora foi a Folha de São Paulo que destacou a questão da especulação imobiliária no Rio Grande do Norte.
Na quinta-feira passada (03/01), o JH exibiu a matéria "Paisagem Comprometida", do jornalista Francisco José, mostrando que as dunas do Rio Grande do Norte estão sendo ameaçadas pela especulação imobiliária e "invadidas por condomínios de luxo, hotéis e casas de veraneio."
A matéria mostrou a área de 2.200 hectares onde os espanhóis do Grupo Sánchez pretendem construir um grande condomínio habitacional. O professor Aristotenino Ferreira, coordenador do curso de Ecologia da UFRN, disse ao JH que com esse empreendimento "vamos perder boa parte dessa paisagem maravilhosa que nós temos aqui”.
O presidente da associação dos bugueiros, Paulo Henrique Severo, disse na matéria que a Lei Federal Nº 4.471 estabelece que "a duna é uma área de preservação permanente e jamais pode ser edificada."
A matéria também mostrou o avanço das edicações de casas e hotéis na praia de Ponta Negra e na Via Costeira.
Na Folha de hoje, uma matéria assinada pelo repórter João Carlos Magalhães volta ao tema da especulação imobiliária no RN e destaca que a "construção de um megaresort, com 35 mil casas, perto de Natal" ameaça as dunas potiguares, principalmente a "Duna Dourada" na praia de Pitangui. A Folha se baseia numa denúncia do Ministério Público de Extremoz.
A "Duna Dourada" é o local onde o Grupo Sánchez escolheu para construir o "Grand Natal Golf", que, segundo o jornal, "é considerado pelo governo federal o maior projeto imobiliário-turístico do país."
De acordo com a denúncia do Ministério Público, além da perda da paisagem natural, o empreendimento poderá provocar "o esgotamento da infra-estrutura local e o acirramento das diferenças sociais."
A Folha informa que o projeto já ganhou a licença prévia do Idema e as obras devem começar em março. As casas já começaram a ser vendidas na Espanha.
A promotora de Extremoz, Ethel Ribeiro, disse à Folha que a "Duna Dourada" poderá desaparecer, caso o megaresort seja mesmo construído.
A promotora disse ainda que "haverá também uma perda da fauna e da flora, além do risco de estragar um cenário que hoje é considerado paradisíaco."
Segundo a matéria, os representantes do Grupo Sánchez asseguraram que a duna não será atingida pelo empreendimento. A matéria informa ainda que o Idema criou uma comissão para acompanhar a construção da obra.
A promotora Ethel Ribeiro alerta também para a necessidade de "avaliar bem como serão criadas as condições sanitárias e sociais para prover a população que passará a viver, gradativamente, ali." Ela alerta ainda para o risco de que o empreendimento venha a sobrecarregar o saneamento básico da área - apenas 33% de Natal tem rede de esgoto.
O governo estadual, por sua vez, destaca que as obras do megaresort vão levar desenvolvimento à região, com a criação de 100 mil postos de trabalho na área hoteleira e da construção civil.
A Folha lembrou ainda o caso dos vereadores acusados de trocar votos por dinheiro na votação do Plano Diretor de Natal. Os vereadores foram acusados pelo Ministério Público da capital de favorecer as empreeiteiras quando derrubaram os vetos do prefeito Carlos Eduardo (PSB) ao PDN.
Na quinta-feira passada (03/01), o JH exibiu a matéria "Paisagem Comprometida", do jornalista Francisco José, mostrando que as dunas do Rio Grande do Norte estão sendo ameaçadas pela especulação imobiliária e "invadidas por condomínios de luxo, hotéis e casas de veraneio."
A matéria mostrou a área de 2.200 hectares onde os espanhóis do Grupo Sánchez pretendem construir um grande condomínio habitacional. O professor Aristotenino Ferreira, coordenador do curso de Ecologia da UFRN, disse ao JH que com esse empreendimento "vamos perder boa parte dessa paisagem maravilhosa que nós temos aqui”.
O presidente da associação dos bugueiros, Paulo Henrique Severo, disse na matéria que a Lei Federal Nº 4.471 estabelece que "a duna é uma área de preservação permanente e jamais pode ser edificada."
A matéria também mostrou o avanço das edicações de casas e hotéis na praia de Ponta Negra e na Via Costeira.
Na Folha de hoje, uma matéria assinada pelo repórter João Carlos Magalhães volta ao tema da especulação imobiliária no RN e destaca que a "construção de um megaresort, com 35 mil casas, perto de Natal" ameaça as dunas potiguares, principalmente a "Duna Dourada" na praia de Pitangui. A Folha se baseia numa denúncia do Ministério Público de Extremoz.
A "Duna Dourada" é o local onde o Grupo Sánchez escolheu para construir o "Grand Natal Golf", que, segundo o jornal, "é considerado pelo governo federal o maior projeto imobiliário-turístico do país."
De acordo com a denúncia do Ministério Público, além da perda da paisagem natural, o empreendimento poderá provocar "o esgotamento da infra-estrutura local e o acirramento das diferenças sociais."
A Folha informa que o projeto já ganhou a licença prévia do Idema e as obras devem começar em março. As casas já começaram a ser vendidas na Espanha.
A promotora de Extremoz, Ethel Ribeiro, disse à Folha que a "Duna Dourada" poderá desaparecer, caso o megaresort seja mesmo construído.
A promotora disse ainda que "haverá também uma perda da fauna e da flora, além do risco de estragar um cenário que hoje é considerado paradisíaco."
Segundo a matéria, os representantes do Grupo Sánchez asseguraram que a duna não será atingida pelo empreendimento. A matéria informa ainda que o Idema criou uma comissão para acompanhar a construção da obra.
A promotora Ethel Ribeiro alerta também para a necessidade de "avaliar bem como serão criadas as condições sanitárias e sociais para prover a população que passará a viver, gradativamente, ali." Ela alerta ainda para o risco de que o empreendimento venha a sobrecarregar o saneamento básico da área - apenas 33% de Natal tem rede de esgoto.
O governo estadual, por sua vez, destaca que as obras do megaresort vão levar desenvolvimento à região, com a criação de 100 mil postos de trabalho na área hoteleira e da construção civil.
A Folha lembrou ainda o caso dos vereadores acusados de trocar votos por dinheiro na votação do Plano Diretor de Natal. Os vereadores foram acusados pelo Ministério Público da capital de favorecer as empreeiteiras quando derrubaram os vetos do prefeito Carlos Eduardo (PSB) ao PDN.
A "barriga" do blog
No jargão jornalístico, barriga quer dizer publicar um fato falso, mas sem intenção de enganar o leitor.
Foi isso que aconteceu aqui no blog, no dia 31/12 passado, quando dei a seguinte notícia: "Morre Marshall McLuhan, precursor da aldeia global".
Um leitor anônimo mandou comentário avisando do erro e tirando onda com minha cara. O comentário dizia o seguinte: "Copiou o JB e deu nisso. McLuhan morreu em 1980!!! Dia 31.12 foi aniversário de morte e não a morte propriamente dita, como foi noticiado no blog. Que falta de atenção..."
Mas ele tem razão mesmo. Foi pura falta de atenção. Transcrevi a notícia do Blog do Noblat (não foi do JB, caro leitor) tal qual estava postada lá e deu no que deu.
O mico está devidamente registrado, assim como a devida correção. A notícia errada será excluída.
Foi isso que aconteceu aqui no blog, no dia 31/12 passado, quando dei a seguinte notícia: "Morre Marshall McLuhan, precursor da aldeia global".
Um leitor anônimo mandou comentário avisando do erro e tirando onda com minha cara. O comentário dizia o seguinte: "Copiou o JB e deu nisso. McLuhan morreu em 1980!!! Dia 31.12 foi aniversário de morte e não a morte propriamente dita, como foi noticiado no blog. Que falta de atenção..."
Mas ele tem razão mesmo. Foi pura falta de atenção. Transcrevi a notícia do Blog do Noblat (não foi do JB, caro leitor) tal qual estava postada lá e deu no que deu.
O mico está devidamente registrado, assim como a devida correção. A notícia errada será excluída.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2008
Sobre tanta nostalgia
Feliz 2008
Frei Betto, em "Tendências e Debates", na Folha, hoje:
O QUE há de especial em trocar de ano? Nada, exceto a convenção numérica, invenção indo-arábica, que nos permite codificar o tempo em horas, minutos e segundos e estabelecer, segundo o movimento de nosso planeta em torno do Sol e as fases da Lua, calendários que repartem o tempo em ano de 12 meses, mês com cerca de 30 dias e dia com exatas 24 horas.
Ocorre que não somos trilobitas, e sim humanos, dotados da capacidade de imprimir ao tempo caráter histórico e, à história, sentido. Mudar de ano é rito de passagem. Ressoa em nosso inconsciente o alívio por terminar um ano de tantos reveses, perdas, sofrimentos; e celebrar conquistas, avanços e vitórias. Vivemos premidos pelo mistério.
Como as partículas subatômicas, somos regidos pelo princípio da indeterminação. Essa impossibilidade de prever o futuro suscita angústia, o que nos induz a tentar decifrá-lo por via da leitura dos astros e das cartas, da sabedoria de videntes, dos búzios de pais e mães-de-santo, da rogação aos nossos santos protetores.
Esta é uma paradoxal característica da pós-modernidade: em plena era da emergência da física quântica e da falência do determinismo histórico como ideologia, acreditamos que o nosso futuro está escrito nas estrelas. Daí a inércia, a indignação imobilizadora, a impotência diante dos escândalos éticos e do descaramento com que corruptos são absolvidos por seus pares, essa letargia que em nada lembra o que se deveria comemorar neste ano: os 40 anos de Maio de 1968.
Nos países industrializados, Maio de 68 é o paradigma da rebeldia, o grito parado no ar enfim sonorizado nas manifestações estudantis, os EUA derrotados pelos vietnamitas, os Beatles reinventando a canção, a moda subvertendo parâmetros, as mulheres a conquistar o direito de se apaixonar pela primeira vez inúmeras vezes, a castração do machismo, a emergência esotérica.
Do lado sul do planeta, os anos de chumbo, os generais metendo no coldre as chaves dos Parlamentos, a utopia dependurada no pau-de-arara, as rotas do exílio se multiplicando, os mortos e desaparecidos enterrados nos arquivos secretos das Forças Armadas. Ainda assim, havia sonho, e não era motivado pela ingestão química, brotava da fome de liberdade e justiça, fomentava o desejo irrefreável a adjetivar de novo a criatividade incensurável -o cinema, a bossa, a literatura, o tropicalismo. No passado, o futuro era melhor.
Hoje, imersos nessa sociedade da hiperestetização da banalidade, na qual as imagens contraem o tempo e a "web" virtualiza o diálogo na solidão digital, andamos em busca de uma razão de viver. Perdemos o senso histórico, trocamos os vínculos de solidariedade pela conectividade eletrônica, vendemos a liberdade por um punhado de lentilhas em forma de segurança. Em 2008, seremos chamados às urnas municipais. Haveremos de tentar discernir os idealistas dos arrivistas; os servidores públicos dos que se afogam no ego destilado na embriaguez dos aplausos; os movidos pela intransigência dos princípios éticos dos que miram os recursos do Estado como carniça fresca ofertada à sua gula insaciável.
Ano também de comemorar o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, para vergonha de nós, católicos, até hoje não mereceu a assinatura do Estado do Vaticano.
No Brasil, é hora de a declaração ser transferida do papel à realidade social. Em que pese a atuação corajosa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, é impossível celebrar conquistas em direitos humanos enquanto a polícia estigmatiza como suposto traficante o morador de favela; o Judiciário promove a orgia compulsória ao trancafiar mulheres em celas repletas de homens; indígenas e quilombolas são condenados à miséria por descaso das autoridades; a frouxidão da lei cobre de imunidade corruptos e de impunidade bandidos e assassinos.
Não basta o propósito sincero de fazer novo em nossas vidas o ano de 2008. É preciso mais: fazer novas as realidades que nos cercam, de modo que ocorram mudanças efetivas e a paz floresça como fruto da justiça. Feliz 2008, Brasil!
Frei Betto, em "Tendências e Debates", na Folha, hoje:
O QUE há de especial em trocar de ano? Nada, exceto a convenção numérica, invenção indo-arábica, que nos permite codificar o tempo em horas, minutos e segundos e estabelecer, segundo o movimento de nosso planeta em torno do Sol e as fases da Lua, calendários que repartem o tempo em ano de 12 meses, mês com cerca de 30 dias e dia com exatas 24 horas.
Ocorre que não somos trilobitas, e sim humanos, dotados da capacidade de imprimir ao tempo caráter histórico e, à história, sentido. Mudar de ano é rito de passagem. Ressoa em nosso inconsciente o alívio por terminar um ano de tantos reveses, perdas, sofrimentos; e celebrar conquistas, avanços e vitórias. Vivemos premidos pelo mistério.
Como as partículas subatômicas, somos regidos pelo princípio da indeterminação. Essa impossibilidade de prever o futuro suscita angústia, o que nos induz a tentar decifrá-lo por via da leitura dos astros e das cartas, da sabedoria de videntes, dos búzios de pais e mães-de-santo, da rogação aos nossos santos protetores.
Esta é uma paradoxal característica da pós-modernidade: em plena era da emergência da física quântica e da falência do determinismo histórico como ideologia, acreditamos que o nosso futuro está escrito nas estrelas. Daí a inércia, a indignação imobilizadora, a impotência diante dos escândalos éticos e do descaramento com que corruptos são absolvidos por seus pares, essa letargia que em nada lembra o que se deveria comemorar neste ano: os 40 anos de Maio de 1968.
Nos países industrializados, Maio de 68 é o paradigma da rebeldia, o grito parado no ar enfim sonorizado nas manifestações estudantis, os EUA derrotados pelos vietnamitas, os Beatles reinventando a canção, a moda subvertendo parâmetros, as mulheres a conquistar o direito de se apaixonar pela primeira vez inúmeras vezes, a castração do machismo, a emergência esotérica.
Do lado sul do planeta, os anos de chumbo, os generais metendo no coldre as chaves dos Parlamentos, a utopia dependurada no pau-de-arara, as rotas do exílio se multiplicando, os mortos e desaparecidos enterrados nos arquivos secretos das Forças Armadas. Ainda assim, havia sonho, e não era motivado pela ingestão química, brotava da fome de liberdade e justiça, fomentava o desejo irrefreável a adjetivar de novo a criatividade incensurável -o cinema, a bossa, a literatura, o tropicalismo. No passado, o futuro era melhor.
Hoje, imersos nessa sociedade da hiperestetização da banalidade, na qual as imagens contraem o tempo e a "web" virtualiza o diálogo na solidão digital, andamos em busca de uma razão de viver. Perdemos o senso histórico, trocamos os vínculos de solidariedade pela conectividade eletrônica, vendemos a liberdade por um punhado de lentilhas em forma de segurança. Em 2008, seremos chamados às urnas municipais. Haveremos de tentar discernir os idealistas dos arrivistas; os servidores públicos dos que se afogam no ego destilado na embriaguez dos aplausos; os movidos pela intransigência dos princípios éticos dos que miram os recursos do Estado como carniça fresca ofertada à sua gula insaciável.
Ano também de comemorar o 60º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que, para vergonha de nós, católicos, até hoje não mereceu a assinatura do Estado do Vaticano.
No Brasil, é hora de a declaração ser transferida do papel à realidade social. Em que pese a atuação corajosa da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, é impossível celebrar conquistas em direitos humanos enquanto a polícia estigmatiza como suposto traficante o morador de favela; o Judiciário promove a orgia compulsória ao trancafiar mulheres em celas repletas de homens; indígenas e quilombolas são condenados à miséria por descaso das autoridades; a frouxidão da lei cobre de imunidade corruptos e de impunidade bandidos e assassinos.
Não basta o propósito sincero de fazer novo em nossas vidas o ano de 2008. É preciso mais: fazer novas as realidades que nos cercam, de modo que ocorram mudanças efetivas e a paz floresça como fruto da justiça. Feliz 2008, Brasil!
E lá vem mais uma eleição...
Este é ano de eleições municipais. O assunto, com toda certeza, vai dominar a pauta midiática daqui pra frente. Os articulistas dos grandes jornais começaram a fazer suas previsões e projeções para a batalha de outubro.
Alguns dizem que 2008 será um teste para 2010, quando teremos eleições presidenciais. Outros não enxergam nenhuma relação entre os dois pleitos.
Eliane Cantanhêde, minha anta preferida da Folha, escreveu na "Pensata" da Folha Online que as eleições dete ano serão "um teste de força dos dois principais partidos [PT e PSDB], além de uma ocupação de espaços eleitorais que poderão ser bastante úteis na partida decisiva, em 2010."
Melchiades Filho, na Folha de hoje, diz que "Arrisca-se a quebrar a cara quem projeta efeitos das eleições municipais sobre a sucessão presidencial."
Um rápido olhar para as últimas eleições dá razão a Melchiades. Mas eleição nem sempre é uma equação simples. Há muitas variáveis difíceis de se prever e que podem interferir no processo, mudando definitivamente o rumo das coisas.
E enquanto esperamos outubro chegar, o melhor é nos divertirmos com a briga de ego dos analistas políticos. Cada um que quer ter mais razão do que o outro. No final, dá até pra brincar de jogo dos sete erros.
Alguns dizem que 2008 será um teste para 2010, quando teremos eleições presidenciais. Outros não enxergam nenhuma relação entre os dois pleitos.
Eliane Cantanhêde, minha anta preferida da Folha, escreveu na "Pensata" da Folha Online que as eleições dete ano serão "um teste de força dos dois principais partidos [PT e PSDB], além de uma ocupação de espaços eleitorais que poderão ser bastante úteis na partida decisiva, em 2010."
Melchiades Filho, na Folha de hoje, diz que "Arrisca-se a quebrar a cara quem projeta efeitos das eleições municipais sobre a sucessão presidencial."
Um rápido olhar para as últimas eleições dá razão a Melchiades. Mas eleição nem sempre é uma equação simples. Há muitas variáveis difíceis de se prever e que podem interferir no processo, mudando definitivamente o rumo das coisas.
E enquanto esperamos outubro chegar, o melhor é nos divertirmos com a briga de ego dos analistas políticos. Cada um que quer ter mais razão do que o outro. No final, dá até pra brincar de jogo dos sete erros.
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
"Ninguém pode explicar a vida num samba curto"
A Folha de hoje traz uma entrevista curta com o cantor e compositor Paulinho da Viola. Ele foi vítima de um assalto domingo passado (30/12), na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
O sambista respondeu às perguntas de Maria Luiza Rabello com a tradicional serenidade que lhe é peculiar.
A repórter quis saber quem Paulinho da Viola responsabilizava pelo cenário de insegurança.
"Olha, eu tenho pensado muito sobre isso e já me fizeram essa pergunta várias vezes. Há anos, leio, ouço e participo de inúmeras discussões sobre a questão da violência. Hoje eu não falo nada porque já se falou tudo. A gente bate na mesma tecla, é aquilo que todo mundo já sabe, tem vários especialistas debruçados sobre isso. Eu vou falar o quê? No que acrescentaria? Vou engrossar qual coro? Está tudo escancarado", respondeu ele.
Paulinho disse ainda que o pior é essa sensação de "uma certa descrença" diante de um "sistema viciado de todas as formas". "O que dizer quando você abre o jornal e vê, todo dia, uma parte da classe política da sua cidade envolvida em uma série de denúncias? Você vai falar o quê, para quem? Essa é que a sensação pior: uma certa descrença."
Por fim, o sambista disse que "o país não acabou". " Tenho um samba que diz "ninguém pode explicar a vida num samba curto". (...) Mas você percebe que há perplexidade, há um sentimento de insegurança, de desconforto, de impotência para alguns. Há quem diga que o país acabou, mas a gente sabe que não é assim."
O sambista respondeu às perguntas de Maria Luiza Rabello com a tradicional serenidade que lhe é peculiar.
A repórter quis saber quem Paulinho da Viola responsabilizava pelo cenário de insegurança.
"Olha, eu tenho pensado muito sobre isso e já me fizeram essa pergunta várias vezes. Há anos, leio, ouço e participo de inúmeras discussões sobre a questão da violência. Hoje eu não falo nada porque já se falou tudo. A gente bate na mesma tecla, é aquilo que todo mundo já sabe, tem vários especialistas debruçados sobre isso. Eu vou falar o quê? No que acrescentaria? Vou engrossar qual coro? Está tudo escancarado", respondeu ele.
Paulinho disse ainda que o pior é essa sensação de "uma certa descrença" diante de um "sistema viciado de todas as formas". "O que dizer quando você abre o jornal e vê, todo dia, uma parte da classe política da sua cidade envolvida em uma série de denúncias? Você vai falar o quê, para quem? Essa é que a sensação pior: uma certa descrença."
Por fim, o sambista disse que "o país não acabou". " Tenho um samba que diz "ninguém pode explicar a vida num samba curto". (...) Mas você percebe que há perplexidade, há um sentimento de insegurança, de desconforto, de impotência para alguns. Há quem diga que o país acabou, mas a gente sabe que não é assim."
segunda-feira, 31 de dezembro de 2007
Listinha para 2008
Todo mundo faz planos para o ano novo. Eu também fiz minha listinha para 2008:
Ler os livros que deixei pela metade;
Terminar de escrever minha monografia;
Comprar os dois cd's da Roberta Sá;
Ir ao teatro;
Assistir "A Bússola de Ouro" e "As Crônicas de Nárnia - O Príncipe Caspian";
Ir mais vezes à praia para caminhar na areia molhada e sentir a brisa que vem do horizonte distante;
Fazer caminhada;
Entrar na academia;
Pelo menos uma vez no ano, tomar vinho em noite de lua cheia;
Aprender a fazer outras sobremesas, além de mousse de maracujá;
Aprender a fazer outros pratos, além de lasanha de frango;
Exercitar a esperança, em busca da fé quase esquecida;
Ir à igreja mais vezes;
Falar menos - muito menos;
Ter menos expectativas em relação às pessoas;
Ler mais poesias;
Valorizar os momentos despretenciosos da vida;
Ouvir boa música;
Assistir menos televisão;
Refazer alguns laços perdidos;
Aproveitar mais o tempo ao lado da minha avó materna;
Gastar menos, economizar mais;
Rever velhos amigos;
Rir despretenciosamente;
Fazer um curso de inglês - outro de informática (photoshop, corel draw, entre outros);
Organizar minha agenda;
Dormir e acordar mais cedo;
Não postergar tarefas;
Viajar para Belo Horizonte;
Tomar banho de chuva;
Comer mais chocolate branco;
Comprar um chinelo novo;
Deixar meu cabelo crescer;
Jogar dominó;
Comer tapioca recheada de chocolate com uma bola de sorvete de creme;
Distribuir mais abraços;
Pagar as dívidas pendentes;
Pintar a casa;
Comprar um sofá pra sala e um armário pra cosinha;
Escrever aquele roteiro que tá na minha cabeça faz tempo;
Subir a Serra Barriguda (Alexandria);
Limpar as gavetas;
Reunir a turma pra ver um filme lá em casa e comer pipoca com guaraná;
Assinar a "Carta Capital";
Fazer natação;
Ir a um jogo do ABC no Frasqueirão;
Comprar uma camisa do Mengão;
Escrever um livro;
Plantar uma árvore.
O difícil é conseguir fazer tudo isso aí...
Ler os livros que deixei pela metade;
Terminar de escrever minha monografia;
Comprar os dois cd's da Roberta Sá;
Ir ao teatro;
Assistir "A Bússola de Ouro" e "As Crônicas de Nárnia - O Príncipe Caspian";
Ir mais vezes à praia para caminhar na areia molhada e sentir a brisa que vem do horizonte distante;
Fazer caminhada;
Entrar na academia;
Pelo menos uma vez no ano, tomar vinho em noite de lua cheia;
Aprender a fazer outras sobremesas, além de mousse de maracujá;
Aprender a fazer outros pratos, além de lasanha de frango;
Exercitar a esperança, em busca da fé quase esquecida;
Ir à igreja mais vezes;
Falar menos - muito menos;
Ter menos expectativas em relação às pessoas;
Ler mais poesias;
Valorizar os momentos despretenciosos da vida;
Ouvir boa música;
Assistir menos televisão;
Refazer alguns laços perdidos;
Aproveitar mais o tempo ao lado da minha avó materna;
Gastar menos, economizar mais;
Rever velhos amigos;
Rir despretenciosamente;
Fazer um curso de inglês - outro de informática (photoshop, corel draw, entre outros);
Organizar minha agenda;
Dormir e acordar mais cedo;
Não postergar tarefas;
Viajar para Belo Horizonte;
Tomar banho de chuva;
Comer mais chocolate branco;
Comprar um chinelo novo;
Deixar meu cabelo crescer;
Jogar dominó;
Comer tapioca recheada de chocolate com uma bola de sorvete de creme;
Distribuir mais abraços;
Pagar as dívidas pendentes;
Pintar a casa;
Comprar um sofá pra sala e um armário pra cosinha;
Escrever aquele roteiro que tá na minha cabeça faz tempo;
Subir a Serra Barriguda (Alexandria);
Limpar as gavetas;
Reunir a turma pra ver um filme lá em casa e comer pipoca com guaraná;
Assinar a "Carta Capital";
Fazer natação;
Ir a um jogo do ABC no Frasqueirão;
Comprar uma camisa do Mengão;
Escrever um livro;
Plantar uma árvore.
O difícil é conseguir fazer tudo isso aí...
domingo, 30 de dezembro de 2007
Mídia dará trégua a Lula em 2008?
Do blog do Luis Nassif:
Ano Novo, jornalismo novo?
Para um dia 30 de dezembro, a edição da “Folha” está muito boa. Independentemente da qualidade dos artigos, a edição da "Folha", assim como do "Estadão" e da "Veja", mostra a inflexão da mídia em relação a Lula e, principalmente, ao estilo tendencioso de fazer jornalismo.
O resultado desse estilo, pela grande mídia em geral, foi a total perda da credibilidade e da eficácia da crítica.
Depois da “Folha” e, agora, da “Veja” acenar com a “détente” vai ser interessante acompanhar o movimento pendular de alguns comentaristas.
Resta saber qual será o passo seguinte: se aprofundar a crítica não-tendenciosa (fundamental para aprimorar um governo cheio de defeitos e fragilidades), e voltar a fazer jornalismo, ou apenas jogo-de-cena para a próxima guerra santa ou ainda, se curvar à nova onda da opinião pública, e deixar de lado o viés crítico necessário.
Como a auto-crítica não é matéria prima abundante, não se espere uma avaliação isenta (ainda que interna) dos jornais sobre os profundos erros que comprometeram a imagem da mídia junto aos segmentos mais esclarecidos da população.
Não se espere que o “Globo” avalie como o estilo Ali Kamel jogou fora anos e anos de trabalho de Evandro Carlos de Andrade, para recuperar a credibilidade jornalística das organizações Globo. Ou a Abril se dê conta de como a indicação de diretores inescrupulosos e jornalisticamente desaparelhados para a Veja, assim como essa decisão inédita – para um órgão de grande imprensa – de contratar êmulos de Giba Um para fazer o trabalho sujo nos blogs, afetou profundamente a imagem da revista. Ou caia a ficha da “Folha” de como jogou fora todo um ativo de leitores de centro-esquerda, que levou décadas para ser formado.
Vamos ter jornalismo, daqui para frente? Lá sei eu. Em todo caso, ano novo, vida nova. E que se crie um jornalismo à altura dos desafios do Brasil.
Ano Novo, jornalismo novo?
Para um dia 30 de dezembro, a edição da “Folha” está muito boa. Independentemente da qualidade dos artigos, a edição da "Folha", assim como do "Estadão" e da "Veja", mostra a inflexão da mídia em relação a Lula e, principalmente, ao estilo tendencioso de fazer jornalismo.
O resultado desse estilo, pela grande mídia em geral, foi a total perda da credibilidade e da eficácia da crítica.
Depois da “Folha” e, agora, da “Veja” acenar com a “détente” vai ser interessante acompanhar o movimento pendular de alguns comentaristas.
Resta saber qual será o passo seguinte: se aprofundar a crítica não-tendenciosa (fundamental para aprimorar um governo cheio de defeitos e fragilidades), e voltar a fazer jornalismo, ou apenas jogo-de-cena para a próxima guerra santa ou ainda, se curvar à nova onda da opinião pública, e deixar de lado o viés crítico necessário.
Como a auto-crítica não é matéria prima abundante, não se espere uma avaliação isenta (ainda que interna) dos jornais sobre os profundos erros que comprometeram a imagem da mídia junto aos segmentos mais esclarecidos da população.
Não se espere que o “Globo” avalie como o estilo Ali Kamel jogou fora anos e anos de trabalho de Evandro Carlos de Andrade, para recuperar a credibilidade jornalística das organizações Globo. Ou a Abril se dê conta de como a indicação de diretores inescrupulosos e jornalisticamente desaparelhados para a Veja, assim como essa decisão inédita – para um órgão de grande imprensa – de contratar êmulos de Giba Um para fazer o trabalho sujo nos blogs, afetou profundamente a imagem da revista. Ou caia a ficha da “Folha” de como jogou fora todo um ativo de leitores de centro-esquerda, que levou décadas para ser formado.
Vamos ter jornalismo, daqui para frente? Lá sei eu. Em todo caso, ano novo, vida nova. E que se crie um jornalismo à altura dos desafios do Brasil.
Lula deveria ser escolhido personalidade do ano
Da seção “TENDÊNCIAS/DEBATES”, na Folha de hoje:
Lula pode fazer de 2008 um ano muito bom
ROGER NORIEGA*
A CADA ano, a venerável revista norte-americana "Time" escolhe um importante protagonista dos acontecimentos mundiais como "pessoa do ano". Ao explicar a seleção do presidente russo Vladimir Putin para essa distinção, em 2007, os editores de "Time" apontaram para o impacto dramático que o controverso líder exerceu ao restaurar a auto-estima de um país importante. Antecipando críticas à escolha do autocrata, eles admitem que Putin "representa, acima de tudo, estabilidade -estabilidade acima da liberdade, estabilidade acima da escolha...".
Nos termos dessa definição, uma seleção muito melhor como pessoa do ano teria sido Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da República Federativa do Brasil. Ao escolher Lula, "Time" não precisaria se desculpar por ter selecionado um autocrata, porque Lula é o "democrata" definitivo. Tendo em vista suas origens notavelmente humildes, ele fez uma contribuição à humanidade simplesmente por ter sido eleito.
Ao contrário do voluntarioso Putin, Lula conquista o sucesso ao provar que não é necessário sacrificar a liberdade em nome da estabilidade e que não existe motivo para ceder a liberdade política em troca de oportunidades econômicas. (...) O Brasil é um país respeitado e influente e serve de força propulsora à auspiciosa meta de integração sul-americana. Ainda que suas instituições não sejam perfeitas, ao contrário do que acontece na Rússia, elas vêm sendo reforçadas a cada dia.
O Brasil é uma das mais estáveis democracias mundiais, uma realização notável dado seu caráter multiétnico, sua diversidade geográfica e a grande proporção de sua população que continua vivendo na pobreza -motivos suficientes para que concedamos certa dose de respeito aos seus líderes.
Lula trabalhou nos limites de um processo livre e pluralista a fim de atingir sua meta de romper o ciclo de expansão e contração que afligia a economia brasileira havia gerações. Ainda que seja elogiado por ter mantido as políticas macroeconômicas "ortodoxas", sua maior contribuição está no reconhecimento de que o crescimento econômico e a justiça social são metas indispensáveis e complementares. Em lugar de recorrer a uma retórica populista vazia e divisiva, Lula está implementando programas práticos de combate à fome e à pobreza que vêm se tornando exemplos concretos para o resto do mundo.
Dados seus antecedentes como negociador sindical, Lula consegue observar a pessoa do lado oposto da mesa, avaliá-la e obter o melhor acordo para seu povo. O relacionamento pessoal inexplicável que estabeleceu com o presidente Bush pôs o Brasil como parceiro igual de Washington. Talvez o ponto mais forte de Lula seja que, diferentemente de Putin e de alguns dos líderes do setor de política externa do governo brasileiro, ele não considera que o relacionamento com os Estados Unidos seja uma questão definida em branco e preto. E sua persistência e autoconfiança representam o Brasil com perfeição.
Lula pode tornar a economia brasileira inabalável caso liberalize o mercado de trabalho, reforme o antiquado sistema tributário, dê incentivos ao setor de alta tecnologia e proteções dignas de um país de Primeiro Mundo à propriedade intelectual.
Ao fazê-lo, pode garantir que o Brasil concorra efetivamente pelo capital mundial necessário para sustentar um ritmo elevado de crescimento, gerar os milhões de empregos que representam a cura da pobreza e conduzir a economia brasileira a uma órbita mais elevada. Isso fará do Brasil um gigante industrial por direito próprio, em vez de um simples armazém de matérias-primas para a China.
Lula também pode resgatar sua política de comércio internacional das garras dos burocratas. Ele ocupa posição ideal para salvar um acordo mundial de comércio baseado em regras comuns, a fim de proteger os interesses das pequenas economias, pôr fim aos subsídios agrícolas que prejudicam os agricultores do Terceiro Mundo e gerar ampla prosperidade.
Por fim, Lula precisa encontrar uma maneira de domar os vestígios de corrupção que ainda afetam a maioria dos países da região. Um Estado de Direito é essencial a um governo responsável, à estabilidade política e a uma economia de mercado florescente. Não é tarde demais para enfrentar a praga da corrupção. Lula pode não ser um homem perfeito, mas é um bom homem. E mesmo a revista "Time" deveria reconhecer que um verdadeiro democrata e reformista é melhor que um autocrata superlativo -em qualquer lugar, em qualquer ano.
________________________________________
ROGER NORIEGA , diretor do escritório de advocacia Tew Cardenas e pesquisador visitante do American Enterprise Institute, foi secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental (2001-2005) e embaixador na Organização dos Estados Americanos.
Lula pode fazer de 2008 um ano muito bom
ROGER NORIEGA*
A CADA ano, a venerável revista norte-americana "Time" escolhe um importante protagonista dos acontecimentos mundiais como "pessoa do ano". Ao explicar a seleção do presidente russo Vladimir Putin para essa distinção, em 2007, os editores de "Time" apontaram para o impacto dramático que o controverso líder exerceu ao restaurar a auto-estima de um país importante. Antecipando críticas à escolha do autocrata, eles admitem que Putin "representa, acima de tudo, estabilidade -estabilidade acima da liberdade, estabilidade acima da escolha...".
Nos termos dessa definição, uma seleção muito melhor como pessoa do ano teria sido Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente da República Federativa do Brasil. Ao escolher Lula, "Time" não precisaria se desculpar por ter selecionado um autocrata, porque Lula é o "democrata" definitivo. Tendo em vista suas origens notavelmente humildes, ele fez uma contribuição à humanidade simplesmente por ter sido eleito.
Ao contrário do voluntarioso Putin, Lula conquista o sucesso ao provar que não é necessário sacrificar a liberdade em nome da estabilidade e que não existe motivo para ceder a liberdade política em troca de oportunidades econômicas. (...) O Brasil é um país respeitado e influente e serve de força propulsora à auspiciosa meta de integração sul-americana. Ainda que suas instituições não sejam perfeitas, ao contrário do que acontece na Rússia, elas vêm sendo reforçadas a cada dia.
O Brasil é uma das mais estáveis democracias mundiais, uma realização notável dado seu caráter multiétnico, sua diversidade geográfica e a grande proporção de sua população que continua vivendo na pobreza -motivos suficientes para que concedamos certa dose de respeito aos seus líderes.
Lula trabalhou nos limites de um processo livre e pluralista a fim de atingir sua meta de romper o ciclo de expansão e contração que afligia a economia brasileira havia gerações. Ainda que seja elogiado por ter mantido as políticas macroeconômicas "ortodoxas", sua maior contribuição está no reconhecimento de que o crescimento econômico e a justiça social são metas indispensáveis e complementares. Em lugar de recorrer a uma retórica populista vazia e divisiva, Lula está implementando programas práticos de combate à fome e à pobreza que vêm se tornando exemplos concretos para o resto do mundo.
Dados seus antecedentes como negociador sindical, Lula consegue observar a pessoa do lado oposto da mesa, avaliá-la e obter o melhor acordo para seu povo. O relacionamento pessoal inexplicável que estabeleceu com o presidente Bush pôs o Brasil como parceiro igual de Washington. Talvez o ponto mais forte de Lula seja que, diferentemente de Putin e de alguns dos líderes do setor de política externa do governo brasileiro, ele não considera que o relacionamento com os Estados Unidos seja uma questão definida em branco e preto. E sua persistência e autoconfiança representam o Brasil com perfeição.
Lula pode tornar a economia brasileira inabalável caso liberalize o mercado de trabalho, reforme o antiquado sistema tributário, dê incentivos ao setor de alta tecnologia e proteções dignas de um país de Primeiro Mundo à propriedade intelectual.
Ao fazê-lo, pode garantir que o Brasil concorra efetivamente pelo capital mundial necessário para sustentar um ritmo elevado de crescimento, gerar os milhões de empregos que representam a cura da pobreza e conduzir a economia brasileira a uma órbita mais elevada. Isso fará do Brasil um gigante industrial por direito próprio, em vez de um simples armazém de matérias-primas para a China.
Lula também pode resgatar sua política de comércio internacional das garras dos burocratas. Ele ocupa posição ideal para salvar um acordo mundial de comércio baseado em regras comuns, a fim de proteger os interesses das pequenas economias, pôr fim aos subsídios agrícolas que prejudicam os agricultores do Terceiro Mundo e gerar ampla prosperidade.
Por fim, Lula precisa encontrar uma maneira de domar os vestígios de corrupção que ainda afetam a maioria dos países da região. Um Estado de Direito é essencial a um governo responsável, à estabilidade política e a uma economia de mercado florescente. Não é tarde demais para enfrentar a praga da corrupção. Lula pode não ser um homem perfeito, mas é um bom homem. E mesmo a revista "Time" deveria reconhecer que um verdadeiro democrata e reformista é melhor que um autocrata superlativo -em qualquer lugar, em qualquer ano.
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ROGER NORIEGA , diretor do escritório de advocacia Tew Cardenas e pesquisador visitante do American Enterprise Institute, foi secretário-assistente do Departamento de Estado dos EUA para o Hemisfério Ocidental (2001-2005) e embaixador na Organização dos Estados Americanos.
Folha acusa universidades públicas de "perda de eficiência"
A Folha fez as contas e concluiu que enquanto o número de matrículas vem crescendo nas últimas décadas, houve queda de quase 10% no número de formados nas universidades públicas nos últimos dois anos. Os dados utilizados na matéria são do próprio Ministério da Educação.
De posse desses números, a Folha sentencia: "O resultado representa uma perda na eficiência nessas instituições, que são financiadas com recursos públicos."
A matéria aponta algumas causas da evasão: a necessidade de o aluno começar a trabalhar e o descontentamento com os cursos.
Para a Folha, a queda do número de formados nas universidades públicas representa um "prejuízo financeiro para o Estado". A preocupação da Folha é com o montante de recursos destinados às instituições públicas de ensino superior - R$ 1,7 bilhão para custeio em 2008.
A Folha ouviu um aluno da USP, que está ameaçado de ser jubilado, caso não se forme até dezembro de 2008. "Tem um pouco de relaxo, também. Como não pagamos mensalidade, ficamos menos pressionados a terminar rapidamente. Vejo que meus colegas em faculdade particular se esforçam mais", disse o rapaz.
Pelo que se infere do depoimento do aluno, a solução é cobrar mensalidade nas universidades públicas - que automaticamente deixariam de ser públicas.
A Folha também ouviu o presidente da Andifes (associação que reúne as universidades federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, para quem a diminuição do número de formados tem a ver também com o aumento do número de pobres que ingressaram na universidade.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros, alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de cidade. Muitos desistem", concluiu.
Então, a solução é combinar a cobrança de mensalidade com o impedimento da entrada de pobres na universidade.
A Folha ouviu ainda o ex-ministro da Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza, que negou que tenha havido falta de investimento nas universidades na sua gestão à frente do Ministério.
A matéria não fala nada sobre a proposta de reforma do ensino superior do governo federal, que está parada nas gavetas do MEC e foi duramente combatida pela mídia e pelas universidades particulares.
De posse desses números, a Folha sentencia: "O resultado representa uma perda na eficiência nessas instituições, que são financiadas com recursos públicos."
A matéria aponta algumas causas da evasão: a necessidade de o aluno começar a trabalhar e o descontentamento com os cursos.
Para a Folha, a queda do número de formados nas universidades públicas representa um "prejuízo financeiro para o Estado". A preocupação da Folha é com o montante de recursos destinados às instituições públicas de ensino superior - R$ 1,7 bilhão para custeio em 2008.
A Folha ouviu um aluno da USP, que está ameaçado de ser jubilado, caso não se forme até dezembro de 2008. "Tem um pouco de relaxo, também. Como não pagamos mensalidade, ficamos menos pressionados a terminar rapidamente. Vejo que meus colegas em faculdade particular se esforçam mais", disse o rapaz.
Pelo que se infere do depoimento do aluno, a solução é cobrar mensalidade nas universidades públicas - que automaticamente deixariam de ser públicas.
A Folha também ouviu o presidente da Andifes (associação que reúne as universidades federais), Arquimedes Diógenes Ciloni, para quem a diminuição do número de formados tem a ver também com o aumento do número de pobres que ingressaram na universidade.
"Mesmo que o curso seja gratuito, há gastos com transporte, livros, alimentação. Fica pesado, principalmente para os que precisam mudar de cidade. Muitos desistem", concluiu.
Então, a solução é combinar a cobrança de mensalidade com o impedimento da entrada de pobres na universidade.
A Folha ouviu ainda o ex-ministro da Educação no governo FHC, Paulo Renato Souza, que negou que tenha havido falta de investimento nas universidades na sua gestão à frente do Ministério.
A matéria não fala nada sobre a proposta de reforma do ensino superior do governo federal, que está parada nas gavetas do MEC e foi duramente combatida pela mídia e pelas universidades particulares.
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