sábado, 2 de junho de 2007

Carta Capital: de que lado a mídia está?

Capa da revista Carta Capital desta semana. Em pauta, o papel da mídia no atual cenário político brasileiro e da América Latina.



Cenas da Cidade



Cabana construída por morador de rua em frente a um prédio abandonado, na Av. Joaquim Manoel, ao lado do Harmony Medical Center, Petrópoles, um dos bairros mais nobres de Natal.

Chávez, RCTV, Congresso brasileiro e a mídia tupiniquim

Fiquei de longe só acompanhando a repercussão do caso da RCTV da Venezuela - a emissora que teve a sua concessão não renovada pelo presidente Hugo Chávez.

O artigo de Marcelo Salles do "Fazendo Média" traduz o que eu penso sobre o episódio e seus significados.

A mídia tupiniquim adotou o tom que já era esperado: acusaram Chávez de "ditador" e disseram que a "cassação" (quando o correto seria dizer "não-renovação") da concessão da RCTV representava um "golpe" contra a liberdade de imprensa. Alguém esperava que por aqui se dissesse outra coisa?

Não se disse que a RCTV participou ativamente do golpe fracassado, em abril de 2002, contra Chávez. A Folha referiu-se ao episódio como uma simples "tentativa de golpe".

Esse episódio é revelador da luta que se trava em torno do domínio da mídia - um bem público, mas que é regido pelo interesse privado.

Marcelo Salles escreve acertadamente que "quem controla a subjetividade, controla a hegemonia". Ele acrescenta que "os meios de comunicação de massa constituem a instituição com maior poder de produzir subjetividades".

Na Carta Capital desta semana, a matéria de capa ("A mídia faz política") traz um levantamento dos casos recentes na história da América Latina nos quais a mídia jogou do lado obscuro, ignorando as agora invocadas regras democráticas, aliando-se à golpistas.

"Foi o que aconteceu no Brasil, na preparação do golpe de 1964, ou no Chile, em 1973, quando os militares derrubaram o governo de Salvador Allende", escreve o repórter Giancarlo Summa.

Carta Capital mostra o que está em jogo: a mídia se transformou em um dos mais fortes "poderes de fato" da América Latina. A conclusão é apontada pelo relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2004, no capítulo "Democracia na América Latina".

Segundo os dados do relatório, expostos por Carta Capital, para a maioria das lideranças entrevistadas do continente, o verdadeiro poder é exercido, atualmente, não pelos governos ou partidos, mas pelos grupos econômicos e finaceiros em primeiro lugar (79,7% das respostas) e, em segundo lugar, pelos meios de comunicação (65,2%).

Ou seja, a briga é por poder e hegemonia - democracia é só pretexto. Chávez atingiu o coração do leão.

Por aqui produziu-se ainda outro episódio curioso sobre essa questão venezuelana. Na quarta-feira 30, o Senado brasileiro aprovou um requerimento do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) pedindo que o presidente Chávez devolvesse a concessão da RCTV.

Em resposta à intromissão brasileira em um assunto interno de seu país, Chávez retrucou acusando o Congresso brasileiro de estar a serviço do governo de Washington. Segundo a Folha de S. Paulo, Chávez disse que o Senado do Brasil agia como "papagaio" do Congresso americano.

"O Congresso do Brasil deveria se preocupar com os problemas do Brasil. O Congresso é dominado pelos movimentos e partidos da direita, que estão tentando que a Venezuela não entre no Mercosul."

Ainda segundo a Folha, Chávez disse que "é muito mais fácil que o império português [volte] a se instalar em Brasília do que o governo da Venezuela devolver a concessão à oligarquia venezuelana".

Depois vieram as repercussões à fala de Chávez. Representantes do governo e da oposiçao no Senado e na Câmara disseram que o preseidente venezuelano desrespeitou o Congresso brasileiro. Aí, em seguida, os adjetivos de praxe: "aprendiz de ditador", "tirano", "desorientado" etc.

O presidente Lula divulgou nota na sexta-feira 1, repudiando as críticas de Chávez e cobrando explicações do embaixador da Venezuela no Brasil.

Para o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, as declarações de Chávez causam "incômodo ou preocupação".

Neste sábado 2, Chávez disse que suas críticas ao Congresso brasileiro foram motivadas pelo "comunicado grosseiro" que o Senado emitiu, quando aprovou o tal requerimento pedindo que ele devolvesse a concessão da RCTV.

"O Congresso do Brasil emitiu um comunicado grosseiro que me obrigou a respondê-lo. Não aceitamos a ingerência de ninguém em nossos assuntos internos", disse Hugo Chávez, discursando para milhares de apoiadores do seu governo que marcharam hoje em Caracas, apoiando a não-renovação do contrato da RCTV.

Em outro trecho do seu discurso, Chávez mandou aqueles que o criticam por não renovar a concessão do canal RCTV "para o inferno".

"Vão para o inferno, representantes da oligarquia internacional. Nós mandamos vocês para o inferno daqui da ruas da liberdade, pelo povo livre da Venezuela", disse Chávez inflamado.

Triste é ver a posição do governo brasileiro nessa história toda.

É claro que o Congresso Nacional não tinha nada que aprovar requerimento nenhum para enviar ao presidente venezuelano.

Chávez não mentiu uma vírgula.

A reação dos senadores, posteriormente dos deputados federais, amplificada pela mídia, é a reação do rato com medo da ratoeira.

No Brasil, a Constituição proíbe que políticos e parentes próximos sejam proprietários de concessões de rádio e TV. Até o reino mineral sabe que o que mais tem por aqui é político dono de emissoras de rádio e televisão: José Sarney, Antônio Carlos Magalhães, José Agripino, só pra citar alguns exemplos.

Eles vão lá concordar que mexam no queijo deles?

Queria que Lula tivesse peito e fizesse o mesmo que Chávez fez: mandasse os críticos para o inferno e começasse não renovando as concessões de televisão que pertencem aos políticos brasileiros.

Acho que vou morrer e não vejo isso acontecer.

Quando o governo é acuado, Lula e o PT acusam a mídia de golpista. Mas nem Lula nem o PT têm coragem de abrir a caixa-preta das concessões de televisão no Brasil.

quinta-feira, 31 de maio de 2007

O episódio da RCTV

DIA HISTÓRICO PARA A HUMANIDADE

Por Marcelo Salles - salles@fazendomedia.com

Com a RCTV, cai também boa parte da credibilidade das corporações da mídia em todo o mundo. Seja a CNN, que falsificou imagens de protestos; sejam as agências de notícias ligadas a Washington ou as emissoras privadas da América Latina, que apoiaram o golpe na Venezuela em 2002. No Brasil, o ímpeto contra Hugo Chávez já coleciona distorções, meias verdades e mentiras inteiras.

Por exemplo, a primeira página da Folha de S. Paulo desta quarta-feira (30) registra que a concessão da RCTV foi "cassada" por Hugo Chávez. Não é verdade. A concessão terminou e não foi renovada; ela não foi cassada. A TV Globo, por sua vez, em praticamente todos os seus telejornais dá a entender que o governo venezuelano fechou a emissora arbitrariamente, comprometendo a liberdade de imprensa e a democracia.

Os demais veículos corporativos seguem pelo mesmo caminho. Com alguma dificuldade, assumem que houve um golpe de Estado contra Chávez, em abril de 2002. Mas, do jeito que noticiam, fica parecendo que o golpe surgiu por geração espontânea. Não apontam responsáveis, embora os conheçam. Não revelam a participação da CIA, embora existam provas fartas. Não oferecem, sequer, a versão do outro lado, conforme ensinam seus próprios manuais de redação. Naquela sexta-feira, 11 de abril de 2002, Arnaldo Jabor comemorou o golpe contra Chávez atirando bananas para o alto, em seu comentário para o Jornal Nacional. A revista Veja também ficou satisfeita: "cai o presidente falastrão", disse sua edição daquele final de semana.

Mas o que está por trás da atual campanha contra Hugo Chávez não é nem o presidente venezuelano em si. É também, mas vai além dele. Atravessa-o. O que está em jogo é o controle de um bem público que confere um poder nunca antes sonhado pelas elites. Hoje, na Era da Informação, o poder de produzir e transmitir imagens e palavras é a premissa básica para se alcançar todas as riquezas imagináveis.

Aquilo que os exploradores de hoje perceberam há pelo menos cinqüenta anos, só recentemente os movimentos sociais começaram a entender. O ponto chave é: quem controla a subjetividade, controla a hegemonia. Os meios de comunicação de massa constituem a instituição com maior poder de produzir subjetividades. Através de suas mensagens, determinam formas de pensar, agir, sentir e viver de toda uma comunidade, região ou país.

É por isso que as corporações da mídia, a serviço da exploração dos povos, articulam uma campanha sem precedentes contra Hugo Chávez. Porque ao não renovar a concessão de uma dessas corporações e, além disso, conceder seu controle a grupos populares, Chávez atinge substancialmente a fonte de poder daquelas corporações. Por isso o dia da não renovação da concessão da RCTV, 27 de maio de 2007, será lembrado como um grande avanço na história da humanidade.

A TV Globo, que apoiou a ditadura que seqüestrou, torturou e assassinou milhares de brasileiros - repito, milhares de brasileiros - agora acusa Hugo Chávez de violar a liberdade de imprensa. A Folha de S. Paulo, que emprestou automóveis para órgão da repressão, agora acusa Chávez de agredir a democracia. Estão desesperados. Porque o governo venezuelano abriu um precedente perigosíssimo para as classes exploradoras, mas belíssimo para todos que acreditam numa humanidade mais humana.

Neste mês de maio, vencem dezenas de outorgas de rádio e televisão no Brasil. São cinco da Globo, duas da Bandeirantes e uma da Record, sem contar as emissoras afiliadas. O levantamento foi feito pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação e pode ser lido aqui.

Em junho do ano passado, em plena Copa do Mundo, o presidente Lula assinou um decreto ilegal entregando novas concessões públicas de televisão digital para as mesmas empresas que já transmitem em sinal analógico. Se os movimentos sociais não quiserem continuar sendo massacrados pelas corporações de mídia, a hora de agir é agora. É preciso compreender a importância histórica desse momento e ir para as ruas. Movimento Negro, MST, MTST, Marcha das Mulheres, Estudantes acampados na USP e em outras universidades, professores, sindicatos, todos, sem exceção, precisam ir para as ruas e, mais que pressionar, precisam obrigar nossos representantes a não renovarem essas concessões e a anularem o decreto da televisão digital.

O que está acontecendo na Venezuela não é um ato isolado. São as conseqüências da falência das políticas neoliberais, que concentram as riquezas em poucas mãos e distribuem a miséria para a maioria. É possível reverter esse quadro, como o governo venezuelano está mostrando. Até porque o fracasso desse modelo derruba também a credibilidade de seus interlocutores, ou seja, das corporações da mídia. E um dos momentos mais lindos da história humana é quando os oprimidos deixam de acreditar nas palavras dos exploradores e se levantam, sem medo, dispostos a enfrentá-los.

Show dos Brazukas

A boa da noite desta sexta-feira (01/06) é o show d'Os Brazukas no Budda Pub em Ponta Negra, a partir das 23h.

O show vai ser especial, porque é aniversário do meu amigo Alberto, jornalista e integrante da banda.

Alberto promete que a noite vai ser de muitas surpresas. "Vem aí um momento Fundo do Baú", revelou ele.

É isso aí... tá dado o recado.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Cenas da Cidade


Flagrante de uma senhora recolhendo restos de legumes e verduras do lixo. O local é o depósito de lixo de um supermercado na Av. Coronel Estevam. A senhora mora ao lado do supermercado. A foto foi tirada com um celular.


segunda-feira, 28 de maio de 2007

Operação Navalha

Resumo da ópera: ao contrário do que indicam as provas, nenhum político acusado de integrar a quadrilha que fraudava licitações de obras públicas é culpado.

Como se sabe, os políticos brasileiros são conhecidos pela honestidade e pelo dom da sinceridade.

Todos são inocentes.

A TV nossa de cada dia

É o seguinte, galera... estou fazendo minha monografia sobre programas policiais; sendo mais específico, trata-se da análise do discurso dos programas policias da televisão local na abordagem da violência infanto-juvenil; sendo mais específico ainda, o foco do meu trabalho é o Patrulha da Cidade da TV Ponta Negra, apresentado pelo jornalista (?) Paulo Wagner.

Fuçando pela internet à procura de material para o meu trabalho, encontrei um vídeo no YouTube que mostra o nível do programa em questão. Prefiro não dizer mais nada. Vejam o vídeo e tirem suas conclusões.



P.S.: O Patrulha da Cidade é líder local de audiência.

domingo, 27 de maio de 2007

Na boca das tuas palavras

Achei o livro de Jean Sarkief lá na Siciliano e não resisti. De uma só vez, consumi as 207 páginas de poesia da melhor qualidade.

Alguns trechos pra vocês...

Resgate

Agora
recolho essas palavras
construo esse espelho
e espero que você diga algo...
Que me ensine a encontrá-lo
que me salve do silêncio


Agonia

Desde que se foi
você se tornou imenso
e não cabe no papel
nem na razão


Meus espinhos na boca

(...)
Quero a linguagem dos que sofrem e resistem,
dos que riem e choram,
dos que amam e vivem


De mim

Não espere muito
Entreguei meu coração
e isso é tudo