Na semana passada, o episódio do assassinato de três rapazes do Morro da Providência, no Rio de Janeiro, trouxe à tona a discussão sobre a atuação do Exército na Segurança Pública.
Os três jovens foram presos e entregues pelo tenente Vinícius Ghidetti, 25 anos, para serem torturados e mortos pela gangue Amigos dos Amigos - facção rival do Comando Vermelho, que domina a Providência. David, Marcos e Wellington, os rapazes assassinados, tinham, respectivamente, 17, 19 e 24 anos. Além do tenente, participaram da operação três sargentos e sete soldados.
Duzentos homens do Exército ocupavam a favela carioca desde 12 de dezembro do ano passado graças a um acordo entre os ministérios da Defesa e das Cidades para garantir a reforma de 780 casas, um projeto de R$ 16,6 milhões batizado de "Cimento Social" e idealizado pelo senador Marcelo Crivella (PRB). O ex-bispo da Igreja Universal é o líder nas pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições de outubro deste ano.
A cobertura da mídia sobre este caso se pautou pelo costumeiro cinismo. A mídia sempre defendeu a ocupação das favelas pelo Exército como única forma de combater o crime organizado nos morros. Depois da tortura e assassinato dos três jovens, a mídia descobriu que os militares, como denuncia Marcelo Salles do Fazendo Média, agridem, seqüestram, torturam e matam moradores daquela favela.
O cunho eleitoreiro do programa do senador Marcelo Crivela é tão flagrante que chega a ser constrangedor. A mídia se apegou a isso para justificar sua súbita mudança de postura e disfarçar o cinismo covarde.
Aproveitaram o episódio para atacar as obras que o PAC realiza nas favelas do Rio e do Brasil. Como diz Paulo Henrique Amorim, a mídia e a elite "preferem a remoção das favelas, ou, em última instância, que se ponha fogo nelas."
O que a mídia não disse, o cartunista Carlos Latuff sintetizou na imagem acima, que os moradores da Providência exibiram em forma de protesto.