sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Políticos em Apuros

Na última quarta-feira 12, acompanhos o desfecho do primeiro ato do espetáculo envolvendo o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente daquela Casa Legislativa e do Congresso Nacional. Renan foi absolvido pelos colegas senadores da acusação de ter utilizado recursos da construtora Mendes Júnior para pagar despesas com o aluguel e pensão alimentícia à jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. O placar foi de 40 a 35 a favor da absolvição - houve seis abstenções. Para aprovar a cassação, eram necessários 41 votos.

Nunca os versos da canção foram tão atuais: "Nas favelas, no Senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a Constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação". O que ocorreu quarta-feira no Senado demonstrou que Renato Russo, além do talento para traduzir em versos musicados a rebeldia e os sonhos da geração jovem da década de 1990, era um profeta social. Ele anteviu o lamaçal que tomaria conta daquele lugar de vetustos guardiões da República do Brasil. Imagino que se estivesse vivo para assistir a tão deprimente exibição de desfaçatez, Renato Russo, entre perplexo e atônito, novamente perguntaria: "Que país é este?".

Em seu discurso de defesa de Renan Calheiros, o senador Francisco Dornelles (PMDB-RJ), ex-secretário da Receita Federal e ex-ministro da Fazenda, disse que o seu colega teria, no máximo, cometido "crime contra a ordem tributária" e que isto não seria motivo suficiente para cassar-lhe o mandato. Este crime estaria configurado se ficasse provado que Renan "não tinha renda nem patrimônio suficientes para fornecer à Jornalista Mônica Velloso os recursos que lhe eram entregues", defendeu Dornelles. Para o ex-ministro de FHC, nem isto ficou provado. O cinismo transformara o transgressor da ética e do decoro em vítima.

Paulo Henrique Amorim disse em seu "Conversa Afiada" que "A absolvição de Renan Calheiros é a maior derrota da imprensa brasileira depois da reeleição do Presidente Lula". Para ele, a "perseguição" contra Rennan Calheiros tem intenções "golpistas", pois trata-se de um senador da base de apoio do presidente Lula e um nordestino. Anacronismo extremo. PHA parece aceitar o argumento recorrente de que devemos consentir com a transgressão pelo simples fato de que esta é uma prática amplamente disseminada. "Renan Calheiros cometeu todos os crimes que 99,9% dos políticos brasileiros cometem". PHA prega a banalização da ética e a tolerância com o crime.

Esta tolerância é um das nossas maiores chagas. Ela nos imobiliza e nos converte em cordiais espectadores da imoralidade da política brasileira - palco de alianças e práticas espúrias. Aceitamos irrefletidamente a máxima popular que apregoa que os fins justificam os meios. Frei Betto diz que aceitar isto é o mesmo que negar a ética. No artigo "Desafios Éticos", que escreveu para a revista "Caros Amigos" de novembro de 2003, ele afirma que a luta pelo poder na política burguesa faz com que o fim justifique os meios. O escritor refuta esta tese argumentando que "o grande desafio da política libertadora é basear-se numa ética libertadora".

O princípio da ética libertadora é que deve servir de base para avaliarmos "as implicações éticas das práticas políticas, sobretudo considerando que a política é o terreno das negociações, das alianças, dos acordos", acrescenta ele. Então, é o caso de fazermos outra pergunta: nossos homens públicos agem movidos por princípios ou por interesses? "O opressor age movido por interesses; o libertador, por princípios", sentencia Frei Betto.

Em "O império do Grotesco", os professores Muniz Sodré e Raquel Paiva narram outro episódio envolvendo senadores em apuros:

"Em abril de 2000, no auge da crise no Senado pela violação do painel eletrônico de votação [os então senadores José Roberto Arruda e Antônio Carlos Magalhães violaram o painel do Senado na votação que cassou o mandato do senador Luiz Estevam e renunciaram para não serem também cassados], o artista plástico Siron Franco levou para o Congresso uma escultura de dois metros e meio coberta de fezes, feitas de serragem. Batizada de "O que vi na TV", a obra ficou exposta por algumas horas aos olhares de parlamentares e estudantes. Uma menina de 13 anos interpretou o trabalho: "Representa o que tem lá dentro", disse, apontando para o Congresso. Enquanto isso, o jornal inglês Financial Times dizia que "se política, como prega o ditado, é um show business para gente feia, o Congresso brasileiro está promovendo uma performance que mistura teatro, novela e circo".

Este caso da violação do painel eletrônico e as recentes estripulias de Renan Calheiros e seus valiosos bois voadores mostram que a forma de fazer política da maioria dos políticos brasileiros é exatamente conforme a descrição da metáfora de Siron Franco - um excremento. Renan permanecerá por aí como ferida exposta, como cadáver em estado de putrefação moral. Espero apenas que um dia eu possa ecoar os versos de Mário Quintana: "Eles passarão, eu passarinho".

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Fragmentos

Repara o céu. As galáxias brincam de fazer redemoinhos. Há estrelas que não sei o nome.

Atenta para o dia. O sol também é um fingidor. Mas os solstícios deixam o arrebol mais belo.

Estradas de poeira e paisagens ladeadas de solidão embaraçam as direções a seguir. Meu coração não é só músculo.

Aqui e ali raream casas e palavras. O vento canta velhas canções.

Escassos sentidos. Não vejo. Não ouço. Não sinto. Minto.

O que finjo é uma sentença inacabada. O que lamento é a saudade desmedida. Há muros. Há vestígios de quimeras tristes - os castelos, os contos, as fadas.

Uma ligeira melancolia como uma frase enviesada. Ligo o rádio - nenhuma novidade. Mudo a estação. Os poetas não são mais tão criativos como outrora.

Decidi que vou compor uma canção antes de dormir. Não ligue se os versos forem cafonas e as rimas pobres.

Algo atravessa, em diagonal, o meu pensamento. O mesmo dia, duas vezes e uma única chance. Li isso na capa de um DVD pirata.

O sono está chegando. Tento em vão me concentrar nas últimas palavras.

FIM.

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Acesso de crianças em lan houses será disciplinado

O juiz José Dantas de Paiva da 1ª Vara da Infância e Juventude da Comarca de Natal editou uma portaria disciplinando o acesso de crianças e adolescentes em lan houses. A portaria entra em vigor no próximo domingo 16. O objetivo é evitar possíveis danos que a presença em excesso nesses locai pode causar na formação desse público. O tempo que crianças e adolescentes permanecem nessas casas de jogos em rede pode prejudicar o desempenho escolar e estimular o comportamento agressivo, tendo em vista que na maioria das vezes eles procuram esses lugares para se divertirem com jogos de extrema violência.

A portaria atinge também salas de cinema, vídeo e DVD. Os donos desses lugares devem afixar as informações sobre a natureza da diversão e sua respectiva classificação indicativa.

As medidas da portaria são as seguintes:

1. zelar para que crianças e adolescentes só tenham acesso aos jogos compatíveis com as suas respectivas idades, cuja classificação indicativa está no site do Ministério da Justiça (www.mj.gov.br);

2. proibir a aceitação de crianças e adolescentes com farda escolar, exceto quandoa companhadas dos responsáveis;

3. proibição expressa do acesso em estabelecimentos de diversões eletrônicas que também explorem, comercialmente, bilhar, sinuca ou ainda jogos de azar, como também que vendam bebidas alcoólicas ou produtos que possam causar dependência física ou psíquica.

As crianças que forem encontradas em desacordo com que diz a portaria serão encaminhadas aos pais ou responsáveis, que deverão assinar um termo de responsabilidade e comparecer a audiências e reuniões na 1ª Vara de Infância e Juventude de Natal.

Informações d'O Jornal de Hoje (11/09/2007)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

TV em excesso faz mal

Estudo afirma que assitir TV em excesso é prejudicial à saúde das crianças

Um estudo do pesquisador Erik Landhuis, da Universidade de Otago, em Dunedin (Nova Zelândia), publicado na revista americana Pediatrics avaliou mil jovens de 15 anos e comparou o tempo que ficavam na frente da tevê com a capacidade de se concentrarem.

Espantosamente, descobriu que quando esses adolescentes tinham entre 5 e 11 anos gastavam em média duas horas por dia assistindo à tevê. Entre os 13 e os 15 anos essa média subiu para três horas diárias, e foi o suficiente para aumentar em 40% os problemas de atenção.

Leia mais na Carta Capital: www.cartacapital.com.br

Crise na Saúde

A "crise na saúde" virou a bola da vez na mídia. Parece que descobriram somente agora o problema da falta de recursos na área.

O mais interessante é que só se fala na crise na saúde dos Estados do Nordeste.

Coincidência ou não, o Nordeste foi a região onde o presidente Lula foi mais votado nas eleições do ano passado. É estranho esse olhar repentino para os problemas na saúde pública desses Estados.

Seria essa a nova tentativa da mídia conservadora (e golpista!) - como diria Paulo Henrique Amorim - para derrubar o presidente Lula?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

A entrevista de Micarla no Repórter 98: "Amanhã é um dia bombástico"

A deputada Micarla de Sousa foi a entrevistada de hoje no Repórter 98.

Pelo menos em tese era para ser uma entrevista.

O apresentador do jornal, Robson Carvalho, começou perguntando o porquê do apelido de borboleta que identifica Micarla de Sousa.

Em seguida, ele entrou no assunto do momento da política natalense - a possível saída da deputada do Partido Verde, presidido por Micarla aqui no Rio Grande do Norte.

Foi aí que a coisa desandou. Robson, ao invés de entrevistar e deixar a entrevistada responder, falou mais que a própria Micarla, fazendo conjecturas e traçando cenários o tempo todo, sendo repetitivo com a finalidade única de conseguir alguma declaração enviesada para ser manchete dos jornais de amanhã.

Evidentemente, faz parte do trabalho do jornalista tentar extrair o máximo do seu entrevistado. Mas falar sem parar, igual a papagaio de pirata, não ajuda.

Micarla disse que está passando por um momento de insegurança, mas afirmou que não acredita em teorias da conspiração que visariam tirá-la do comando do PV no RN. Ela também comentou que, no momento, não pensa em mudar de sigla.

Mas deixou uma brecha: "Amanhã é um dia bombástico. Amanhã é outro dia". A menção do "dia bombástico" é uma referência ao 11 de setembro de 2001, quando os aviões comandados por terroristas islâmicos atingiram as torres gêmeas de Nova Iorque, matando milhares de pessoas.

Micarla estaria preparando alguma supresa para os natalenses?

Atenção, colegas jornalistas que transitam pela fofolítica, façam suas apostas!

Brasil Alfabetizado aplica apenas 15% da verba

O portal Contas Abertas informa que o programa Brasil Alfabetizado, criado para solucionar o problema do analfabetismo que atinge 16 milhões de brasileiros, convive este ano com a pior execução orçamentária desde 2003, quando foi criado pelo Governo Federal.

Segundo o site, em 2007, o governo cortou quase pela metade a verba prevista para ações do programa. Foram autorizados R$ 362,3 milhões, mas apenas 15% deste valor foram aplicados efetivamente.

A justificativa para a redução na liberação das verbas é que o governou descobriu fraudes na utilização do dinheiro.

Espera-se que o governo adote medidas eficazes de combate às fraudes e consiga coordenar o programa de forma a atender o seu principal objetivo, que é a erradicação do analfabetismo no país.

Cortar investimentos, certamente, não é o melhor dos caminhos para um país que convive com um déficit educacional imenso, como é o caso do Brasil.

Igreja Universal pede dinheiro para comprar rádios

Segundo matéria da Folha de São Paulo deste domingo, a Igreja Universal do Reino de Deus distribui carnês aos seus fiéis para que eles contribuam na ampliação da rede de rádio da igreja no país. O valor mínimo proposto a ser pago mensalmente é de R$ 20. O carnê tem 12 boletos.

A distribuição ocorreu na sexta-feira 7, durante "a maior sessão de descarrego do mundo", na praia de Botafogo, zona sul do Rio. De acordo com a Folha, 650 mil pessoas estiveram no evento.

O jornal informa que o carnê traz uma justificativa para convencer as pessoas a contribuirem: "A mídia é um canal valioso que a Iurd tem usado na propagação da Palavra de Deus, e o rádio é a principal ferramenta capaz de alcançar aqueles que moram nas mais distantes regiões".

Se isso não for exploração da fé é o que então? O mais incrível é que um grande número de pessoas se deixa iludir e dá dinheiro para Edir Macedo ampliar seu império de comunicação, sob a balela de que está "propagando o Evangelho".

Pai, eles não sabem o que fazem!

Diogo Mainardi faz escola

A colunista Eliane Cantanhêde da Folha de São Paulo está se revelando uma discípula aplicada de Diogo Mainardi da Veja.

Lula virou uma obsessão para ela - e a tentativa de derrubá-lo também. Eliane, assim como Mainardi, enxerga o dedo de Lula em tudo (de ruim) que acontece. E desconfia de tudo que ele diz.

A nova da colunista é que o presidente Lula é culpado pelas falcatruas do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan vai ser subemetido ao voto dos seus colegas senadores, que decidirão na próxima quarta-feira 12 se cassam ou não o mandato dele.

Eliane já avisou: "Lula está pronto para o que der e vier. Se Renan perder, dirá que não sabia, não tinha nada a ver com isso. Se ganhar e ficar no Senado, Lula arranjará um jeito de se fazer credor do PMDB."

É o estilo mainardiano de fazer jornalismo.

O jeitinho brasileiro

Este ano a Receita Federal passou a exigir que os contribuintes incluissem incluíssem, na sua declaração de renda, o CPF de seus dependentes maiores de 21 anos.

Sabe o que aconteceu? Cinco milhões de "dependentes" sumiram do mapa. Eram nomes que constavam nas declarações para fins de abatimento do imposto. Como não precisa informar o CPF antes, ficava fácil inventar esses dependentes.

Brasileiro tem "jeitinho" para tudo mesmo. E o povo ainda reclama da classe política.

domingo, 9 de setembro de 2007

Ele é o cara!

Luiz Gonzaga Belluzzo, futuro presidente do conselho curador da nova TV Pública do Brasil, deu entrevista para a Folha de São Paulo deste domingo (09/09).

Beluzzo é economista, filiado ao PPS e ex-secretário dos governos Sarney e Quércia (SP).

Ele disse que a nova TV Pública será uma "TV não estatal, apartidária, plural". Falando sobre o poder da mídia, Beluzzo disse se preocupar com os "movimentos unânimes" na mídia e que isto "não é bom". Ele deu como exemplo o julgamento dos acusados de envolvimento com o caso do "mensalão" no STF, quando houve grande pressão da mídia para que os juízes aceitassem a denúncia do Procurador Geral da República.

Para Beluzzo, a imprensa "simplificou" as coisas no julgamento do "mensalão". "Ficou uma coisa de bandidos contra mocinhos. O mundo não é assim. Vejo alguns colunistas que têm certezas tão graníticas. Fico muito surpreendido porque não tenho essa certeza."

Beluzzo disse que recebeu do presidente Lula o recado para que "levasse com a maior autonomia possível" a TV Pública. Ele defendeu um fundo para financiamento da TV e disse que a rede não pode disputar publicidade.

No geral, a entrevista foi boa. A Folha, como não poderia deixar de ser, aproveitou para atacar o PT mais uma vez. Fez perguntas que traziam implícitas acusações contra o partido do presidente Lula. Mas Beluzzo parece ter percebido a não caiu na estratégia.