quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Frase do dia

"Bancada é fim de carreira", diz Ana Paula Padrão"

A essência do jornalismo é a reportagem. No Brasil há uma inversão, uma glamurização da bancada, mas ela é vista em muitos lugares como fim de carreira", disse ontem Ana Paula Padrão em entrevista coletiva para anunciar sua saída do "SBT Brasil". Alguns ficaram incomodados no SBT com o comentário dela. Ana Paula também admitiu que ficou frustada com as mudanças de horário de seu telejornal.
Folha

terça-feira, 21 de novembro de 2006

O negro e o pedestre

De Clovis Rossi na Folha de S.Paulo, domingo, 19/11/2006:


"Fui quase a vida toda como 90% (ou mais?) dos motoristas brasileiros. Via no pedestre um estorvo a ser ultrapassado, jamais um ser com direitos até maiores, por estar "desarmado".


Só depois de dirigir umas quantas vezes na Europa, comecei a mudar (menos do que deveria, mas mudar, de todo modo). Lá, o rei é o pedestre. E o é menos por coerção legal ou policial e mais por imposição social. Lá, o motorista corre o risco de ser linchado (no mínimo, no mínimo, com um olhar, um palavrão ou um gesto tão eloqüente que dispensa palavras) se desrespeitar o direito de o pedestre cruzar primeiro a rua. Aqui, é o pedestre que corre o risco de ser atropelado se desafiar o motorizado.


Depois de dirigir na Europa, pavloviano como sou, passei a aplicar aqui as regras de lá. O resultado é absurdamente surpreendente: cansei de receber mesuras exageradas de agradecimento, sempre que deixava um pedestre cruzar tranqüilamente a rua. Fica claro que o pedestre brasileiro acha que eu estou fazendo um favor a ele, em vez de estar simplesmente respeitando um direito dele. Afinal, a faixa é "de pedestre", não de motorista, certo?


Dá a nítida sensação de que a coerção social, aqui, é a inversa: quem pode faz o que bem entende; quem não pode agradece quando o que pode faz o que deveria ser obrigação básica de civilidade. O direito vira concessão.


Conto tudo isso porque desconfio que é essa inversão a responsável, ao menos em parte, pela constatação feita na manchete de ontem desta Folha, segundo a qual a distância salarial entre brancos e negros é tanto maior quanto maior o nível de escolarização.


Ou seja, a "elite branca e má" (conforme Cláudio Lembo) atropela o "pedestre" até quando ele trafega na sua faixa (de escolaridade). Mais que preconceito, são vícios culturais arraigados."

Cresce número de negros nas universidades

De 1995 a 2005, percentual de negros e pardos no ensino superior aumentou de 18% para 30%, revela pesquisa do IBGE.


Inclusão foi maior a partir de 2001. Nos últimos cinco anos, entraram mais negros que brancos na rede pública; eqüidade chegará em 2015.

De ANTÔNIO GOIS na Folha de S.Paulo, segunda-feira, 20 de novembro:


"A desigualdade no acesso à educação entre negros e brancos no Brasil já foi comparada ao eletrocardiograma de um morto. Parecia imutável, dada a distância quase intransponível que separava esses dois grupos ao longo de quase um século. A mais recente Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE revela, no entanto, um dado alentador: na última década, o percentual de brasileiros que se declaram negros ou pardos no ensino superior subiu de 18% para 30%.


Dados dessa pesquisa tabulados pela Folha mostram que esse crescimento aconteceu principalmente a partir de 2001, quando o percentual era de 22%. De lá até 2005, a participação de negros e pardos cresceu a um ritmo médio de dois pontos percentuais ao ano. Se continuar assim, o Brasil chegará a 2015 com uma participação desses grupos na universidade compatível com a presença deles na população, que hoje é de 49%. Para um país em que até bem pouco tempo não via luz no fim desse túnel, não é pouca coisa.


O crescimento aconteceu tanto na rede pública quanto na particular. Ainda que tenha sido maior nesta última, na pública foi verificado um dado significativo: de 2001 a 2005, entraram mais negros e pardos (125 mil novos alunos) do que brancos (72 mil).Três hipóteses podem ser apontadas para explicar o aumento. A primeira é que, nos últimos dez anos, o sistema de ensino superior cresceu 174%.


A segunda é que foi a partir de 2001, ano da Conferência das Nações Unidas contra o Racismo, que universidades públicas, por iniciativa própria ou de governos estaduais, passaram a adotar políticas de ações afirmativas. Por último, desde 2005, o governo oferece bolsas em particulares preferencialmente para negros via ProUni.


Na avaliação de Simon Schwartzman, ex-presidente do IBGE e presidente do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade, o fator que mais contribuiu foi o crescimento das matrículas. Ele lembra que isso ocorreu também no ensino médio. Com isso, mais alunos se tornaram aptos a disputar mais vagas oferecidas principalmente pelo setor privado.


Para ele, as cotas explicam pouco a inclusão porque o ensino superior incorporaria esses alunos mesmo sem elas.


O economista da UFRJ Marcelo Paixão, coordenador do Observatório Afro-Brasileiro, concorda que a expansão das matrículas em todo os níveis foi fundamental. Ele discorda de Schwartzman, no entanto, ao defender que as políticas de ação afirmativas de cunho racial continuam sendo necessárias."Os dados da Pnad não permitem que a gente verifique como está a participação dos negros em cada curso, mas sabemos que há uma diferença enorme no acesso aos mais concorridos", diz Paixão.


De fato, pela Pnad não é possível verificar a participação em cada curso, mas isso pode ser avaliado pelo questionário socioeconômico do provão e de seu substituto, o Enade.Em 2003, esses dados mostravam que nos cursos de matemática, letras, pedagogia, história e geografia, o percentual de concluintes negros e pardos era sempre superior a 30%, chegando a 40% nesses dois últimos. No outro extremo, essa proporção era sempre inferior a 16% nas carreiras de direito, medicina, engenharia mecânica, odontologia e arquitetura, sendo o menor percentual nesta última (11%)."

No editorial da Folha de S.Paulo de hoje (21/11), o jornal manifesta aprovação às políticas afirmativas, mas condena as cotas. Segundo a Folha, as cotas raciais reforçam o preconceito e desconsideram o mérito acadêmico. A Folha defende políticas afirmativas focadas na desigualdade social, não racial.

A Folha desconsidera que os mais atingidos pela desiguldade social são justamente os negros.

Aqui mesmo em Natal, o Cefet já adota a política de reservar 5o% das vagas para alunos egressos de escolas públicas - que são, na sua maioria, negros, mulatos e mestiços.

Nada mais justo, tendo em vista que a maioria dessas vagas sempre ficava com aqueles que podiam pagar escolas particulares.

Parada Negra reúne 12 mil em São Paulo

De AFRA BALAZINA na Folha de S.Paulo, hoje:

"Uma parada e uma marcha reuniram ontem à tarde cerca de 12 mil pessoas, segundo a Polícia Militar, em comemoração do Dia da Consciência Negra, em São Paulo. A concentração foi no vão livre do Masp, e os manifestantes percorreram parte das avenidas Paulista e Brigadeiro Luís Antonio. A mobilização acabou na Assembléia Legislativa após cerca de duas horas de caminhada.Em 2005, não houve parada, e a marcha reuniu cerca de 1.500 pessoas. As organizações da Parada e da Marcha Negra disseram acreditar que 25 mil pessoas tenham participado da ação neste ano. A expectativa inicial era reunir 10 mil manifestantes. "Queremos mostrar que o povo negro de São Paulo não aceita mais discriminação racial", disse Dojival Vieira, do Movimento Brasil Afirmativo.
Na opinião de Flávio Jorge Rodrigues da Silva, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), a meta foi atingida. "Em razão do feriado, conseguimos trazer mais do que os militantes do movimento negro. Trouxemos as famílias, os vizinhos", afirmou.O feriado ocorreu também em outras 11 cidades do Estado de São Paulo e em mais 219 municípios brasileiros.
O dia é uma homenagem a um dos símbolos da resistência negra no país: Zumbi de Palmares. Em 20 de novembro de 1695, o líder do quilombo foi assassinado.
Entre as reivindicações do grupo estão a melhoria da escola pública e a adoção de cotas para negros em universidades, além da votação do Estatuto da Igualdade Racial.
O corredor Oscar de Moraes, conselheiro do parque da Independência, foi do Ipiranga (zona sul) à Paulista correndo. Depois, enquanto os manifestantes caminhavam, ele trotava na frente. "Fiz esse esforço para prestigiar a união do povo negro", disse.
À frente da marcha havia mulheres vestidas como baianas. Pequenos grupos tocavam instrumentos, jogavam capoeira e dançavam.
Conscientização
Foi a primeira vez que Célia Cipriano, proprietária de um escritório de contabilidade, integrou a marcha. "Acho que é importante para conscientizar a nós mesmos [negros] de que precisamos sempre lutar e não desistir nunca", afirmou.Paulistanos de diversas raças, além de estrangeiros, engrossaram a marcha.
"Vim prestar uma homenagem porque só tenho a agradecer à cultura negra", disse o produtor editorial Matias Constantino de Oliveira, 22, que é branco. "Sempre fui a favor do movimento negro. Resolvi aderir", disse a dona-de-casa Odelma Pereira da Silva, 59, também branca.
Emir Mourad, da Confederação Árabe Palestina, compareceu. "Somos contra qualquer forma de preconceito racial e étnico e queremos prestar solidariedade à população negra."Até a holandesa Marianne Jansen acompanhou a marcha. "Não temos esse tipo de manifestação em meu país. Um amigo brasileiro me trouxe e achei muito bonito", disse."