sábado, 16 de fevereiro de 2008

"Agripino Maia tem um problema doutrinário com a Democracia", diz PHA

A CPI mista dos cartões corporativos vem aí.

Dos 24 integrantes da CPI, 14 são da base que apóia o Presidente Lula.

Como manda a regra, o PMDB, maior partido do Senado, vai indicar o presidente da CPI. O PT, maior partido da Câmara, vai indicar o relator.

Segundo Paulo Henrique Amorim, o senador José Agripino Maia (RN), líder dos "demos", diz que não vai se "submeter a uma farsa".

PHA diz que "o senador tem um problema doutrinário com a Democracia", que "desde Aristóteles, é o regime da Maioria."

Acrescento que Agripino tem um sério problema também com a sua consciência - ou, melhor dizendo, com a falta de consciência.

Quem não o conhece, que o compre!

O duelo dos blogueiros continua

Pra não dizer que não falei de flores...

Recebi reclamações que eu só dou o ponto de vsita de Luis Nassif aqui no blog e não abro espaço pro Reinaldo Azevedo.

Tenho ojeriza a Reinaldo Azevedo. Um amigo e leitor deste blog me recriminou porque escrevi que "torcia" pelo Nassif contra Azevedo.

Talvez a expressão "torcer" não tenha sido mesmo adequada. Não é um jogo de apostas. O que eu quis dizer foi que, pela informações que tenho, Nassif parece bem mais confiável e respeitável.

Digo isso baseado na postura dele, no seu equilíbrio jornalístico (não faz a crítica pela crítica), nas idéias que ele defende e na coragem que ele tem de peitar a maior revista do país.

Depois que Nassif comeceu a revelar a verdadeira história da Veja, ele vem sendo alvo de pesadas acusações e tentativas de intimidação.

A Editora Abril, o diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, e o colunista do "Radar", Lauro Jardim, vão processar Luis Nassif.

Diogo Mainardi faz chantagens veladas em seu podcast no site da revista.

E Reinaldo Azevedo dispara sua metralhadora giratória verborrágica em seu blog.

Mesmo dando uma de "tô nem aí" e assim meio "sem querer querendo", Reinaldo optou pela ironia para dar uma "resposta" às acusações de Nassif contra a Veja.

Confira:

"Boa parte é provocação estúpida, mas até há alguns que falam de boa fé: “Vocês não vão responder a isso ou àquilo?”

Tudo será tratado nos foros adequados. E reitero: cada coisa a seu tempo, para que o conjunto não acabe transformando canalhas em vítimas. Vocês sabem: o vitimismo é um dos refúgios da bandidagem. “Ah, matei porque tive infância difícil”. “Ah, sou terrorista porque sou um resistente político”. “Ah, sou caloteiro porque sou muito esforçado”. “Ah, estão me processando só porque sou pequenino”. "Ah, achaquei porque quero o bem do Brasil".

Daqui a pouco, vai ter gente cobrando que a gente responda, sei lá, às críticas que Marcola faz ao sistema penal brasileiro, não é? Daqui a pouco, alguém vai dizer: “Você viu o que Fernandinho Beira-Mar disse? Não vai responder?”

Com adversarios respeitáveis, é possível haver interlocução, mesmo que dura. Bandidos têm de ser tratados como bandidos."

Esse é o estilo Reinaldo Azevedo.

Veja chama presidente do PT de "aloprado"

"Aloprados" foi como o presidente Lula se referiu às pessoas envolvidas com a suposta compra de um dossiê com acusões contra tucanos paulistas, nas eleições de 2006.

Na época, a mídia caiu em cima do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), acusando-o de ser o comandante da operação de compra do dossiê.

Berzoini afastou-se da presidência do partido. Retornou após as investigações revelarem que ele nada teve a ver com o imbrólio.

Mas para a Veja, Berzoini continua sendo um dos "aloprados" de Lula.

Na edição que chegou hoje às bancas, a revista entrevistou o deputado petista José Eduardo Cardoso (SP), que vai assumir a secretaria-geral do partido.

O deputado foi candidato à presidência do PT e defendeu a refundação do partido. Para isso, defendeu uma faxina geral no partido, com a expulsão dos corruptos e o fim das práticas de corrupção.

Veja perguntou ao deputado se não era uma contradição ele assumir a secretaria-geral "do partido presidido por um aloprado (Ricardo Berzoini) e com influência de mensaleiros."

O deputado tinha a obrigação de defender Berzoini, mas não o fez. Disse apenas que não havia nenhuma contradição, pois a executiva do partido é formada proporcionalmente por todas as correntes. Em suma, concordou com a Veja e chamou Berzoini, inocentado no inquérito policial, de "aloprado".

José Eduardo Cardoso, que mantém estranhas ligações com o banqueiro Daniel Dantas, queridinho da Veja, deu mais munição aos inimigos do governo e disse que o "mensalão" existiu de verdade - apesar de dizer também que a palavra "mensalão pode ter vários sentidos".

"Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade e temos de punir quem praticou esses atos e aprender com os erros."

É, com um secretário desse, que partido precisa de inimigo?!

FHC, pasmem, prega o "fim da roubalheira"

A notícia é do Estadão. O ex-presidente FHC esteve ontem num evento dos vereadores do PSDB em São Paulo e disse quais devem ser os temas para a campanha municipal deste ano.

FHC, logo ele, defendeu "o fim da roubalheira" como slogan para estas eleições.

É ou não é um grandissíssimo hipócrita?!

FHC, que hoje posa de baluarte da ética e da moral, é o mesmo que, quando presidente, comprou deputados e senadores para aprovar a emenda da reeleição.

Lamentável que alguém ainda leve esse senhor a sério.

As sete pragas de Natal

O jornalista Ailton Medeiros está fazendo uma eleição para escolher as sete pragas de Natal, em seu blog.

Até agora, a violência lidera com 67% dos votos.

Em segundo lugar aparace o trânsito da capital, com 56% dos votos.

A terceira coloção é ocupada pelo ABC, que ficou com 51% dos votos - todos de raivosos americanos.

Os Mais (49%) e os Alves (48%) também aparecem bem cotados.

Tem de tudo na enquete: os buracos da Caern, o transporte público, as putas de Ponta Negra, os camelôs, o carnatal, o América, os colunistas sociais, a UnP, a derrubada de árvores e até os Cavaleiros do Forró.

É só entrar lá e escolher as suas sete pragas.

São Francisco

Depois de Ciro Gomes, foi a vez do ministro Gedel Vieira Lima dar um 'chega pra lá' em artistas


Alguns artistas globais (que nunca souberam o que é ter que conviver com a seca) se aliaram ao bispo d. Luiz Cappio (que nunca soube o que é passar fome de verdade, mas fez duas greves para não comer) contra o projeto do governo federal de transposição das águas do Rio São Francisco, que vai levar água para 12 milhões de pessoas do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Na quinta-feira passada (dia 14), houve uma sessão especial no Senado para discutir o projeto da transposição do Rio São Francisco. Na audiência, estavam a atriz Letícia Sabatela e os atores Osmar Prado e Carlos Vereza, além do bispo d. Luiz Cappio.

Houve bate-boca entre Letícia e o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), ex-ministro da Integração Nacional e ferrenho defensor da transposição. A atriz desafiou o deputado e ouviu como resposta um baita de um 'chega pra lá'.

"Eu, ao meu jeito, escolhi a opção de meter a mão na massa, às vezes suja de cocô, às vezes, mas minha cabeça, não, meu compromisso, não", disse Ciro Gomes.

Em resposta ao bispo, que também discursou contra a transposição, Ciro Gomes disse que ele queria ser “intérprete superior do valor moral”.

Eu não estou movido por interesses subalternos. Eu estou, equivocadamente ou não, movido pelo mais superior interesse público. Eu não falo por Deus, falo pelo mundanismo dos pecadores como eu sou um deles”, falou um inspirado Ciro Gomes.

Ontem, foi a vez do atual ministro Gedel Vieira Lima dar o seu 'chega pra lá' na turma de globais e no bispo.

O ministro disse a Folha Online que o movimento de artistas contrários à transposição do Rio São Francisco não existe.

"Aqueles dois que estavam lá na audiência ontem? Eu nem vi", desdenhou o ministro.

O ministro se referia aos globais presentes na audiência de quinta-feira. Gedel Vieira Lima disse à Folha Online que Ciro Gomes discursou "com brilhantismo" ao responder à atriz Letícia Sabatela e ao bispo d. Luiz Cappio na audiência.

O ministro está me surpreendendo. Escrevi aqui antes que não acreditava que ele levaria a obra da transposição pra frente, porque, como se sabe, o ministro era contrário ao projeto no passado.

É, portanto, um "cristão novo" em matéria de apoio à transposição do Rio São Francisco. Feliz conversão.

Editora Abril vai processar Luis Nassif

A informação é do "Comunique-se". A Editora Abril vai entrar com um processo contra o jornalista Luis Nassif por danos morais.

Nassif é o autor da série "Dossiê Veja", publicada em seu blog no IG, onde ele conta as relações pra lá de perigosas da revista com o mundo comercial.

Eurípedes Alcântara e Lauro Jardim, dois integrantes do "Quarteto da Veja", já entraram com ações indenizatórias contra Luís Nassif.

Eurípedes é diretor de redação da revista e Lauro é colunista do "Radar".

Segundo o Comunique-se, a Veja não vai se manifestar publicamente sobre a série de matérias de Luis Nassif.

Nassif declarou ao Comunique-se que o silêncio da Veja é para não "jogar um farol" em cimas das denúncias.

Para Nassif, a falta de uma resposta corresponde à assinatura de um "termo de culpa".

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Deu na "The Economist"

Bolsa Família ganha o mundo

A revista inglesa The Economist publicou uma pesquisa do professor de economia da Universidade Federal de Alagoas, Cícero Péricles de Carvalho, sobre o impacto do Bolsa Família no Estado. O estudo do professor mostra que o Bolsa Família injeta quatro vezes mais dinheiro na economia de Alagoas do que a principal atividade agrícola do Estado, que é a cana-de-açúcar.

Confira a íntegra do artigo:

"FALE em globalização e as pessoas pensam em produtos cruzando o mundo do leste ao oeste enquanto dólares fazem o caminho inverso. Ainda assim, a globalização funciona com idéias também. Observe-se o programa de combate à pobreza BOLSA FAMÍLIA do Brasil, o maior em todo mundo nesta categoria. Conhecido no jargão de desenvolvimento como programa de “transferência de renda por condicionalidade”, ele foi moldado (em parte) sobre um programa similar do México. Após ser testado em larga escala em diversos países da América Latina, uma versão melhorada foi recentemente implementada em Nova York na tentativa de ampliar as oportunidades para crianças oriundas de famílias pobres. Membros do Governo Federal brasileiro estiveram no Cairo esta semana para ajudar o Governo Egípcio montar um programa similar. “Governos de todo o mundo estão observando este programa”, diz Kathy Lindert do escritório do World´s Bank em Brasília, que deve iniciar programas parecidos na Europa do Leste.

O Bolsa Família atua da seguinte maneira: nas famílias que recebem menos de 120 reais ($68) por pessoa ao mês, as mães recebem um benefício de até 95 reais com a contrapartida de que seus filhos freqüentem a escola e participem dos programas de vacinação do governo. Aos municípios cabe a compilação das informações de compatibilidade e atendimento às condicionalidades, mas os pagamentos são mantidos pelo Governo Federal Cada beneficiário recebe um cartão de débito para os pagamentos mensais, contanto que as condicionalidades sejam cumpridas; do contrário (após avisos) o pagamento é suspenso. Estima-se que 11 milhões de famílias recebam o benefício, o que equivale a um quarto da população brasileira.

No Estado nordestino de Alagoas, um dos mais pobres do Brasil, mais da metade das famílias integram o Bolsa Família. Das demais, a maioria recebe pensão do Estado. “É como a Suécia ensolarada”, diz Ícero Péricles de Carvalhos, um economista da Universidade Federal de Alagoas. Até certo ponto. Por volta de 70% da população de Alagoas é analfabeta ou sequer concluiu o ensino primário. A expectativa de vida é de 66 anos, seis abaixo da média brasileira. “Em termos de desenvolvimento”, diz Sérgio Moreira, o secretário de planejamento alagoano, “Alagoas está mais próximo de Moçambique do que partes do Brasil”. A compra de votos é ampla: vendeu-se votos na última eleição para Governador por 50 reais (em média). “Pessoas chegam até nós reclamando que venderam seus votos para um político e que ele não as pagou ainda”, diz Antônio Sapucaia, o presidente do Tribunal Eleitoral de Alagoas.

Enquanto garante ajuda imediata aos pobres, o Bolsa Família almeja um objetivo de longo prazo para encerrar esta cultura de dependência em garantir que as crianças recebam uma educação melhor que os seus pais. E já há alguns sinais encorajadores. A freqüência escolar aumentou em Alagoas, bem como em todo país, graças ao Bolsa Família e a um programa anterior chamado Bolsa Escola.

O programa também ajudou a pobre região nordeste a superar a média nacional de crescimento econômico. Isso auxiliou na redução da desigualdade de renda no Brasil. Ainda que apenas 30% da força de trabalho de Alagoas de 1,3 milhão de pessoas possua um emprego formal, mais de 1,5 milhão tinham celular no ano passado. “Os pobres estão vivenciado o crescimento chinês”, diz Aloizio Mercadante, senador por São Paulo, repetindo o orgulhoso discurso do Partido dos Trabalhadores que governa o país.

Procure com atenção e é possível também encontrar negócios disseminados por esta ampliação do consumo entre os pobres. Pedro dos Santos e sua esposa Dayse montaram uma fábrica de sabonete com 20 reais na sua casa em uma favela de Maceió, capital de Alagoas. Com a ajuda de micro-crédito eles aumentaram a produção diária para 2 mil barras de sabão em pedaços cor de mostarda. Ali perto, outro beneficiário de micro-crédito abriu uma loja de bebidas, lanches e doces. Na parede da loja uma lembrança que a política do Estado custará a mudar: um pôster de campanha eleitoral com o slogan “Collor: o Senador do povo”. Fernando Collor foi obrigado a renunciar como presidente do Brasil em 1992 após seu chefe de campanha comandar um esquema ilícito de tráfico de influência. Em seu Estado, porém, a carreira política do sr. Collor é próspera.

Apesar do sucesso imediato do Bolsa Família, três preocupações continuam. A primeira diz respeito à fraude. Como o dinheiro é pago diretamente ao cartão do beneficiário, há pouco controle esta saída de dinheiro. A questão é se os governos locais estão ou não apurando informações corretas e fiscalizando o cumprimento das condicionalidades. Em torno de 15% dos conselhos municipais afirmam de maneira improvável que 100% das crianças estão na escola 100% do tempo. Apesar disso, a maior parte do dinheiro vai para as pessoas certas: 70% vai para os 20% mais pobres, afirma o World Bank.

Segundo, algumas pessoas receiam que o Bolsa Família manter-se-á como um aspecto da sociedade brasileira, e não um implemento temporário para ampliar oportunidades. Se isso acontecerá ou não dependerá em grande parte de as escolas públicas brasileiras se desenvolverão de forma rápida para garantir ensino de qualidade. Desde o começo do programa em larga escala (2003) é ainda cedo para afirmar.

Terceiro, o Bolsa Família é associado com a compra de votos. Isso é injusto. O nome de Luiz Inácio Lula da Silva é fortemente associado ao programa – mesmo entre algumas pessoas de Alagoas que sequer sabem que ele é o presidente. Mas a gratidão deles não se estende ao PT. Há sinais que prefeitos que gerenciam bem o programa são agraciados nas eleições, o que não vale para aqueles que não administram bem o Bolsa Família. Por um relativamente modesto esforço (0,8% do GDP), o Brasil recebe um bom retorno. Se ao menos o mesmo pudesse ser dito de tudo mais com que o governo gasta."

César Maia

As lições das pesquisas eleitorais

O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia (DEM), que adora analisar pesquisas de opinião pública, escreve sobre a utilidade das pesquisas eleitorais em seu ex-blog.

Maia diz que "pesquisa muito antes da eleição é um sinal político importante", mas, acrescenta ele, "não é pesquisa eleitoral".

O prefeito também diz que sair na frente nas pesquisas não é garantia de vitória.

É bom prestar atenção nisso. Por aqui, costuma-se encarar pesquisa como resultado certo. A experiência mostra que não é bem assim.

Confira as "lições" de Maia sobre as pesquisas:

1. Entrem nos sites dos jornais -daqui e de alhures- de uns 9 meses atrás, e leiam o que diziam as pesquisas nos Estados Unidos. Hilary Clinton franca favorita entre os democratas. Romney, franco favorito entre os republicanos seguido de Giuliani. E leiam as mesmas pesquisas hoje nestes mesmos jornais.

2. Moral da historia: pesquisa muito antes da eleição é um sinal político importante. Ajuda a se entender melhor o ambiente político. Mas -garantidamente- não é pesquisa eleitoral. Eleição depende da PERFORMANCE das candidaturas. A pesquisa de meses antes informa de onde se parte. Mas nada garante sobre onde se chega. Nem sempre estar na primeira linha no grid de largada ajuda. Às vezes atrapalha.

3. Ghelen -diretor do BND -agência de informações- de Adenauer na Alemanha do final dos anos 50 e inicio dos 60 -dizia- coisas interessantes: a) não se pode ganhar uma guerra só com slogans; b) nunca beba na taça envenenada da contra-informação, pois é veneno letal; c) não desista nunca; d) uma infinidade de minúsculos detalhes podem -bem analisados- produzir inestimáveis informações; e) toda organização sólida deve ter uma corrente inquebrantável de... elos invisíveis; f) em vez de querer punir os derrotados, olhe para frente; g) uma vez traidor, sempre traidor; h) a discrição desconcerta o adversário; i) lembre o lema do serviço secreto britânico: -toda noticia é má noticia, mesmo que seja sobre nós; i) vai mal o líder que só quer ouvir boas noticias; j) nem sempre se atinge o adversário diretamente;procure saber o que faz a cabeça dele, e faça a cabeça de quem faz a cabeça dele: é muito mais eficiente. (Assim foi com o uso do Der Spiegel contra Strauss -ministro da defesa). ( Editora Bibliex).

Mais do mesmo

A obsessão pelos cartões corporativos continua.

Eu disse no post abaixo que a mídia, sedenta por produzir crises artificiais, trata todos os gastos com os tais cartões como suspeitos.

Todo dia tem um caso novo estampando as manchetes dos jornais, como se fosse mais um capítulo desta trama novelesca de escândalos fabricados sob encomenda.

A Folha de hoje traz uma reportagem sobre membros do PT que usam o cartão corporativo do governo federal.

Ocorre que estes membros do partido também ocupam cargos de confiança no governo.

Como a própria Folha admite, não há ilegalidade nenhuma na situação.

Então, qual a razão da "denúncia"?

Não há critério jornalístico que justifique a reportagem. O único objetivo é fazer o ataque gratuito ao PT.

"A dupla função é conseqüência do loteamento da administração federal", diz o jornal.

A Folha não quer que o PT tenha cargos de confiança no governo do PT.

É fantástico.

Ainda sobre os cartões

Eu tinha prometido pra mim mesmo não tocar mais neste assunto dos cartões de pagamento. A mídia elegeu o assunto como a bola da vez e, pelo visto, não vai largar o osso tão fácil.

Comentei lá atrás que o próprio governo deixou as coisas desandarem. O próprio presidente deveria ter falado à nação e explicado o que são e para que servem os cartões corporativos.

Deveria ter dito também que no governo passado os gastos eram maiores - o que, obviamente, não isenta de responsabilidade aqueles que usaram o cartão indevidamente agora. Mas serviria para efeito de comparação.

O presidente deveria ter dito ainda que o governo iria investigar e afastar qualquer servidor público que possa ter feito mau uso do cartão corporativo.

Já disse que não se deve relativizar a ética. Errou, tem que ser punido. A demissão da ministra Matilde Ribeiro foi acertada, porque ela própria reconheceu que fez besteira.

Mas a manipulação que a mídia faz em cima dessa história dos cartões é das mais inescrupulosas.
Agora todo gasto com cartão corporativo virou suspeito. Todo santo dia o assunto está nas manchetes dos jornais.

O jornalista Luciano Martins Costa se referiu ao caso como o "impasse da imprensa" no site do Observatório da Imprensa.

Para ele, vivemos o tempo do "jornalismo declaratório", no qual a imprensa vive de "repetir discursos e declarações de políticos".

Nestes dias, só se fala na CPI, que ainda nem começou a funcionar, para investigar o uso desses cartões corporativos.

Estão mirando cada vez mais no próprio presidente Lula. "Demos" e tucanos querem que as contas secretas da Presidência da República tornem-se públicas.

Nos tempos de FHC, ninguém falava nisso. Mas é assim mesmo, como diz o ditado: aos amigos, tudo; aos inimigos, a justiça.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dois integrantes do "Quarteto da Veja" ameaçam processar Nassif

O "Dossiê Veja", que Luis Nassif vem publicando em capítulos no seu blog, está deixando a turma da revista nervosa.

A Editora Abril divulgou uma carta na semana passada negando as acusações de Nassif contra a Veja.

Li no Blog do Rovai que dois integrantes do "Quarteto da Veja", Eurípedes Alcântara e Lauro Jardim, decidiram processar Luis Nassif.

Estranhamente, eles não pediram direito de resposta ao Nassif.

Rovai também diz que a Veja informou que não vai processar Nassif. Mas os dois funcionários da revista vão aos tribunais.

Para Rovai, trata-se de uma estratégia da revista, que vai usar seus jornalistas como laranjas.

Enquanto isso, Reinaldo Azevedo faz ameaças veladas ao Nassif em seu blog:

"Ah, sim! Sobre o meu silêncio no que diz respeito a determinado assunto, encarem como o prenúncio das tempestades. Ou, então, quando o mar recua – não este que vejo plácido lá fora, com as ardentias acesas, como em Castro Alves – para mandar o tsunami."

Essa história vai longe... eu fico aqui de longe, só vendo a água passar por debaixo da ponte...

Obama é o melhor para o Brasil

Pelo menos é isso que acha a maioria dos internautas que votaram até agora na enquete do site da revista Carta Capital.

A pergunta é: "Qual dos principais candidatos a ocupar a Casa Branca seria o melhor presidente para os interesses brasileiros?"

Barack Obama lidera com 68%, seguido de Hillary Clinton com 18% e o republicano John McCain com 12%.

É a tal da "Obamania".

Veja e a história do falso dossiê contra Lula

O novo capítulo do "Dossiê Veja", escrito por Luis Nassif, contando a verdadeira história da revista, está imperdível.

Nassif conta a história do falso dossiê de Daniel Dantas sobre supostas contas no exterior de "gente grande" do governo, inclusive do próprio presidente Lula.

Daniel Dantas entregou o falso dossiê ao diretor da revista Eurípedes Alcântara. O documento também foi entregue a Diogo Mainardi.

O repórter Márcio Aith investigou e descobriu que o dossiê era falso. Mesmo assim, a revista publicou a falsificação de Daniel Dantas como se fosse uma denúncia sólida.

Veja chegou a prever que o governo Lula estava "a caminho da desintegração".

Confira trechos do capítulo:

"Há um princípio básico de jornalismo: quando está configurado que a fonte tentou enganar o jornalista, é obrigação do jornalista denunciá-la. Eurípedes resistiu a divulgar o nome de Dantas. Houve discussão interna. Não havia como fugir do levantamento de Aith mas, por outro lado, Eurípedes queria defender o aliado.

Aith cedeu. De um lado, admitia-se que a fonte era Dantas. Mas foram tais e tantas as tentativas de salvar a cara do banqueiro, que a matéria transformou-se em um pterodáctilo, um bicho disforme e mal acabado.

O "prego sobre vinil" era claro.

Aith cometeu o erro de sua vida, concordando em assinar a matéria. Ganhou um boxe especial, cheio de elogios, e a primeira mancha grave na sua até então impecável folha de serviços jornalísticos. Veja não se limitava a apenas a “assassinatos de reputação” de terceiros, mas a destruir a reputação dos seus próprios jornalistas.

Começava pela capa. A chamada não mencionava dossiê falso. Pelo contrario, apresentava a falsificação como se fosse algo real:

“Daniel Dantas: o banqueiro-bomba. O seu arsenal tem até o numero da suposta conta de Lula no exterior"

A matéria não tinha pé nem cabeça. As investigações de Aith já tinham confirmado tratar-se de uma falsificação preparada por Dantas.

Mas o “lead” da matéria falava o contrario:

"O banqueiro Daniel Dantas está prestes a abrir um capítulo explosivo na investigação sobre os métodos da "organização criminosa" que se instalou no governo e o estrago causado por ela ao país".

O primeiro parágrafo inteiro, em vez de realçar o furo de Aith – a descoberta de que era um dossiê falso – dizia que:

"Na sessão, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) revelou o teor de um documento no qual o banco Opportunity, controlado por Dantas, diz ter sofrido perseguição do governo Lula por rejeitar pedidos de propina de "dezenas de milhões de dólares" feitos por petistas em 2002 e 2003. A carta, escrita por advogados de Dantas e entregue à Justiça de Nova York, onde o banqueiro é processado pelo Citigroup por fraude e negligência, é só o começo de uma novela que, a julgar pela biografia de Dantas, não se resume a uma simples tentativa frustrada de achaque".

Prosseguia a matéria:

"Para defender-se das pressões que garante ter sofrido do PT nos últimos três anos e meio, Dantas acumulou toda sorte de informações que pôde coletar sobre seus algozes. A mais explosiva é uma relação de cardeais petistas que manteriam dinheiro escondido em paraísos fiscais".

Ia mais longe:

"Além disso, Dantas compilou metodicamente não só os pedidos de propina como também as contratações e os pagamentos efetivamente feitos para tentar aplacar as investidas do atual governo sobre seus interesses. Se pelo menos uma parte desse material for verdadeira, o governo Lula estará a caminho da desintegração"

Esse tipo de menção ao poder terrível do banqueiro, era um convite ao achaque. Na mesma matéria, Veja justificava a publicação do dossiê como forma de prevenir achaques:

"Ao mesmo tempo, isso (a publicação do dossiê) impedirá que o banqueiro do Opportunity venha a utilizar os dados como instrumento de chantagem em que o maior prejudicado, ao final, seriam o país e suas instituições".

A conclusão final era risível:

"Por todos os meios legais, VEJA tentou confirmar a veracidade do material entregue por Manzano. Submetido a uma perícia contratada pela revista, o material apresentou inúmeras inconsistências, mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos".

Só então entrava no conteúdo das apurações de Aith.

A entrevista armada

Pior: em uma matéria em que Dantas era desmascarado como autor de documentos comprovadamente falsos, Eurípedes colocou um membro do quarteto ligado a Dantas – Diogo Mainardi – para permitir ao próprio banqueiro fazer sua defesa.

Não era uma entrevista normal. Sua leitura induzia qualquer leitor atento a concluir que as perguntas foram formuladas por quem respondeu. Cada pergunta levantava uma bola para o banqueiro bater em sua tecla de defesa: a de que seus problemas eram decorrentes de perseguição política – na mesma matéria em que se demonstrava que ele próprio recorria a dossiês falsos para achaques.

O nível do ping pong era da seguinte ordem:

POR QUE O GOVERNO QUERIA TIRAR O OPPORTUNITY DO COMANDO DA BRASIL TELECOM?

Porque havia um acordo entre o PT e a Telemar para tomar os ativos da telecomunicação, em troca de dinheiro de campanha.

A TELEMAR ACABOU COMPRANDO A EMPRESA DO LULINHA. POR QUE VOCÊS TAMBÉM NEGOCIARAM COM ELE? ERA UM AGRADO AO PRESIDENTE LULA?

Nós procuramos de todas as maneiras diminuir a hostilidade do governo.

O EX-PRESIDENTE DO BANCO DO BRASIL CÁSSIO CASSEB DISSE AO CITIBANK QUE LULA ODEIA VOCÊ.

Casseb disse também que ou a gente entregava o controle da companhia ou o governo iria passar por cima.

A entrevista assinada por Mainardi terminava apresentando Dantas como vitima de achacadores, e não como quem tinha acabado de produzir um dossiê falso, com o claro intuito de achacar:

"Agora releia a entrevista. Mas sabendo o seguinte: Daniel Dantas cedeu aos achacadores petistas. Ele e muitos outros".

Pelas informações que correram na época, o máximo que Aith conseguiu, como contrapartida ao fato de ter concordado em assinar aquele texto, foi uma matéria na edição seguinte, contando em detalhes como o dossiê chegou à revista: entregue pelo próprio Dantas ao diretor Eurípedes Alcântara. Eurípedes só cedeu porque percebeu que a falta de limites o colocara na zona cinza que separa a legalidade da ilegalidade.

De nada adiantou o escândalo, de nada adiantou saber da capacidade do banqueiro em inventar dossiês. A mídia estava completamente anestesiada. Mesmo com o absurdo dessa matéria, o quarteto de Veja continuou com autorização para matar.

As referências a informações e dossiês de Dantas, ao seu poder ameaçador, passaram a ser freqüentes nas notas de Lauro Jardim e Mainardi."

Paulo Coelho é "eclético"

Encontrei uma velha amiga ontem na universidade. Aproveitamos o percurso do circular pra falarmos amenidades.

Ela me disse que a nova gíria pra designar quem é do "babado" é dizer que a pessoa é "eclética".

Quase morri de rir. Eita povo criativo!!!

E não é que hoje, lendo a coluna da Mônica Bergamo na Folha, fiquei sabendo que Paulo Coelho, o mago, também é um eclético...

Diz a nota:

"Na biografia de Paulo Coelho, escrita por Fernando Morais e que será lançada em maio, serão muitas as linhas dedicadas à vida sexual do escritor. Entre outras revelações, a de que Coelho teve relacionamentos homossexuais -e a de que perdeu a virgindade com uma namorada num pedalinho da lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro."

Como se diz por aí, o mundo é eclético...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Beatriz

Homenagem àquela que arrematou meu coração.

Beatriz.

"Dossiê Veja" e a receita de como transformar bandido em herói

Luis Nassif publicou mais dois capítulos sobre a história por trás da história da revista Veja.

"Os primeiros serviços" narra como a revista atuou na defesa do banqueiro Daniel Dantas, acusado de espionar pessoas do governo federal e forjar um dossiê sobre as "contas secretas" de autoridades no exterior (inclusive do presidente Lula).

Nassif enfatiza que uma das estratégias de Daniel Dantas era mostrar que estava sendo vítima de perseguição política do governo federal.

Para provar sua tese, o banqueiro mirou na sociedade entre a Telemar e a Gamecorp, empresa de jogos eletrônicos do filho do presidente Lula.

Mais uma vez, Diogo Mainardi foi escolhido para falar no lugar de Daniel Dantas na Veja.

O colunista atacou os investimentos da Telemar na Gamecorp, sob o pretexto de que O BNDES do governo federal era um dos sócios da Telemar e, portanto, estaria provada a ingerência do governo no negócio, bem como a perseguição sofrida por Daniel Dantas, uma vez que a Telemar é concorrente da Brasil Telecom (controlada pelo fundo CVC-Opportunity, por sua vez, controlado pelo banqueiro peralta).

Em "O caso Edson Vidigal", Nassif procura demonstrar como a Veja atuou no "assassinato de reputação" do Ministro Edson Vidigal, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), para ajudar Daniel Dantas.

É que o ministro Edson Vidigal havia dado uma liminar que permitiu aos fundos de pensão e ao Citibank retomar o controle da Brasil Telecom das mãos de Daniel Dantas.

O Citibank havia entrado com uma ação de perdas e danos contra Dantas na corte de Nova York.

Daniel Dantas tentou impedir a realização da Assembléia Geral Extraordinária do CVC-Opportunity, que iria destituí-lo do controle da Brasil Telecom.

Mas o ministro Edson Vidigal cassou a liminar que impedia a realização desta assembléia.

Depois disso, o presidente do STJ passou a ser o alvo de Daniel Dantas e da revista Veja.

O banqueiro disse que o governo havia pressionado o ministro para favorecer os fundos de pensão na briga pela telefônica Brasil Telecom.

A íntegra dos dois capítulos está disponível no Blog do Nassif, no Portal IG.

TV e eleições

Em seu ex-blog, o prefeito de Rio de Janeiro, César Maia, transcreve trechos do artigo de Karl Rove, publicado no Wall Street Journal, em 31/01/08, que trata do uso da TV nas campanhas eleitorais, especialmente nas primárias americanas deste ano.

Karl Rove foi coordenador de marketing da campanha de George W. Bush e é hoje vice-chefe da Casa Civil do presidente.

Confira os trechos do artigo:

1. Os comerciais políticos de televisão não têm a mesma importância do que antes. Entrar no ar com os primeiros e mais numerosos anúncios não conta tanto quanto anteriormente. Fazer campanha este ano tem sido algo tão intenso, tão longo e direcionado em relação à política de varejo que as pessoas – principalmente nos primeiros estados – formam opiniões que são difíceis de alterar com uma publicidade prematura e volumosa.

2. Os eleitores estão desprezando a publicidade. Eles podem estar bloqueando os anúncios, contando mais com a exposição pessoal, informações de redes sociais, fontes alternativas de informação, tais como o rádio e a Internet, e cobertura local pela mídia.

3. As décadas que fecharam o século XX viram a ascensão da publicidade de TV como o fator mais poderoso das campanhas presidenciais. A década que abre o século XX está assistindo à ascensão do diretor de comunicações e do porta-voz de imprensa como as figuras mais importantes de uma equipe de campanha. Trata-se da era da Internet, da TV a cabo, do YouTube, de ciclos múltiplos de notícias em um dia, e da necessidade de respostas realmente instantâneas. Os comerciais na TV, e os que os fazem, ainda são importantes – mas nem tanto como apenas como há poucos anos.

4. Podemos ficar certos de uma coisa: Os candidatos que saem vitoriosos, mesmo que sejam imperfeitos, têm uma admirável coragem e desembaraço.

Comentário

No Brasil, a televisão ainda ocupa lugar central na disputa eleitoral. Ao contrário do que aponta Karl Rove, que a propaganda politica não tem mais tanto impacto sobre o voto do eleitor nos EUA, aqui essa propaganda é a menina dos olhos dos candidatos.

Partidos fazem coligações pra ter direito a mais espaço na televisão. Mais espaço, via de regra, se traduz em mais votos.

A televisão tem o poder de transformar nobres desconhecidos em heróis nacionais.

Foi assim que Fernando Collor se tornou presidente.

Foi assim também, através da televisão, que Geraldo Alckmin se tornou conhecido nacionalmente e chegou ao segundo turno das eleições em 2006.

O marketing televisivo eleitoral é a principal arma dos candidatos, que são oferecidos ao eleitor como um produto pronto pra ser consumido.

O eleitor, seduzido por este "candidato-produto", vota porque foi conquistado pela propaganda mais eficiente. Pouco importa o "conteúdo" deste "produto".

As primárias americanas, que vão definir o candidato republicano e o democrata para presidente daquele país, mostram que os eleitores de lá escolhem seu candidato pelo programa de governo dele, pelo espectro do campo ideológico ocupado por este candidato e pela confiança que ele inspira.

Os americanos querem saber o que o candidato pensa sobre temas importantes, como imigração, protecionismo agrícola, política econômica, terrorismo, entre outros.

No Brasil, o candidato faz de conta que é uma coisa e o eleitor faz de conta que acredita naquilo que ele vê na televisão. É o pacto da mediocridade.

Os termos conservador, liberal, progressista ou nacionalista não dizem nada ao eleitor médio brasileiro.

O resultado é o samba maluco que estamos acostumados a ver. Em 2002, os brasileiros elegeram Lula pra mudar o país. Mas esqueceram que o presidente precisa de maioria pra governar e elegeram um Congresso Nacional conservador.

Aí quando estoura o "mensalão", suposto artifício do governo pra obter maioria parlamentar e fazer as mudanças que o povo esperava que fossem feitas, o brasileiro fica escandalizado.

O sistema político barsileiro é um verdadeiro Frankstein.

A televisão, criada como projeto de integração nacional e elemento definidor da nossa identidade enquanto povo, é o cérebro desse monstrengo.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Dossiê Veja: o quarteto fantástico

Luis Nassif publicou ontem mais um capítulo do seu "Dossiê Veja".

No capítulo anterior, ele havia narrado os ataques da revista ao banqueiro Daniel Dantas.

Neste novo relato, Nassif revela a mudança de postura da Veja em relação ao dono do Opportunity.

Dantas aproximou-se da revista e passou a contar com o quarteto formado por Eurípides Alcântara, Mário Sabino, Lauro Jardim e Diogo Mainardi na sua defesa.

Diogo, segundo relata Nassif, passou a desempenhar o papel mais ostensivo. A mudança começou em 15 de junho de 2005.

Nassif fala sobre o papel de Mainardi:

"Mainardi havia começado a ganhar destaque por subir vários tons nas ofensas contra Lula e também pelo uso de dramas familiares como tema de colunas – o que despertara simpatia em parte do público da Veja.

Adversário de Dantas, Nelson Tanure tentou levá-lo para o Jornal do Brasil. Veja acabou cobrindo a proposta, praticamente dobrando o salário de Mainardi.

Não sei a razão objetiva desse assédio. Poderia ser o fato de Mainardi ter mostrado ser o "colunista sela” –nome que se dá ao colunista pouco informado que se deixa "cavalgar" pela fonte, tornando-se mero repassador de recados, em troca da repercussão que as notas proporcionam. Pelo menos no início, deveria ser esta a lógica que consolidava a parceria.

O fato é que os os lobistas perceberam em Mainardi um colunista em disponibilidade. Além disso, seu próprio papel de “para-jornalista” na revista – papel que, na “Folha”, é exercido com muito talento por Zé Simão; no “Globo”, por Agamenon Mendes Pedreira – rompia com os limites do jornalismo e abria campo amplo para divulgar qualquer informação que lhe fosse entregue, mesmo sem a necessidade sequer de um simulacro de apuração jornalística. E Mainardi se revelaria com falta de escrúpulos suficiente para cometer qualquer assassinato de reputação que lhe fosse encomendado.

Naquele período, figura tipicamente carioca que transita por esses ambientes teve alguns almoços com Mainardi e me contou a impressão que ele lhe passou.

Pessoalmente tímido até o limite de não levantar os olhos para encarar o interlocutor; escassa informação em política, história e, especialmente, sobre o intrincado mundo dos negócios e das disputas empresariais. Mas ávido pelas benesses que a exposição jornalística trazia.

Obviamente nenhum colunista iria enveredar tão ostensivamente pelo mundo das guerras corporativas e "assassinatos de reputação" se não tivesse respaldo de sua chefia maior.

O acerto de Veja com Mainardi foi precedido de uma aproximação entre Eurípides e Dantas, intermediada por Lauro Jardim.

A partir de então, Eurípides passou a ter ligação direta com o banqueiro. Conversam corriqueiramente, sem prejuízo dos contatos de Dantas com Jardim e Mainardi. O diretor abria espaço por cima; os colunistas entravam com a mão de obra.

E aí, de trio, se passava para o quarteto de Veja que, dali por diante, entraria de cabeça na campanha a favor de Dantas: Eurípides Alcântara, Mário Sabino, Lauro Jardim e Diogo Mainardi.

Nos meses seguintes, ocorreria uma mudança radical no tratamento dado pela revista àquele que, segundo ela própria, tinha por hábito grampear, montar dossiês falsos e comprar jornalistas."

A mudança de tratamento dado a Daniel Dantas significou também o início dos ataques da revista ao ministro Gushiken - inimigo de Dantas dentro do governo federal.

"De vítima de Dantas, Gushiken começava, a partir de então, a se tornar seu algoz, de acordo com a construção jornalística que Veja começou a montar."

Leia a íntegra do "Dossiê Veja" no Blog do Nassif no portal IG.

As cadeias de Minas

(Bruno Magalhães/Agência Nitro/Folha Imagem)

No dia 31 de janeiro, a organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW) divulgou um relatório sobre a violação de direitos humanos no mundo, no qual destacou "as condições subumanas, violência e superlotação que historicamente caracterizaram as prisões brasileiras".

A reportagem da Folha de São Paulo deste domingo, sobre a situação das cadeias de Contagem e Ouro Preto, em Minas Gerais, ilustram perfeitamente o que afirma o relatório da HRW.

O repórter João Carlos Magalhães esteve nas carceragens das duas cidades e relata um quadro pavoroso, de absoluto descaso com os direitos humanos: 50 homens (onde deveria haver apenas seis) dividindo um cubículo de 30 metros quadrados com baratas, ratos e lacraias.

Há também doentes com sarna, rubéola e ferimentos que "surgem do nada", como o homem que exibiu ao repórter, segundo descrição dele próprio, uma ferida de bordas arroxeadas e cheia de pus.

"Apenas alguns minutos foram suficientes para sentir o odor de suor, urina e fezes e verificar a situação de homens que nunca tomam banho de sol. Para caberem todos, é preciso ficar de pé o tempo todo. Quem se senta dorme em meio a ratos e lacraias. Histórias desumanas contadas pelos presos, como a de um homem espancado que teve o cadáver comido por ratos, são confirmadas por policiais. Não há médicos e o abandono chega ao extremo de o porteiro ser um dos próprios detentos, em regime semi-aberto", diz um trecho da reportagem.

Há fiações expostas e vazamentos nas celas. O risco de incêndio é grande. De acordo com a Folha, não havia extintores em condições de uso.

Os presos têm que dormir sentados e se revezam para ficar em pé. Eles contaram ao repórter do jornal que a comida, fornecida em marmitas, muitas vezes é estragada.

Ainda segundo o relato do repórter da Folha, "o ambiente úmido e o chão imundo -os esgotos estavam entupidos e o "banheiro" era um buraco no chão isolado por um saco de lixo estendido - abriram caminho para variadas infecções."

O secretário da Defesa Social de Minas, Maurício Campos Júnior, deu uma declaração cínica, dizendo que as cadeias mineiras passam por um "processo acelerado" de melhorias.

O governador Aécio Neves (PSDB) não se pronunciou.