Em seu ex-blog, o prefeito de Rio de Janeiro, César Maia, transcreve trechos do artigo de Karl Rove, publicado no Wall Street Journal, em 31/01/08, que trata do uso da TV nas campanhas eleitorais, especialmente nas primárias americanas deste ano.
Karl Rove foi coordenador de marketing da campanha de George W. Bush e é hoje vice-chefe da Casa Civil do presidente.
Confira os trechos do artigo:
1. Os comerciais políticos de televisão não têm a mesma importância do que antes. Entrar no ar com os primeiros e mais numerosos anúncios não conta tanto quanto anteriormente. Fazer campanha este ano tem sido algo tão intenso, tão longo e direcionado em relação à política de varejo que as pessoas – principalmente nos primeiros estados – formam opiniões que são difíceis de alterar com uma publicidade prematura e volumosa.
2. Os eleitores estão desprezando a publicidade. Eles podem estar bloqueando os anúncios, contando mais com a exposição pessoal, informações de redes sociais, fontes alternativas de informação, tais como o rádio e a Internet, e cobertura local pela mídia.
3. As décadas que fecharam o século XX viram a ascensão da publicidade de TV como o fator mais poderoso das campanhas presidenciais. A década que abre o século XX está assistindo à ascensão do diretor de comunicações e do porta-voz de imprensa como as figuras mais importantes de uma equipe de campanha. Trata-se da era da Internet, da TV a cabo, do YouTube, de ciclos múltiplos de notícias em um dia, e da necessidade de respostas realmente instantâneas. Os comerciais na TV, e os que os fazem, ainda são importantes – mas nem tanto como apenas como há poucos anos.
4. Podemos ficar certos de uma coisa: Os candidatos que saem vitoriosos, mesmo que sejam imperfeitos, têm uma admirável coragem e desembaraço.
Comentário
No Brasil, a televisão ainda ocupa lugar central na disputa eleitoral. Ao contrário do que aponta Karl Rove, que a propaganda politica não tem mais tanto impacto sobre o voto do eleitor nos EUA, aqui essa propaganda é a menina dos olhos dos candidatos.
Partidos fazem coligações pra ter direito a mais espaço na televisão. Mais espaço, via de regra, se traduz em mais votos.
A televisão tem o poder de transformar nobres desconhecidos em heróis nacionais.
Foi assim que Fernando Collor se tornou presidente.
Foi assim também, através da televisão, que Geraldo Alckmin se tornou conhecido nacionalmente e chegou ao segundo turno das eleições em 2006.
O marketing televisivo eleitoral é a principal arma dos candidatos, que são oferecidos ao eleitor como um produto pronto pra ser consumido.
O eleitor, seduzido por este "candidato-produto", vota porque foi conquistado pela propaganda mais eficiente. Pouco importa o "conteúdo" deste "produto".
As primárias americanas, que vão definir o candidato republicano e o democrata para presidente daquele país, mostram que os eleitores de lá escolhem seu candidato pelo programa de governo dele, pelo espectro do campo ideológico ocupado por este candidato e pela confiança que ele inspira.
Os americanos querem saber o que o candidato pensa sobre temas importantes, como imigração, protecionismo agrícola, política econômica, terrorismo, entre outros.
No Brasil, o candidato faz de conta que é uma coisa e o eleitor faz de conta que acredita naquilo que ele vê na televisão. É o pacto da mediocridade.
Os termos conservador, liberal, progressista ou nacionalista não dizem nada ao eleitor médio brasileiro.
O resultado é o samba maluco que estamos acostumados a ver. Em 2002, os brasileiros elegeram Lula pra mudar o país. Mas esqueceram que o presidente precisa de maioria pra governar e elegeram um Congresso Nacional conservador.
Aí quando estoura o "mensalão", suposto artifício do governo pra obter maioria parlamentar e fazer as mudanças que o povo esperava que fossem feitas, o brasileiro fica escandalizado.
O sistema político barsileiro é um verdadeiro Frankstein.
A televisão, criada como projeto de integração nacional e elemento definidor da nossa identidade enquanto povo, é o cérebro desse monstrengo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário