sábado, 12 de julho de 2008

Jornal da Bahia publica foto de ator global como se fosse do banqueiro Daniel Dantas


Do Comunique-se:

Uma reportagem sobre a operação Satiagraha saiu do âmbito jornalístico, se espalhou pela internet e foi parar em sites de humor. O Diário do Sul da Bahia, de Itabuna, publicou na edição da última quarta-feira (09/07), por engano, a foto do ator da Rede Globo Daniel Dantas como sendo o homônimo, dono do Banco Opportunity, preso pela Polícia Federal.

Segundo o editor do jornal, Valdenor Ferreira, o erro foi causado pela equipe de diagramação, que, ao buscar uma imagem do banqueiro na internet, encontrou a do ator e, publicou. Esta foto é a primeira que aparece na busca do Google. Os responsáveis não foram demitidos, mas foram repreendidos pelo fato.

“Nós editamos a matéria, mas o pessoal do design, na hora de captar a foto, cometeu o erro. O pior foi o dia seguinte. Tivemos que montar um plantão para atender os telefonemas dos leitores”, diz.

Na quinta-feira (10/07), o veículo publicou uma nota de esclarecimento, se desculpando com o ator. “Aproveitamos a oportunidade para pedir desculpas ao Daniel Dantas da Globo, um artista de honestidade incontestável e que muito tem contribuído, com seu talento, para o sucesso das telenovelas brasileiras”.

O editorial publicado nesta sexta-feira (11/07) também trata do assunto, falando sobre a repercussão que o erro teve na imprensa. “Os 15 minutos de fama não foram fruto de um furo jornalístico, daqueles com que toda a imprensa nanica sonha para, ainda que momentaneamente, romper a intransponível barreira que a separa da grande mídia. (...) Ô glória inglória!”, diz o editorial, escrito com muito humor. Rir para não chorar.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O vendaval Dantas

Absolutamente impressionante o relato de Bob Fernandes na Terra Magazine.

Bob narra a conversa travada entre Daniel Dantas e o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiróz, coordenador da Operação Satiagraha, numa sala da Superintendência da PF em São Paulo, na noite de quinta-feira (10):

Daniel Dantas parece exausto, rendido, mas não deixou de ser quem é. Obcecado por tudo que foca e toca, brilhante, genial, dizem mesmo os mais empedernidos adversários.

O tempo, pouco tempo, dirá o quanto há de cálculo, quanto há de desabafo no que começa a despejar sobre o delegado Protógenes Queiróz. Primeiro, a senha:

- Eu vou contar tudo! Vou detonar!


O diálogo prossegue e Daniel Dantas dispara:

-...vou contar tudo sobre todos. Como paguei um milhão e meio para não ser preso pela Polícia Federal em 2004...

- Um milhão e meio? À época da operação Chacal, o caso Kroll...?

Prossegue a torrente de Daniel:

- ...tudo sobre minhas relações com a política, com os partidos, com os políticos, com os candidatos, com o Congresso... tudo sobre minhas relações com a Justiça, sobre como corrompi juízes, desembargadores, sobre quem foi comprado na imprensa... (Leia mais aqui)


Não se sabe se Dantas vai cumprir a promessa e contar "tudo" mesmo. Mas nesse breve "desabafo", ele já revelou muita coisa.

Ficou bem nítido agora o porquê da gritaria dos (de) formadores de opinião da grande mídia contra a Operação Satiagraha.

Reinaldo Azevedo e Miriam Leitão que o digam...

A novela de Dantas

Em 48h, Daniel Dantas foi preso, solto, preso novamente e solto mais uma vez.

O dono do Opportunity havia sido preso na terça-feira (8), durante a Operação Satiagraha da Polícia Federal.

Na madrugada de quarta-feira (9), Daniel Dantas deixou a prisão depois que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, acatou o pedido de liberdade feito pelos advogados do banqueiro.

Cerca de 10h depois de deixar a carceragem da Polícia Federal em São Paulo, Daniel Dantas volta para a cadeia por determinação do juiz Fausto De Sanctis da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo a pedido da PF e do Ministério Público Federal.

Para decretar a prisão preventiva do banqueiro, o juiz se baseou em documentos encontrados na casa de Daniel Dantas na terça-feira e no depoimento de Hugo Chicaroni - preso durante a operação pela tentativa de suborno, a mando do dono do Opportunity, ao delegado federal Vitor Hugo.

Gilmar Mendes entra em cena novamente e manda soltar Daniel Dantas pela segunda vez. Às 20h20, Daniel Dantas já está livre de novo.

O ministro não gostou de ter sido desmoralizado pelo juiz De Sanctis, que mandou Dantas de volta à cadeia.

"(A decisão de De Sanctis) revela nítida via oblíqua de desrespeitar a decisão deste Supremo Tribunal Federal anteriormente expedida", justificou Mendes no novo habeas corpus concedido ao banqueiro.

A decisão do presidente do STF recebeu uma avalanche de críticas. Mais de 130 juízes federais assinaram um manifesto protestando contra a decisão do ministro. Quarenta e dois procuradores da República também lamentaram, em uma carta aberta divulgada nesta sexta-feira, o novo habeas corpus concedido por Gilmar Mendes em favor de Daniel Dantas (leia mais aqui e aqui).

Em entrevista à Terra Magazine, o juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Wálter Maierovitch, disse que Gilmar Mendes estava "extrapolando suas funções".

Maierovitch foi mais além e defendeu o impeachment do presidente do STF:

- Para o presidente da Republicas tem impeachment, o ministro Celso Mello considera que pode haver impeachment para ministros do próprio Supremo. Está na hora de se pensar num impeachment do Gilmar Mendes. (Leia a entrevista completa aqui)

Em seu Conversa Afiada, Paulo Henrique Amorim comentou:

"Daniel Dantas conseguiu, de novo, demonstrar o que já se sabia: no Supremo do Supremo Presidente Gilmar Mendes, quem manda é ele, Dantas. Dantas desmoralizou a Justiça brasileira, pela mão de Mendes." (Leia o comentário completo aqui)

O grampo no STF

Em meio a tudo isso, surgiram denúncias de que o gabinete do presidente do STF estaria sendo monitorado pela Polícia Federal a pedido do juiz De Sanctis. A desembargadora Suzana Camargo, vice-presidente do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, foi quem informou o ministro Gilmar Mendes sobre o suposto grampo.

Segundo a Folha Online, uma varredura realizada nesta sexta-feira no gabinete e nas salas anexas do presidente do STF não encontrou indícios de escutas telefônicas ou ambientais no local. A varredura foi realizada por técnicos do tribunal a mando da administração do STF.

O juiz Fausto De Sanctis divulgou uma nota negando ter mandado monitorar o presidente do STF:

Em face da notícia veiculada nesta data sobre suposto monitoramento pela Polícia Federal do gabinete do Ministro Gilmar Mendes:

Este magistrado federal, atuando na 6ª Vara Federal Criminal desde 17.10.1991, sempre acatou as determinações advindas das instâncias superiores como, aliás, era de se esperar.

O respeito à Constituição e as normas dela decorrentes implica em bem dimensionar o limite jurisdicional de atuação e, evidentemente, em hipótese alguma, poder-se-ia vislumbrar ingerência em esfera alheia de atribuição.

O respeito também se dá em relação aos ocupantes de cargos públicos, sejam eles do Poder Executivo, do Poder Legislativo e do Poder Judiciário.

A atuação deste magistrado pauta-se na sua convicção, sem qualquer ingerência ou influência, tendo consciência da importância e do alcance dos atos jurisdicionais que profere em nome da Justiça Federal.

A convicção de um juiz criminal afigura-se fruto de toda uma experiência profissional e ela se dá de forma a atender as expectativas da sociedade em ter, em seu magistrado, a segurança de uma decisão ou de um julgamento legítimo e imparcial, dirigido a qualquer pessoa objeto de investigação ou processo criminal, dentro da estrita legalidade. Não pode ser admitida no funcionamento da Justiça Criminal distinção de tratamento. Diferença física, psíquica ou econômica ensejaria violação do preceito da igualdade já que a todos cabe a sujeição à legislação penal, expressão de um povo, respeitando-se a atividade regular do Estado.

Este magistrado tem consciência de que, como funcionário público, serve ao povo, verdadeiro legislador e juiz, e para corresponder à sua confiança não abre mão dos deveres inerentes ao cargo que ocupa, sempre respeitando os sistemas constitucional e legal.

Jamais foi proferida decisão emanada deste juízo autorizando o monitoramento de pessoas com prerrogativa de foro, como veiculado na matéria jornalística. Convocada, nesta data, a autoridade policial Protógenes Queiroz, esta afirmou perante este magistrado não ser verdadeira a afirmação de ter monitorado a presidência do S.T.F., sendo que todos os dados trazidos ao juízo, originam-se apenas de monitoramento (telemático e telefônico) dos investigados, com a devida autorização judicial.

Desde que identificado qualquer desvio de conduta por parte da Polícia Federal, certamente este magistrado adotará medidas competentes.

A informação veiculada, totalmente inverídica, somente serviu para, mais uma vez, tentar desqualificar as ações da Justiça Federal, notadamente, deste magistrado, que tenta cumprir sua função pública de maneira equilibrada, ponderada e pautada pelos princípios norteadores do legítimo Estado de Direito.

A atuação jurisdicional conforme a Constituição Federal não pode, s.m.j., levar à responsabilização de um magistrado que, tecnicamente, sem ofensa a qualquer Corte de Justiça, decida questões que, por livre distribuição, sejam submetidas à sua apreciação.

Fausto Martin De Sanctis Juiz Federal

Titular da 6ª Vara Federal Criminal especializada em crimes financeiros e em lavagem de valores.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O teatrinho de Reinaldo Azevedo

É incrível como Reinaldo Azevedo, o blogueiro da Veja, consegue se superar em matéria de cinismo. Não tenho conhecimento de alguém mais reacionário que esse moço de chapéu. Desesperado com a prisão de Daniel Dantas, com quem o panfleto da Editora Abril se acoloiou, o rapaz deixou de vez a máscara cair e se revelou como verdadeiramente é: um moralista fajuto e um hipócrita de primeira classe.

"Tio Rei", como adora ser chamado o chapeleiro maluco, chamou a Operação Satiagraha de "teatro do absurdo":

"O teatro do absurdo está aí, diante de todos. Porque Dantas, Pitta e Nahas são quem são, querem aproveitar a sua péssima reputação para avançar sobre direitos coletivos. Sob o pretexto de fazer justiça com “ricos impunes”, começa-se a achar razoável avançar nos direitos constitucionais", escreveu.

Em seguida ele faz média - melhor, faz teatrinho -, dizendo que não endossa "os crimes de que Dantas, Nahas e Pitta são acusados", mas apenas, como ilustre guardião da democracia, se preocupa com o "processo de DESINSTITUCIONALIZAÇÃO do país".

Vou dormir em paz sabendo que Reinaldo Azevedo está zelando pela democracia brasileira.

Dantas está solto

Durou pouco a prisão do banqueiro Daniel Dantas. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, não permitiu que ele dormisse mais alguns dias na cadeia. Às 23h30 desta quarta-feira (9), o magistrado concedeu o habeas corpus impetrado pelos advogados do dono do banco Opportunity. Às 5h30 desta quinta-feira (10), Daniel Dantas, sua irmã e parceira de negócios Verônica Dantas e outras nove pessoas deixaram a carceragem da Polícia Federal em São Paulo.

Dantas e sua organização criminosa são investigados pela Operação Satiagraha da PF, sob a acusação das práticas de lavagem de dinheiro, corrupção, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha.

A prisão preventiva do banqueiro foi decretada porque ele tentou subornar um delegado da PF para excluí-lo das investigações da Operação Satiagraha. Segundo relato do delegado, emissários de Dantas, responsáveis por negociar o suborno, afirmaram que o banqueiro "só temia a Justiça de primeira instância, já que no STJ e no STF ele contava com facilidades".

O ministro Gilmar Mendes mostrou que Dantas estava certo em não temer o STF. Para mandar soltar o banqueiro, Mendes alegou:

"Ainda que tais fundamentos fossem suficientes, o tempo decorrido desde a deflagração da operação policial indica a desnecessidade da manutenção da custódia temporária para garantir a preservação dos elementos probatórios."

Enquanto isso, na Sala de Justiça...

Os superamigos da grande mídia, indignados com a prisão do figurão orelhudo, continuam em defesa de tão proba figura e disparam petardos contra a forma "espetaculosa" como agiu a Polícia Federal.

Supremo descalabro algemar Dantas, Pitta e Najas!!!

Em Brasília, os senadores Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Heráclito Fortes (DEM-PI), como o cão das lágrimas de Ensaio Sobre a Cegueira, também lastimaram "a postura da Polícia Federal".

Miriam Leitão, que, como disse Paulo Henrique Amorim, nunca tinha falado de Daniel Dantas, descobriu de repente que o banqueiro existe.

A tática adotada pela grande mídia e seus (de) formadores de opinião é dizer que a origem da Operação Satiagraha é o caso do 'mensalão'. Assim, pretendem esconder o papel de Daniel Dantas como chefão das privatizações do governo tucano de FHC.

Leia um trecho do comentário de Paulo Henrique Amorim sobre o porquê da mídia insistir em atribuir a origem da Operação Satiagraha ao 'mensalão':

. Por que a Miriam e o PiG querem que a origem de tudo seja o mensalão ?

. Miriam, é o contrário: Dantas é que é a origem do mensalão.

. A Miriam quer esconder a origem de Dantas: o Farol de Alexandria.

. Agora, Osmar Serraglio, o relator, e Delcídio Amaral, o presidente da CPI do mensalão, se entronizam no pantheon dos heróis da pátria.

. Na CPI, fugiram de Dantas.

. Acobertaram Dantas e se esqueceram de incluí-lo na lista dos indiciados.

. Foi a senadora Ideli Salvatti que, DEPOIS de concluído o relatório, e de forma irregular, botou o nome do Dantas lá.

. A origem da investigação é outra.

. É o disco rígido que a Polícia Federal apreendeu na sede do Banco Opportunity (*).

. A então presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Grace, não deixou a Polícia Federal nem a CPI ter acesso ao disco rígido.

. Com um argumento bizarro: não havia prova de que Daniel Dantas era o Daniel Dantas do Opportunity.

Leia mais no site do Conversa Afiada.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

A luta interna na PF

Leia a seguir a excelente reportagem de Bob Fernandes na Terra Magazine, contando a luta interna dentro da própria Polícia Federal para prender Daniel Dantas e como os (de)formadores de opinião da grande mídia saíram em defesa do banqueiro:

Os intestinos do Brasil.

A Polícia Federal trabalhou duramente para que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal não queria, de forma alguma, que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal fez tudo para que Daniel Dantas fosse preso. A Polícia Federal fez tudo para que Daniel Dantas não fosse preso.

A Polícia Federal trabalhou contra a Polícia Federal.

Esse é mais um capítulo do mergulho nos intestinos do Brasil. Estão presos o banqueiro do Opportunity, o megaespeculador Naji Nahas, o ex-prefeito Celso Pitta e outros 17 dos 21 que tiveram a prisão decretada. É quarta-feira, 9 de julho.

Nas telas, ondas, bits e páginas, a futebolização de sempre: aplausos entusiasmados, críticas ferozes à ação da polícia. O que ainda não chegou à tona é a verdadeira história dessa gigantesca ação policial, da encarniçada batalha que se travou nos setores de Inteligência, na Polícia.

O que se narra aqui são cenas, é o contorno dessa batalha, mas antes é preciso lembrar que este é apenas mais um capítulo.

Crucial, decisivo para que se entenda o todo, o que se movia, se move - e se moverá -, mas apenas mais um capítulo no enredo da maior disputa da história do capitalismo brasileiro, disputa essa que carrega em si o esteio, a sustentação do poder. Do Grande Poder.

O delegado Protógenes Queiroz comandou as investigações no último ano. Antes dele, ao tentar seguir a pista da organização comandada por Dantas, outros delegados fraquejaram. Ou desistiram, ou...

Protógenes foi conduzido ao comando da investigação sigilosa pelo então diretor geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, hoje chefe da Agência Brasileira de Inteligência, Abin. Paulo Lacerda queria e autorizou a operação até deixar a direção da PF.

Um dia, convidado pelo presidente Lula, Lacerda foi para a Abin. Em seu lugar assumiu Luiz Fernando Corrêa, que chefiava a Força Nacional de Segurança Pública. Luiz assumiu com fama de amigo de José Dirceu.

Se era ou se não era, se suas relações vinham apenas da proximidade no trabalho de segurança da PF ao candidato Lula em eleição anterior, é uma outra questão, mas o fato é que Luiz Fernando chegou ao cargo com essa fama: amigo de José Dirceu.

Logo ao assumir, o diretor da PF quis mais informações sobre que investigação seria aquela relativa aos negócios e métodos de Daniel Dantas. Normal. Parte das suas atribuições de comando.

O delegado Protógenes, por seu lado, ofereceu explicações genéricas, mas guardou o que era secreto, segredo de justiça.

Normal. Manhas de um tira brilhante, esperto, do policial que prendeu Paulo Maluf, o contrabandista Law Kin Chong, que pôs na marca do pênalti o Corinthians da MSI, Kia Joorabichian e Dualib, que investiga para a FIFA as lavanderias do futebol mundo afora.

Normal, em meio aos rumores sobre vazamentos na investigação e, pior, propinas. Subornos em favor de Dantas.

Na diretoria de Inteligência, um aliado do diretor geral na busca de informações amplas sobre o núcleo das investigações: o delegado Daniel Lorenz.

Protógenes Queiróz é duro na queda. Primeiros embates, e a operação Satiagraha perde estrutura. O comando esvazia parte da logística; retira agentes e peritos, encolhe a sala, asfixia as investigações....o corriqueiro nos jogos de guerra.

O jogo é maior, muito maior. As pedras se movem. Ao diretor da Polícia Federal chega o recado. Suave, mas direto: as investigações devem prosseguir.

Fim do ano. Mídia afora, o festival de plantações, versões. A batalha, que é política, comercial, policial, segue seu leito também nas telas, ondas, bits e páginas. Véspera do Natal. Estranhíssima entrevista do diretor geral.

Luiz Fernando Corrêa escolhe o encarte semanal "Brasília" do jornal mineiro Hoje em Dia para mandar um recado em forma de entrevista. Manchete:

-Cada geração tem um papel a cumprir. Cumpriu, sai fora!

Até o vidro fumê do edifício sede da PF em Brasília captou a mensagem e os destinatários: Paulo Lacerda e antigos delegados que comandaram a Polícia durante 4 anos e 8 meses do governo Lula.

Para não haver dúvidas, a capa do tablóide berrou:

-PF dividida.

Véspera do Natal, peru, nozes, vinhos, poucos civis devem ter lido. Mas a polícia inteira leu. Comentou, discutiu. E mesmo o mais desatento agente sacou que a barca do delegado Protógenes Queiroz, fosse qual fosse, não era uma boa aos olhos da direção.

Parênteses. Daniel Dantas e os seus comemoravam, vibravam a cada boa notícia. Sim, o que não faltou nesse enredo foi notícia. Capas e capas.

O carnaval se foi. E um fato: a repórter quer falar com o delegado Queiroz. Quer informações sobre uma investigação que envolveria Daniel Dantas e o Opportunity. Apreensão, no início de abril - e isso são fatos. Objetivos. Conhecidos desde então: a repórter vai publicar o que tem se não for recebida.

A situação se agrava. Por ordem do comando, o delegado Protógenes Queiroz perde quase toda a logística. Fato registrado, inclusive, em imagens: a sala sendo esvaziada, a tralha tecnológica removida.

Queiroz começa a fingir que a operação faz água. Cede, aceita conversar com a repórter; Andréa Michael, da Folha de S.Paulo. Mas faz uma exigência aos superiores: quer a presença do diretor geral, Luiz Fernando Corrêa, e de Lorenz, o diretor de Inteligência.

Corrêa não vai, manda alguém da comunicação social. Lorenz, presente. Na conversa, o delegado Queiroz contorna, tergiversa, despista, e guarda tudo o que disse e o que não disse.

Sábado, 26 de Abril. Anunciado o acordo das teles, vem aí a BrOi. No caderno "Dinheiro", da Folha, em quase meia página a repórter Andréa Michael relata os contornos de uma operação a caminho, destinada a prender Daniel Dantas.

Domingo, 27 de Abril. A operação está morta. Protógenes Queiroz faz dois movimentos. Primeiro, na véspera, a ligação para Lorenz, que está no Chile. Cobra a conta da conversa com a repórter, quando apenas despistou. Este diálogo, de parte a parte, não é bom.

Segundo movimento: Queiroz, para efeito externo, dá a operação como morta. Para efeito interno, os fatos incendeiam agentes, peritos e delegados envolvidos numa operação cada vez mais secreta.

Segue a semana. Queiroz é comunicado. Não há, não haverá mais logística alguma. Caso encerrado. Caso que o diretor geral e o diretor de Inteligência seguem a desconhecer em sua essência e mesmo os contornos.

O delegado está solto no espaço.

Uma outra rede conecta-se, subterrânea, solidária. O outro lado da polícia trabalha, secretamente, pela Satiagraha, a "firmeza na verdade" de Gandhi.

Notas em colunas, sites. Chutes, bravatas, cascatas, desinformação. A operação é adiada. Uma, duas, três vezes.

O delegado Protógenes Queiroz é monitorado, vigiado. Pela Polícia Federal. E sua equipe contra-ataca: vigia, monitora, flagra e registra, os movimentos dos monitoradores da própria PF.

Daniel Dantas e os seus estão tensos. Em dúvida: acabou, ou não acabou? Na dúvida, encaminham ao Supremo Tribunal Federal um pedido de habeas corpus preventivo, para Dantas e a irmã, Verônica.

Daniel Dantas morde a isca. Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecom e o amigo Hugo Chicaroni são os intermediários. A oferta é feita ao delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves.

Na churrascaria El Tranvia, bairro de Santa Cecília, São Paulo, o ensaio para o acordo final: US$ 1 milhão.

Como sinal, duas parcelas, uma de 50 e outra de 80. Pagamento futuro em duas de US$ 500 mil. Encontros e acordos fechados em 18 e 26 de junho. Para livrar a cara dos Dantas.

Há algo no ar. Frases soltas.

Gilmar Mendes é o presidente do STF. No meio da semana, pós-São João, desponta nas telas, um tempão nos telejornais, nas manchetes do dia seguinte. Refere-se a informações vazadas por policiais, uma "coisa de gângsters", e ao "terrorismo lamentável".

A fala ecoa. Cada um entende como quer. Críticas gerais às interceptações telefônicas (mesmo às autorizadas judicialmente).

Julho chegou. Fim de semana. Notas, boatos... Daniel Dantas está em Nova Iorque... Daniel Dantas aguarda o habeas corpus para voltar ao Brasil...

Sete de Julho. O delegado geral, Luiz Fernando Corrêa, que até a véspera nada sabia sobre a verdadeira extensão de Satiagraha, quer agora saber de tudo. De tudo, não saberá. Extrema tensão. Como há um mês, no Rio de Janeiro.

Agentes da equipe de Queiroz seguiam gente dos Dantas, pelas ruas do Rio. A polícia foi chamada, quase um confronto até o esclarecimento "somos da PF" e o despiste numa operação banal qualquer. Mas a queixa subiu.

Chegou ao diretor geral da PF, a Heráclito Fortes (DEM-PI) no senado e ao advogado geral da União, José Antonio Toffoli, adentrou o Supremo Tribunal.

Seis da manhã, 8 de julho. Avenida Viera Souto, Ipanema, Rio de Janeiro. Daniel Dantas está preso.

Furacão na mídia, por todo o dia. À noite nos telejornais e no dia seguinte, este 9 de julho, a repercussão.

Gilmar Mendes, o presidente do STF, ataca a "espetacularização das prisões, incompatível com o Estado de Direito", critica duramente o pedido de prisão, negado, contra a repórter da Folha de S. Paulo:

-...isso faz inveja ao regime soviético...

Frases soltas no ar.

Miriam Leitão, a comentarista econômica, também está no ar. Na rádio CBN, Miriam conversa com Carlos Alberto Sardenberg.

Meio dia e quarenta. Miriam diz não ter entendido direito porque Daniel Dantas foi preso. Afinal, constata, as acusações são inconsistentes, "coisas do passado", e é preciso que a Polícia Federal explique melhor por que fez essa operação "com tamanho estardalhaço..."

Miriam se vai. Sardenberg chama os comerciais, não percebe que o microfone está aberto, e deixa escapar:

-...ela tá esquisita, não?

Frases soltas no ar.

Daniel Dantas está preso. Esse, o policial, é mais um capítulo da operação que chegou aos intestinos do Brasil.

O chefão das privatizações

Esqueça o que a grande mídia diz sobre a Operação Satiagraha. Leia o artigo do jornalista Altamiro Borges no portal Vermelho, que conta como Daniel Dantas começou sua trajetória na Bahia, sob as bençãos de ACM, até se tornar o chefão das privatizações no governo FHC.

Mídia insiste em ligar Operação Satiagraha ao 'mensalão'

A mídia tem insistido na tese de que a Operação Satiagraha é um desdobramento do "escândalo do mensalão". Essa foi a linha do Jornal Nacional de ontem e do Bom Dia Brasil de hoje - ambos da TV Globo.

O que nem o Jornal Nacional nem o Bom Dia Brasil disseram é que o cerne da investigação da Polícia Federal não é o 'mensalão' coisa nenhuma, mas sim a participação de Daniel Dantas no processo de privatizações do governo FHC.

Sobre isso, Bob Fernandes escreve na Terra Magazine:


Entenda-se, uma vez que, na praça, desinformados e desinformadas de vários matizes já excitam-se com "a volta do mensalão".

Não, não é uma investigação que esbarra em maracutaias do "mensalão". É uma devassa que chega a bem antes. E chegará a bem depois. Algo muito maior, muito mais profundo e poderoso do que o mensalão. Que viceja, brota gloriosamente em meio à privatização do sistema Telebras, embora pensado antes ainda. Algo que mira também o presente e o futuro.

Não, não é coisa de pés-rapados, adoradores de penosas, de pobres-diabos que no guichê do Banco Rural - do Brasília Shopping - recebem o "por fora", modalidade esta inédita na história de crimes financeiros. É coisa de uns 2 bilhões. De dólares. É coisa de quem montou, geriu, operou, opera o Sistema.

Miriam Leitão, com cara de choro, criticou "a forma" da operação, "no mesmo estilo-espetáculo e com excessos, como entrada em instituições financeiras com armamento pesado, como se fossem enfrentar bandidos armados."

O ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), também lamentou a prisão de Daniel Dantas e foi na mesma linha de Miriam Leitão ao criticar a "espetacularização" das operações da Polícia Federal.

Nunca vi nenhum deles criticar ou reclamar da forma como os policiais invadem as casas de pessoas pobres nas favelas. Mas quando se trata de prender figurões como Daniel Dantas, a chiadeira é geral.

Reinaldo Azevedo, o blogueiro da Veja, também saiu em defesa do banqueiro dono do Opportunity. Mas desse aí a gente não podia esperar outra coisa mesmo.

Para entender a organização criminosa de Daniel Dantas e do especulador Naji Nahas, clique aqui.

Para ler mais sobre o "inferno de Dantas" e entender as operações do Opportunity Fund, clique aqui.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Veja tenta relacionar prisão de Daniel Dantas ao mensalão

Foi só estourar a Operação Satiagraha da PF, com as prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas, entre outros, para a Veja dar um jeito de distorcer os fatos.

Na página on line, a revista resgata uma coluna de Diogo Mainardi de junho/2006, na qual o menino prodígio da Veja afirma que Dantas era o financiador do mensalão e que Lula sabia de tudo. Segundo Mainardi, Lula, que antes queria a todo custo demovê-lo do controle da Brasil telecom, havia feito um acordo com Dantas em troca de dinheiro para financiar a compra de deputados em Brasília.

Com isso, a Veja tenta relacionar as prisões de agora com o caso do mensalão. Mas aí, assim de imediato, surge logo a primeira contradição: se havia um acordo entre Lula e Dantas, como é que o banqueiro foi apanhado pela investigação da PF?

Nem Ricardo Noblat, blogueiro da Globo, caiu nessa lorota. Em seu blog, ele afirma que a Operação Satiagraha não tem nada a ver com o mensalão.

Leia o comentário:

Estão misturando por aí o escândalo do mensalão, o pagamento de propinas a deputados para que em 2005 votassem na Câmara como mandava o governo, com a operação que resultou, hoje, na prisão do banqueiro Daniel Dantas, dono do Grupo Oportunitty, do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, entre outros.

O que havia sido apurado antes sobre o mensalão está na origem da investigação da Polícia Federal que mandou Dantas, Nahas e Pitta para a cadeia. Mas é só. A operação de hoje nada tem a ver com o mensalão, nada avançou em relação a ele, até porque esse não era seu objetivo. Portanto, falando em termos de governo, o anterior , de FHC, é que tem razão para se preocupar.

"O inferno de Dantas"

Por Bob Fernandes e Samuel Possebon para a Terra Magazine:

Para se tentar entender quem é Daniel Dantas, preso hoje junto com Verônica Dantas, Dório Ferman, Carlos Rodenburg, Naji Nahas, Celso Pitta e outras duas dezenas de menos ilustres, é preciso antes entender seu fortim e sua obra principal: o grupo Opportunity.

Em tempo: "Sua" obra principal, o Opportunity, mas sem que se deixe de levar em conta a suspeita do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal: Daniel Dantas et caterva soam, por vezes, não serem os "donos", ou, os únicos donos do megaconglomerado.

O Opportunity brota de um clã familiar. A hidra tem como principais cabeças visíveis, Daniel Dantas e, degraus abaixo, sua irmã Verônica Dantas. Dório Ferman, por sua vez, é o presidente do Banco Opportunity, instituição financeira comandada por Dantas.

Daniel Dantas é um personagem que age nas sombras. Poucos são os documentos que contam com a assinatura do banqueiro e, constatou a PF na investigação, de tudo ele fez e faz para não deixar rastros mesmo na miríade de estruturas - ao menos 151 detectadas - ligadas ao enorme polvo.

Nas inúmeras empresas ligadas a seu grupo, ele raramente é o responsável legal. Busque-se pelo nome de Daniel Valente Dantas junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), cartórios ou juntas comerciais, e quase nada aparecerá. E tanto anota também o delegado Queiroz.

Nas disputas empresariais que travou, Dantas assinou não mais do que três ou quatro contratos. Sempre há prepostos, anteparos cuidadosamente selecionados para escamotear o chefe de fato. No mundo financeiro (fundos, corretoras, bancos etc), Dório Ferman é o homem. No exterior, Verônica Dantas é o anteparo usual.

Trata-se de um grupo empresarial - ou de uma quadrilha, uma organização criminosa, como aposta a Polícia Federal - muito mais complexo do que parece.

Daniel Dantas, que hoje foi para a cadeia, participa da vida política e econômica do País desde o governo Collor. Mas seu papel como protagonista cresceu e se impôs no governo Fernando Henrique Cardoso, especialmente na montagem e no miolo do processo de privatizações.
Dantas é um dos personagens centrais na "mais feroz e encarniçada batalha da história do capitalismo brasileiro."


Batalha tão encarniçada que não deixará de incluir, como se verá em capítulos vindouros, também a jornalistas e publicações.


Leia mais aqui.

Terra Magazine: Daniel Dantas está preso



O jornalista Bob Fernandes relatou em detalhes para a Terra Magazine a prisão do banqueiro, dono do grupo Opportunity, Daniel Dantas e seus familiares (sua irmã Verônica e seu ex-cunhado e dirigente do OPP, Carlos Rodenburg) durante a Operação Satiagraha, deflagrada nesta terça-feira (8) pela polícia Federal, que também levou para a cadeia o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta e o especulador Naji Nahas.

Leia a seguir a íntegra da matéria:

Daniel Dantas está preso.

Comandados pelo delegado Protógenes Queiroz, quase 300 agentes da Polícia Federal iniciaram, às 6 da manhã desta terça-feira 8 de julho, a Operação Satiagraha. A PF cumpre 24 mandados de prisão - além de 56 ordens de busca e apreensão. Na ação deflagrada nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e em Brasília, foram presos, além do banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, sua irmã Verônica e seu ex-cunhado e dirigente do OPP, Carlos Rodenburg, o também diretor Arthur de Carvalho, o presidente do grupo, Dório Ferman, o especulador Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Ordens de prisões foram emitidas ainda contra a diretora jurídica, Danielle Silbergleid Ninio, a advogada Maria Amália Coutrin, e o funcionário do mesmo grupo, Rodrigo Bhering de Andrade. Da mesma forma foram expedidas ordens de prisão dos doleiros Lucio Bolonha Funaro e Miguel Jurno Neto. Maria Alice de Carvalho Dantas, mulher de Daniel, também foi detida.

Segundo a Polícia Federal, o universo dantesco foi aprisionado pela prática dos seguintes crimes, pelo menos: formação de quadrilha, gestão fraudulenta, evasão de divisas, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal...

Espionagem é parte do extenso rol de crimes praticados pela organização. Daniel Dantas foi preso, também, por tentativa de corrupção contra um delegado, de nome Vitor Hugo.


Dantas é preso quase três meses depois de fechar um dos maiores negócios do mercado de telecomunicações brasileiro: vendeu suas participações da Brasil Telecom e Telemar (OI) por algo em torno de 1 bilhão de dólares. E conseguiu um acordo com os fundos de pensão, pelo qual se livrou de todas as demandas judiciais contra ele. Além do perdão dos fundos, ainda saiu do acordo com mais R$ 140 milhões.

OS INTESTINOS DO BRASIL


A prisão de Daniel Dantas é o desfecho, ou, melhor, um entreato da maior disputa societária da história do capitalismo brasileiro.

Para que se tenha uma idéia: algo como um bilhão e 900 milhões de dólares foram rastreados na investigação. Fortuna essa advinda de aplicadores e, quase sempre, a transitar por paraísos fiscais. Técnicos do Banco Central e da Receita Federal também trabalharam na megainvestigação pilotada pelo delegado Queiroz.

Poderia ser legalmente, e de origem legal, mas o contrário é também verdade e em relação a quantias abissais, como saberão ainda hoje, e aqui, os leitores.

Do que Terra Magazine conhece da ação deste 8 de julho e traz com exclusividade aos internautas deste portal Terra, é possível assegurar que trata-se do mais profundo mergulho nos intestinos do Brasil.

Das entranhas do que há de mais poderoso nos comandos financeiros, sociais e políticos - como conhecerão em detalhes os leitores de Terra Magazine nos próximos dias -, emerge o que a Polícia Federal, depois de 2 anos de investigações, trata como organização criminosa comandada por dois grupos distintos e dois "capos" - expressão da própria PF - que atuariam em consórcio, Daniel Valente Dantas e Naji Robert Nahas.

Dois anos de investigação, diga-se, em sua última etapa. A rigor, Satiagraha, a operação desta terça-feira 8 de julho, é filha da Operação Chacal, que em 2004 investigou e indiciou Dantas e os seus por espionagem. Com ele foi flagrada, então, a multinacional de investigações Kroll.

A base para a investigação final, iniciada há pouco mais de um ano, é o "mensalão". Numa Vara Criminal Federal em São Paulo corre o processo que investiga o esquema Marcos Valério. Dali, a PF saltou para dentro do Opportunity.


Constatou o delegado Protógenes Queiroz que Daniel Dantas utiliza sua inteligência para "praticar o mal". E, entende o policial, prejudica o Brasil e uma "legião" de investidores.

Operação Satiagraha: PF prende Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas



Do Uol Últimas Notícias:

A Polícia Federal prendeu na manhã desta terça-feira o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta, o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Naji Nahas na operação denominada Satiagraha, que investiga desdobramentos do caso mensalão. Todos eles foram presos em suas residências nesta manhã.

Segundo informações preliminares fornecidas pela assessoria de imprensa do órgão ao UOL, Celso Pitta e Naji Nahas foram detidos em São Paulo, e Daniel Dantas, no Rio de Janeiro.

Dantas seria o comandante de "uma organização criminosa envolvendo a prática de diversos crimes e possuía várias empresas de fachada para o desvio de verbas públicas", de acordo com informações apuradas pela agência Reuters.

Segundo a PF informou, ainda à Reuters, Dantas é acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, sonegação fiscal e evasão de divisas. A assessoria não tinha informações, no entanto, sobre quais são as acusações contra Pitta e Nahas.

Por volta das 6h30, cerca de 20 agentes da PF em cinco carros chegaram à sede do Banco Opportunity, no Rio, onde realizam uma varredura nos computadores e documentos da instituição.

De acordo com a Polícia Federal, foram expedidos 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão e os três detidos encabeçam uma suposta quadrilha que teria cometido crimes financeiros. As investigações do caso começaram há um ano e meio.

No total, cerca de 300 policiais de quatro capitais (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Brasília) estão trabalhando na operação.

O advogado de Daniel Dantas, Nélio Machado, disse em entrevista à GloboNews que a prisão do banqueiro é "arbitrária e desnecessária". "Daniel Dantas é um empresário reconhecido pela competência e vem sendo estigmatizado como se fosse transformado em inimigo público", disse.

Leia mais aqui.

A revolta das máquinas

O meu computador ficou maluco

Essa matrix pós-moderna na qual vivemos às vezes se volta contra nós e parece querer nos absorver.

Lucien Sfez, em "Crítica da Comunicação", escreve que "Um Frankenstein tecnológico nos ameaça". Esse monstro, eterna metáfora da criatura que se volta contra o seu criador, é o "mundo das máquinas: máquinas de transportar, de fabricar, de pensar."

Eu vivo cercado de muitos Frankensteins - e todos me ameaçam. Quando eles resolvem ter vontade própria, aí eu fico perdido.

Ontem, o primeiro a se rebelar foi meu gravador digital. Assim do nada o aparelhinho que tantas vezes me salvou, desta vez me deixou na mão. Mexi em todos os botões possíveis, mas ele simplesmente não deu sinal de vida.

Olhava-o desolado, mas ele continuava me ignorando. Lembrei que poderia levá-lo à autorizada, mas o bicho é importado e não tem representante por aqui. Joguei-o na gaveta da minha estante, onde ele ficará até o dia que eu decidir me vingar e fazer dele sucata.

A segunda revolta foi protagonizada pelo meu computador. Atacado por um vírus cibernético, o único sinal de vida que ele dava era um tracinho que aparecia e desaparecia em milésimos de segundos no canto superior esquerdo de uma tela escura. Liguei para um amigo que entende melhor que eu a linguagem dessas máquinas e ele me disse que, provavelmente, o maldito vírus levou consigo todos os meus arquivos - inclusive a primeira temporada de "Anos Incríveis" que eu acabara de baixar.

Então é isso. O meu gravador e o meu computador ficaram malucos. Eu fiquei puto. Eles, atrevidos, continuam rindo de mim.

Palarveando

Para quem não conhece ainda e para quem já conhece e ficou triste por não vê-los no Centro de Convenções, aí o vídeo "PALARVEANDO" d'Os Poetas Elétricos, vencedor do Curta Natal 2006. A direção é de Ivo Cavalcanti.



Com magia, mas sem poesia

No sábado passado (5), a trupe d'O Teatro Mágico se apresentou em Natal, com o show "O Segundo Ato", no Centro de Convenções. A noite tinha tudo para ser de pura mágica e poesia.

Mágica não faltou, mas a poesia se despediu mais cedo. É que a abertura do show que seria feita pelo grupo d'Os Poetas Elétricos de Natal acabou não rolando.

Em seu site, o grupo divulgou uma carta aberta explicando por que decidiu, na última hora, não participar do evento.

Leia a íntegra da carta:

O objetivo dessa carta aberta ao público é explicar o motivo pelo qual não nos apresentamos nesse último dia 05 de julho de 2008, referente à abertura do show dO Teatro Mágico em Natal, no Auditório do Centro de Convenções. Por respeito ao público, aos nossos fãs, amigos, e à imprensa, achamos que devemos dar essa satisfação.

Antes de tudo, gostaríamos de ressaltar que não temos nada contra O Teatro Mágico (grupo pelo qual temos muito respeito). Infelizmente não chegamos a ver o espetáculo do grupo, nem conhecer ou trocar idéias com os seus integrantes, o que poderia ter sido bem interessante.
Na verdade a noite tinha tudo para ser interessante e mágica também para nós. O lugar, a dimensão do evento, uma possível interatividade com o grupo principal, etc.


Infelizmente partiram da própria produção dO Teatro Mágico os motivos que impossibilitaram nossa apresentação.

Chegamos ao auditório do Centro de Convenções às 10h30min da manhã, e quando pudemos iniciar nossa passagem de som em torno de 1 hora da tarde fomos interrompidos pela produção dO Teatro Mágico que pediu para que parássemos e saíssemos do palco, pois eles precisavam passar o som deles e nós estávamos atrasando esse trabalho. Voltamos mais tarde para passar o som, às 16h30min, mas a organização dO Teatro Mágico não saiu mais do palco até praticamente às 19 horas (mesmo todos sabendo que o evento estava marcado para começar às 18 horas, que havia uma banda para fazer a abertura e que a mesma ainda não havia passado o som, e que o respeitável público já se acumulava inquieto lá fora, visivelmente irritado com o atraso). Para completar, quando finalmente pudemos subir no palco para passar o som (1 hora depois do horário que o show havia sido marcado para iniciar), não pudemos simplesmente virar um pouco uma caixa de retorno para que o guitarrista Edu Gómez pudesse escutar sua guitarra. O lugar dessa caixa de retorno estava devidamente marcado e ela poderia voltar perfeitamente para o seu devido lugar depois do nosso show, afinal tudo estava sendo acompanhado por um técnico de som competente. Mas o pessoal da produção dO Teatro Mágico foi radical na proibição desse pequeno gesto. Se esse raciocínio deles tivesse fundamento não haveria MADA, DoSol, nenhum festival, nenhum evento com mais de uma banda dividindo o mesmo palco. O pior de tudo foi a forma como fomos tratados pelo Sr. Daniel Pereira (responsável pelo som e representante do Teatro Mágico). O Sr. Daniel Pereira foi altamente arrogante, mal educado, grosso, estúpido, desrespeitoso, preconceituoso, mesquinho, e não só conosco. Entre outras coisas nos colocou (acompanhado da produtora do grupo): que nós estávamos querendo mexer em todo o palco (!), que a luz era uma droga, que o som era uma porcaria, que o lugar não prestava, e que ele já sabia que seria uma merda vir fazer esse show em Natal. Fomos praticamente ignorados todo o tempo por ele, e a impressão que ficou é que ele realmente não queria que nós abríssemos o show.

Enfim, já não bastasse o atraso imenso, já não bastasse não termos passado o som, se quiséssemos fazer o show não podíamos mexer em nada, sequer virar um pouco essa caixa de retorno (que era a única coisa que queríamos fazer). Que teríamos que nos adaptar. Senão não haveria show dO Teatro Mágico. Então longe de nós estragarmos a festa da atração principal e do público ávido para ver a trupe de São Paulo. Ao mesmo tempo também não podíamos estragar nosso próprio show, onde não havia nenhuma condição e mais nenhum clima para ser realizado. Afinal, também temos nosso próprio show, temos nossa dignidade, nosso auto-respeito, e nosso respeito para com o público. Decidimos nos retirar para deixar a festa principal acontecer. Que por sinal, aconteceu com o sucesso esperado. Nossos agradecimentos a outro Daniel, o Daniel Cavalcanti Campos, da produção local que gentilmente nos convidou para fazer o show de abertura. E parabéns ao grupo pelo seu Teatro Mágico. Infelizmente não foi o mesmo teatro do Sr. Daniel Pereira: um teatro sem nenhuma magia, um teatro feio, muito feio.

Depois soubemos que a produtora do grupo reconheceu para a produção local que o técnico Daniel Pereira tinha exagerado. Mas já era tarde. Bem tarde. Ou melhor, bem noite: já estávamos longe, chorando o vinho derramado, fazendo o titânico dever de casa da anti-escola de atitude-rock que também veio lá da terra da garoa: "não vou me adaptar"...

Os Poetas Elétricos

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A resposta de Bogotá

Ministro da Defesa da Colômbia nega pagamento aos guerrilheiros presos na operação que libertou Ingrid Betancourt

Da Folha de São Paulo:

Bogotá acusa mediador suíço de laços com as Farc

O ministro da Defesa da Colômbia, Juan Manuel Santos, acusou o mediador suíço Jean Pierre Gontard -que negociava com as Farc com a anuência de Bogotá dias antes do resgate- de ter sido portador de US$ 500 mil que seriam da guerrilha apreendidos na Costa Rica, em março último.

"O único que digo é que esse senhor Gontard vai ter que explicar porque aparece nas mensagens de Raúl Reyes", disse Santos em entrevista publicada ontem pelo jornal colombiano "El Tiempo", pró-governo.

O ministro faz referência aos e-mails e textos supostamente encontrados nos computadores de Reyes, número dois das Farc, morto em março.

A Embaixada da Suíça divulgou nota ontem na qual cita a acusação de Santos e diz que o país já entregou a Bogotá, "no marco dos contatos diplomáticos", "seu ponto de vista sobre esses assuntos". O texto alude ao trabalho de Gontard para a resolução de um seqüestro de funcionários de uma multinacional pelas Farc, em 2000, que pode ter envolvido dinheiro.

A nota também explica que Gontard é um conselheiro externo do governo, mas não um diplomata suíço. E que seu trabalho como mediador de França, Suíça e Espanha -os países amigos autorizados a tentar um acordo com as Farc-, requer "certa independência". "Nem suas ações nem suas declarações comprometem necessariamente o governo."

Leia mais aqui.

Eleitor deve julgar no voto candidatos com "ficha suja"

Vale a pena ler a entrevista de Oded Grajew na Folha. O empresário é idealizador do Fórum Social Mundial e criador do movimento Nossa São Paulo, que reúne 500 organizações civis e conseguiu aprovar uma lei municipal que obriga o futuro prefeito a detalhar com índices e prazos o quanto pretende melhorar em cada setor.

Grajew defende que o eleitor deve decidir no voto sobre inelegibilidade do candidato. Para isso, a lista com os nomes dos candidatos que respondem a processos na Justiça deve ser de conhecimento público para que o eleitor tenha condições de fazer o seu julgamento.

Para ler a entrevista na íntegra, clique aqui (somente assinantes da Folha ou do Uol).

O preço da campanha

Da coluna Painel da Folha de São Paulo, hoje:

Quanto vale. ACM Neto (DEM) estimou a campanha mais cara de Salvador: R$ 8 milhões. Depois vêm o prefeito João Henrique (PMDB), com R$ 5 mi, e Walter Pinheiro (PT), com R$ 4,6 mi. Antonio Imbassahy (PSDB), com Duda Mendonça e tudo, prevê gastar singelos R$ 3,9 mi.


Salvador é o quarto maior colégio eleitoral do país. Natal é apenas o 22º, segundo dados do TSE. Teoricamente, uma campanha majoritária em Salvador deveria ser mais cara que em Natal.

Mas parece que essa lógica não se aplica por aqui. De acordo com especulações veiculadas na imprensa local, o custo estimado das duas maiores campanhas majoritárias em Natal é de R$ 10 milhões.

domingo, 6 de julho de 2008

[Quase] Tudo novo, de novo...



Então, é isso, sei lá, a vida muda, a gente muda, o pêndulo do destino conspira às vezes a favor, outras vezes contra.

O fato é que voltamos ao endereço antigo do blog. A mudança de endereço não deu muito certo.

Mas agora em vez de "Contraponto", o blog se chama "Blog do Alisson".

Vale tudo


Político em campanha faz tudo pra chamar a atenção do eleitor. Isso é aqui em Natal e em qualquer lugar do Brasil. Li na Folha Online que Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, em visita ao Capão Redondo neste domingo, posou para fotos ajoelhado numa igreja, providenciou uma ambulância pra socorrer um morador doente, ajudou a tirar um carro de um barranco e, no caminho de volta, parou em uma padaria, onde pediu café e um pão na chapa.

O final do relato da Folha Online é que é o mais engraçado: "Ele deu uma das bandas do pão a um militante e a outra caiu no chão depois de dar a primeira mordida. O candidato se abaixou, recolheu o pão, disse que não havia problema e continuou a comer."

Dá pra acreditar?!

Tentei achar uma foto do Alckmin comendo pão, mas não consegui. Na falta, essa aí acima, com ele tomando água de coco, serve.

A voz dissonante

Colômbia: Prefeito de Bogotá rechaça terceiro mandato para Uribe

Da Agência Brasil:

Depois do resgate de Ingrid Betancourt e outros 14 reféns, na última quarta-feira (2), a popularidade do presidente Álvaro Uribe, que já era alta, disparou. Qualquer pessoa em quem se esbarra em Bogotá fala bem dele. Pesquisa do Instituto Yanhaas divulgada sexta-feira (4) mostra que 91,72% dos colombianos aprovam a gestão Uribe. Cresce a pressão para que a Constituição seja mudada, permitindo que ele dispute o terceiro mandato.

Para avaliar este cenário político, a Agência Brasil entrevistou um dos oposicionistas mais representativos da Colômbia: Samuel Moreno Rojas, prefeito de Bogotá, terceira maior cidade da América do Sul e principal centro econômico do país, onde vivem 7,5 milhões dos 45 milhões de colombianos.

Moreno integra o Pólo Democrático Alternativo, surgido em 2006 com a fusão do Pólo com a Aliança Democrática – que, por sua vez, foram formados em 2002, a partir da aglomeração de diversos partidos de esquerda, numa reforma política que acabou com as agremiações nanicas, algo que o Brasil esboça fazer.

A esquerda continua sendo minoritária em âmbito nacional, frente à hegemonia de Uribe, mas tem maioria em Bogotá. Além disso, Moreno tem no currículo a maior votação da história da capital, pois foi eleito em 2007 com 915,7 mil votos, batendo por 2 mil votos o recorde de seu partidário e antecessor Luis Eduardo Garzon.

É com essa autoridade que Moreno rechaça veementemente a possibilidade do terceiro mandato presidencial, embora reconheça o sucesso da operação militar que resgatou sua amiga Ingrid Betancourt. Amiga que não poupou elogios ao governo Uribe ao deixar o cativeiro. Mas sobre isso Moreno prefere não se aprofundar e esperar para ver como o espectro político vai se acomodar.
Leia a integra da entrevista, realizada em conjunto com a TV Brasil.


Como fica a esquerda colombiana com a libertação de Ingrid e o fortalecimento de Uribe?

A libertação, indiscutivelmente, é uma ação muito importante para as Forças Armadas. Mas de maneira alguma fecha a porta de um acordo humanitário, porque mais de 2 mil pessoas continuam seqüestradas na Colômbia. Então todas estas mobilizações, ações da cidadania, tudo que fazemos é muito importante continuar. Não vamos descansar ate que o seqüestro deixe de ser arma política e não reste sequer um seqüestrado na Colômbia.

Há uma porta aberta para que o xadrez político se jogue apenas no campo das idéias.

Exatamente. Rechaçamos de maneira enfática a luta armada e violência contra a população civil. É nas urnas, no processo democrático, que se devem resolver os problemas da Colômbia.

Estão todos dizendo que Uribe é imbatível, que terá um terceiro, quarto, quinto mandatos...

Eu fui congressista muitos anos e me opus à reeleição presidencial. Mais do que das pessoas, deve-se lutar pela reeleição das idéias e das propostas. Claro que a conjuntura é favorável pelos índices tão altos de popularidade do presidente, mas se considerarmos que o processo eleitoral será daqui a dois anos, muita coisa pode mudar. Também considero que mudar a Constituição para permitir a reeleição de uma pessoa fecha os espaços da democracia.

Hoje em dia fala-se de um referendo para julgar a reeleição de Uribe, que está sendo questionada na Justiça. O que esta havendo?

O que a Suprema Corte questionou é o procedimento por meio do qual se permitiu a reeleição, não o resultado das urnas, já que Uribe obteve um triunfo inquestionável [o presidente venceu com 62% dos votos]. A Suprema Corte pediu que a Corte Constitucional revise a sentença que permitiu a reeleição, e eles disseram que não é mais uma questão que possa ser revisada. Estamos pendentes dos termos definitivos dessa sentença.

O quadro de terror favorece um terceiro mandato de Uribe?

Oxalá não, que todas estas ações não sejam interpretadas como uma futura e próxima reeleição. O país não pode legislar por causa de uma conjuntura, de umas ações que foram positivas, importantes. Esperamos que não mudem a Constituição e possa haver outros candidatos e candidatas em 2010.

É verdade que seu avô, o general Gustavo Rojas Pinilla, foi o único presidente militar da Colômbia no século passado?

Moreno - Sim, ele foi presidente de 1953 a 1957.

Como alguém com ascedência militar vira um político de esquerda?

Porque as idéias do nosso partido sempre tiveram profunda convicção social, a favor dos interesses dos mais necessitados, da imensa maioria dos habitantes. Assim como meu avô, que foi militar pelas idéias e grande parte de seu governo foi focado em idéias sociais, no reconhecimento dos mais pobres e vulneráveis.

[Foi durante o mandato de Pinilla que as mulheres ganharam o direito de votar, por exemplo. O general assumiu o poder em um golpe de Estado na época chamada de La Violencia, período de 12 anos marcado por terrorismo, assassinatos e destruição de propriedade, iniciado com o assassinato de um líder liberal.

Analistas projetam uma dupla com Ingrid como candidata a vice-presidente de Uribe. Você acredita nisso?

Não sei. Aqui na Colômbia acontecem tantas coisas em tão pouco, que é impossível dizer qualquer coisa que vá acontecer daqui a dois anos.

Que relação política o senhor tem com Ingrid?

Tenho uma relação de longa data. O pai dela, Gabriel Betancourt, foi ministro da Educação do meu avô. Conheço Ingrid desde pequena, fomos colegas no Senado e nossas famílias são muito próximas. Tive a oportunidade de falar com ela e dar-lhe as boas-vindas.

Mas parece que agora ela apóia Uribe fortemente. Ou será só algo momentâneo?

É que a operação de resgate foi exitosa e muito importante para ela. Vamos esperar para ver o que acontece.

Terceiro Mandato

Pra Uribe pode?



O post abaixo levanta a possibilidade de que a libertação de Ingrid Betancourt teria sido uma armação para favorecer o presidente Álvaro Uribe e sua intenção de concorrer a um 3º mandato na Colômbia. Segundo esta versão, sustentada pela Rádio Suíça Romanda (RSR), o governo colombiano teria pago 20 milhões de dólares ao guerrilheiro de nome César, carcereiro de Ingrid, em troca da sua libertação. A história de "operação cinematográfica", sem nenhum tiro, teria sido uma farsa. O repórter Frédéric Blassel, da RSR, comenta que o vídeo do resgate liberado pelo governo colombiano não mostra cenas de rendição do carcereiro nem dos demais guerrilheiros das Farc.

Nota do blog de Ricado Noblat, reproduzinho trecho de matéria do jornal O Globo deste domingo, também menciona que o vídeo do resgate foi editado e não foram mostradas as cenas da rendição dos guerrilheiros:

"As imagens do resgate de Ingrid Betancourt , exibidas sexta-feira pelo governo da Colômbia, eram na verdade cerca de apenas 20% do material registrado em vídeo. Só o presidente Álvaro Uribe e o alto comando militar têm acesso ao original.

O filme foi editado de forma a camuflar alguns trechos - de imagem e som - e também manter em sigilo detalhes que poderiam comprometer futuras ações. A ausência mais sentida na filmagem é a do momento em que o Comandante César, codinome do guerrilheiro Gerardo Antonio Aguilar Ramírez, e seu companheiro foram dominados pelos agentes."

Ainda vai levar tempo até sabermos detalhes dessa operação e poder ter certeza se foi ou não uma encenação - se é que um dia saberemos.

Mas o fato é que o episódio fez disparar a popularidade de Álvaro Uribe e seus planos para um terceiro mandato ganharam aprovação dentro e fora da Colômbia.

Não houve, até aqui, nenhuma manifestação contrária a um terceiro tempo do governo de Álvaro Uribe na grande mídia brasileira.

Não há nenhum clamor a favor da "democria" e da "alternância de poder" na América Latina. Ninguém considera estranho que Álvaro Uribe queira mudar a Constituição da Colômbia para ficar mais tempo no poder.

Não se fala em "golpe" e ninguém classifica o presidente colombiano como "personalista" ou "centralizador". Álvaro Uribe é praticamente um consenso na imprensa brasileira.

Eliane Cantanhêde, na Folha de hoje, chega a insinuar uma crítica velada ao presidente Lula por não endossar as manifestações pró-terceiro mandato para Uribe.

"A posição brasileira pode causar constrangimentos na viagem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva programa para os dias 18, 19 e 20 para a Colômbia. No último dia, ele participará, em Letícia, das comemorações pela data nacional do país, que podem se transformar num enorme ato público de apoio ao terceiro mandato de Uribe", escreve a colunista da Folha.

Ela ainda compara os índices de popularidade de Lula e de Uribe, como se quisesse dizer que a aprovação recorde do colombiano o qualificasse ao terceiro mandato: "Se Lula tem um índice alto de aprovação, mais de 60%, o de Uribe é recorde, mais de 80%, e com tendência a subir."

Vocês se lembram como a mídia brasileira se comportou quando o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, tentou mudar a Constituição de lá para concorrer a um terceiro mandato?

Vocês se lembram também do alvoroço que a mídia fez quando se levantou a hipótese de um terceiro mandato para o presidente Lula? Ressalte-se, neste caso, que o próprio presidente sempre refutou esta idéia, mas a mídia tratava disso como se fosse caso de segurança nacional e falava que o Lula e o PT queriam instituir um regime hegemônico no país.

Mais uma vez, a mídia deixou a máscara cair.