Em 2004, quando era editor do Jornal União, impresso dedicado ao segmento evangélico, escrevi um editorial ("Equilíbrio Distante") tratando da relação entre os princípios do jornalismo e do cristianismo.
Três anos depois, o texto continua atual - não por mérito deste escriba (preferiria que minhas palavras caíssem na efemeridade), mas pela manutenção dos mesmos vícios que ainda impedem o cumprimento da função social do jornalista.
Eis alguns trechos do editorial:
"O jornalismo do 'Sim, Senhor!' é quase uma unanimidade pelas bandas de cá. Muitos [jornalistas] preferem trair seus leitores em benefício próprio. A 'adulação' ganha contornos sutis e dissimulados. Alguns aspectos [da notícia] são ressaltados, enquanto outros são disfarçados, conforme a prioridade do momento. A verdade fica em segundo plano, sob custódia do capital - afinal, 'quem paga a conta diz a hora de se levantar da mesa'.
Como jornalista, não deveria me deixar inclinar de um lado para o outro ao sabor das pressões sociais, econômicas, políticas e ideológicas. (...) O jornalismo pressupõe o exercício da crítica, coragem para discordar [das versões oficiais], ousadia para denunciar o erro [não apenas dos pequenos, mas principalmente dos poderosos] e humildade para reconhecer o próprio erro.
Lamentavelmente, um grande número de jornalistas não tem compromissos morais. Aqueles que não seguem 'as regras do jogo' são silenciados. Alberto Dinnes [apresentador do programa Observatório da Imprensa da TV Cultura] foi demitido do Jornal do Brasil depois de ter criticado governantes e o próprio JB. 'Ao aceitar um salário, [o jornalista] desliga a sua consciência e despluga o seu senso crítico. Ao trabalhar e ganhar, perde o direito de exercer o seu discernimento. Proibido de cogitar e existir, abdica da sua humanidade', escreveu Dinnes num desabafo indignado.
Por essas e outras, nosso discurso nunca foi tão desacreditado. Nos confundem com qualquer cão de guarda, que se submete à lógica de que tudo está à venda".
Naquele ano, estava no 3º período do curso lá na UFRN. De lá para cá, minha frustração com o mercado de jornalismo (não com o jornalismo propriamente dito) só aumentou.
Alguns colegas de curso diziam que estavam interessados apenas no diploma, que abriria as portas das assessorias de imprensa da vida (provavelmente em algum gabinete político).
Nunca esqueci o que uma companheira de curso disse um dia na sala de aula: "Eu quero ser igual à Fátima Bernardes". Eis o projeto de vida daquela futura (de)formadora de opinião! A sociedade financiara o ingresso daquela jovem na universidade pública e o retorno que ela planejara lhe dar [à sociedade] seria sentar-se atrás de uma bancada de televisão e ler o texto do teleprompter.
Todos os anos, a universidade forma algumas dezenas de novos jornalistas. Muitos saem dos bancos acadêmicos com a consciência "desligada" e o senso crítico "desplugado", como escreveu Dinnes.
O jornalista Ricardo Noblat definiu o jornalista como alguém cuja missão é "socorrer os aflitos e afligir os poderosos". Quantos coleguinhas acreditam nisso?
sábado, 7 de abril de 2007
Hoje é dia do jornalista
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2 comentários:
Feliz Dia do Jornalista!!!(é atrasado, mas a intenção é que importa!)
Já tinha deixado claro, Alisson,em comentários anteriores, que gosto muito de sua postura, enquanto profissional da comunicação.Você tem a consciência de que a notícia não é um objeto ou um patrimônio do jornalista(Como muitos anônimos acreditam).A notícia é um bem público, pois advém das relações sociais, e o jornalista é apenas um veículo transmissor e disseminador das idéias sociais, com o diferencial de além de informar,declarar pontos de vista e fazer surgir na sociedade a consciência crítica da transformação do presente e construção de um bem-estar futuro.
Portanto, os anônimos que me perdoem, mas informar não é manipular conforme nossas conveniências, é se despir dos preconceitos e disseminar o conhecimento; pois este não possui religião, sexo, idade,partido político ou etnia.
Enfim, feliz dia do reportador das notícias, dos reais profissionais!!
Caro Alisson,
Creio que conheces bem minha lista de ressalvas que costumo classificar de três mitos ou a missão messiânica da mídia: imparcialidade, "informar tudo a todos", mola "mestra" da democracia. Mas tenho de reconhecer que estes mitos só são aplicáveis a quem a analisa/processa e informa na condição de “deuses doutrinando incautos”. Definitiva e felizmente, este não é o teu caso. É o exercício da crítica - em seu mais amplo sentido - que nos torna seres humanos mais agradáveis e profissionais competentes. Parabéns!
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