quarta-feira, 4 de abril de 2007

Revisão crítica da vitória do Alemão

Por Ricardo Calil no blog No Mínimo:

"Como todos sabiam, Alemão venceu ontem a sétima edição do “Big Brother Brasil” (apesar da previsibilidade, o desfecho teve forte carga emocional). Alguns posts abaixo, arrisquei alguns motivos para sua vitória. Eduardo Valente, editor da revista eletrônica Cinética e autor do melhor artigo já escrito sobre o programa, enviou por email alguns acréscimos críticos bastante pertinentes sobre o texto. Com a permissão de Valente, tomo a liberdade de reproduzir abaixo alguns trechos editados:

'Queria só adicionar duas coisas: a primeira é que o grande barato do Alemão, sua grande novidade, é que ele era um personagem que nenhum roteirista conseguiria escrever, só mesmo um reality show permite existir. Isso tanto pela fuga constante dos estereótipos quanto pelo alto grau de contradição e complexidade - algo que roteiristas, em seu simplismo psicologizante, detestam.

A outra coisa é que o Alemão NUNCA FOI espectador do programa (me convenci na visita do Paulo Ricardo, ao ver as duas outras finalistas cantando cheias de emoção o tema do programa, enquanto Alemão CLARAMENTE não sabia cantar a música - o que, no fim das contas, mostra que ele não sobresignifica a canção como elas, o que só pode acontecer por desconhecer mesmo o contexto dela na abertura do programa).

Isso, a meu ver, ajuda a entender porque ele parece tão diferente. Esse distanciamente brechtiano, afinal, também era incorporado por uma Carol ou uma Analy (as meninas metalinguísticas), só que elas se pensavam como personagens o tempo todo. E, ao fazerem isso, simplesmente nunca se permitiram existir como seres humanos lá dentro (leia-se perder a linha, se apaixonar, beijar e passar a mão em quem for, quase sair na porrada etc.), algo que você não faz mesmo, se pensar nas câmeras o tempo todo.

Então, o que acho mais incrível é que esse personagem brechtiano nasce de uma combinação ainda mais improvável de ingenuidade quanto ao formato do programa e extrema compreensão intuitiva da sua dinâmica.'

O texto e email do Valente mostram que o debate de idéias sobre a indústria cultural pode ser mais complexo e civilizado. Seria ótimo se a gente pudesse manter a conversa nesse nível daqui em diante."

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