quarta-feira, 4 de abril de 2007

As palavras que uso

Por Marcus Ottoni

Minha arma são as palavras. Podem não ser letais, tão pouco derrubar governos, mudar opiniões ou reeditar o mundo. Mas são minhas, são a arma que tenho e delas eu não abro mão.

Dizem até que são pobres, sem profundidade, sem essência, sem significado, sem coisa alguma, sem sei lá o quê. Mas são as palavras que conheço, que uso, que manipulo.

Dizem, também, que são bobas, ingênuas, infantis, românticas e desencaixadas da realidade virtual do mundo de hoje. Há quem as considere fúteis, amontoadas, sem nexo, sem veneno, sem vida ou imagem. Mas são elas, as palavras, a única arma que disponho para enfrentar o dia-a-dia.

E palavras não precisam de adjetivos, muitas delas já o são. E são poderosas. Não saberei eu usá-las sabiamente, com a profundidade dos oceanos e a clareza de um céu de brigadeiro? Ou quem sabe, com a hipocrisia dos religiosos e a demagogia dos oradores de ocasião?

Faço o que posso com as palavras que conheço. Uso-as não com a vaidade dos grandes escritores, dos intelectuais, dos mestres do conhecimento literário. Uso-as na simplicidade do povo, do caipira interiorano que sabiamente junta as palavras para divertir-se com a vida. Uso-as como as usa o nordestino, o sertanejo nato, mesclando umas nas outras e criando novas palavras com velhos sentidos, num dialeto próprio de quem se confraterniza com os desejos de Deus e da natureza sabe ouvir palavras diferentes que dão sentido à vida.

Uso-as como as usa o trabalhador operário que tem no nascer do sol uma luta diária enfrentando leões que rugem monossilábicos grunhidos de poder e fama, misturando sons de diversas origens numa linguagem urbana com palavras incompreensíveis para quem vive fora da realidade operária. Uso-as como as donas-de-casa, as lavadeiras, as prostitutas, as presidiárias, a excluídas: rudes em seus lábios, mas brandas em seus corações de mulher, mãe e criatura.

Uso todas elas, principalmente as ditas silenciosamente pela criança por meio de seus olhos e gestos; reprovando, acatando, consentindo, revoltando-se com um gesto autoritário que poucas palavras utiliza para punir e castigar quem merece amor e carinho.

Uso-as sim! Livre, como a única arma que tenho para combater as palavras malditas pelos políticos que as carregam ocultas em paletós e gravatas, vomitando bravatas em nome da democracia para pilhar o povo que os escolheu por causa das palavras traiçoeiras que ouviram. Não as uso como eles. Uso-as contra eles.

2 comentários:

Maumau disse...

Olha eu aqui de novo... e de novo para falar do belo texto de Marcus Ottoni, com exceção do último parágrafo, do qual discordo. Soa-me um tanto messiânico. Me fez lembrar o Mito da Caverna, de Platão, na luta contra ignorância representada pela escuridão da caverna, pela privação da luz... , ou ainda – entrando no clima cristão da páscoa – o Sermão da Montanha, de Jesus, o homenzarrão que morreu por mim (ao menos é o que dizem. Mas quantos homens já não morreram em meu nome, para que eu pudesse falar o que penso e o que não sei pensar, professar meu ateísmo, minha homossexualidade...)
Só para efeito de esclarecimento: essa visão dicotômica da política, da culpa dos indivíduos, que existe é bem verdade, – afinal o que é a sociedade se não o agrupamento dos indivíduos? –, mas que fica vazia quando deslocada das estruturas, dos processos de continuidade que movem à sociedade brasileira desde tempos imemoriais...
Sim, uma opinião pessoal: acho que deverias escrever mais, já que o blog é teu. Respeito tua admiração pelo Marcus Ottoni, mas que tal participar de maneira mais ativa, falar um pouco mais por meio de suas próprias palavras?

Anônimo disse...

Eita! alguém tem coragem por aqui! Desculpe a demora em voltar ao blog, é que não pude acessar a net nos últimos dias. Fiquei parcialmente feliz por ter postado meu comentário. Mas só parcialmente, porque tu castrou, sensurou minhas palavras sem motivo. Não havia alí nada "implucável", nem ataquei sua "honra". Só disse que o motivo pelo qual tinha postado aquela leseira de notícia tinha sido outro. Não entendo como alguém tão bem (in)formado, acha que ser chamado de gay é uma ofensa. Vê se aprende com o carinha aí, de cima! Dos comentários dele, pouco se aproveita. Acho que comenta só pra "puxar teu saco", mas pelo menos, parecer ser verdadeiro e original no que expressa, pricipalmente quando fala dele mesmo...