terça-feira, 18 de março de 2008

Genocídio Cultural

Em editorial, Folha de São Paulo fala sobre violação dos direitos humanos e "genocídio cultural" praticado pela "ditadura brutal" da China contra o Tibete


A CHINA, apesar dos ares de modernidade propiciados por seus invejáveis índices de industrialização e crescimento econômico, permanece uma ditadura brutal.

Como o governo de Pequim controla todas as informações e tornou o Tibete território proibido para jornalistas, é difícil avaliar o que lá ocorre. Tibetanos no exílio afirmam que a repressão aos protestos antichineses deixou mais de cem mortos neste fim de semana, enquanto Pequim admite pouco mais de uma dezena -a maioria de chineses da etnia han, que foram violentamente atacados por tibetanos.

O retrospecto das autoridades chineses recomenda ceticismo com declarações oficiais. Ainda assim, pelas informações disponíveis, parece que Pequim está evitando um banho de sangue às vésperas dos Jogos Olímpicos, que ocorrerão em agosto na capital chinesa.

A moderação interessada de hoje não torna menos condenável a política de Pequim para o Tibete, que vem sendo governado com mão-de-ferro desde 1959, após o fracasso da revolta anticomunista que levou o dalai-lama a exilar-se. Além da violação sistemática dos direitos humanos, as tradições do país vêm sendo desrespeitadas -numa espécie de "genocídio cultural", como diz o líder espiritual.

O ideal seria encontrar solução acordada, pela qual os tibetanos gozassem de autonomia de fato. O dalai-lama já declarou aceitar essa solução, abrindo mão do pleito por independência. A soberania sobre o Tibete é importante para Pequim, pois a região, rica em recursos minerais, ocupa mais de 10% do território do país e extensa faixa de fronteira. Apesar disso, conferir autonomia política e cultural ao Tibete não seria inédito para a China, que já convive com situação similar no caso de Hong Kong.

Nada indica, contudo, que Pequim vá renunciar ao uso da força contra a indefesa população tibetana.

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