sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ministra da Igualdade Racial deixa o governo

Não havia comentado nada aqui ainda sobre a denúncia de uso irregular dos cartões corporativos do governo federal porque preferi deixar passar toda a água por baixo da ponte.

Agora que a ministra Matilde Ribeiro, principal envolvida nas denúncias, anunciou seu pedido de demissão, aceito pelo presidente Lula, acho que é hora de dar meus pitacos.

Matilde Ribeiro comandava a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) desde o início do primeiro mandato do presidente Lula, em 2003, quando a pasta foi criada.

Matilde desligou-se hoje da Seppir após ser acusada de uso irregular do cartão corporativo do governo.

Na entrevista coletiva que concedeu hoje em Brasília, a ex-ministra admitiu que errou ao usar o cartão corporativo, mas disse que foi mal orientada por dois funcionários da secretaria, que já foram demitidos.

“Assumo o erro administrativo no uso do cartão. Os fatos partiram da dificuldade com deslocamento e hospedagem fora de Brasília. Foi um erro administrativo que pode e deve ser corrigido. (...) Fui orientada a usar o cartão", declarou.

A Folha Online informa que, em 2007, as despesas de Matilde com o cartão somaram R$ 171 mil. Os gastos foram divididos entre aluguel de carro (R$ 110 mil) e restaurantes (R$ 5.000).

O gasto considerado mais suspeito, porém, foi o pagamento de uma conta de R$ 461,16 em um free shop, em outubro de 2007. A ex-ministra já havia declarado que usou o cartão no free shop "por engano" e que devolveu o dinheiro em janeiro deste ano.

As coisas pioraram quando o "Jornal da Globo" mostrou ontem à noite que Matilde, mesmo de férias, pagou despesas com o cartão corporativo. Além disso, no feriado do Natal, ela alugou um carro com motorista, pagos com o cartão, apesar de não ter agenda oficial a cumprir na data.

Parece que não havia mesmo outra alternativa para Matilde a não ser sua saída da secretaria. Caso ela permanecesse, a sanha da mídia continuaria a mil e logo este episódio se transformaria na mais nova tentativa de derrubar o presidente Lula.

A saída de Matilde, porém, não pode significar o fim das políticas de igualdade racial, porque estas são políticas de governo, não de pessoas.

Os refratários, como Reinaldo Azevedo, em seu blog no site da revista Veja, clamam pelo fim destas políticas, como as cotas, por exemplo. Ignoram que esta parcela da população sempre foi relegada ao esquecimento. Apregoam que, assim como na economia o "mercado" resolve tudo, na vida social as coisas sempre se arranjam expontaneamente. Não há porque intervir.

Desigualdade e exclusão não desaparecem expontaneamente. O governo precisa e deve intervir. As cotas foram responsáveis, nos últimos cinco anos, segundo informações do site do PT, pelo acesso de 40 mil pessoas ao ensino superior.

Em nota de apoio e solidariedade à ex-ministra, a direção do PT disse que aqueles que são contra as ações do governo que visam a promoção da igualdade racial se posicionam desta maneira por puro preconceito e intolerância.

"Contra tais políticas tem se insurgido, desde o início, a intolerância secular que domina parcela da sociedade brasileira", diz um trecho da nota.

A nota do partido termina afirmando que as políticas implantadas até agora devem ter continuidade, mesmo depois da saída de Matilde Ribeiro.

"O PT tem a convicção de que o governo do companheiro Lula dará continuidade às políticas desenvolvidas pela Seppir."

Um comentário:

wagner lopes disse...

Caro Alisson,
Seu comentário foi muito "técnico" para não dizer brando demais. Em casos como esse em que há um mau uso do dinheiro público, voces da mídia devem ser mais contudentes nos comentários, principalmente, quando na outra ponta, os que estão pagando essa farra, sofrem com a violência, com o caos na saúde e todas as faltas de respeito e seriedade que vivenciamos. Quanto ao comentário do PT, eu ficaria muito surpreso se ele (o PT) não tentasse encobrir coisa errada, e aí vem com esse discurdo de discriminação. Taí a globo prestou um grande serviço ao Brasil,expondo um pouco da sujeira de debaixo do tapete lá de Brasília.
Sds,
Wagner