No capítulo de ontem da novela "Duas Caras" da Rede Globo, o autor Aguinaldo Silva resolveu abordar a situação dos hospitais públicos brasileiros.
Júlia, personagem da atriz Débora Falabela, grávida de Evilásio (Lázaro Ramos), sofre um sangramento e é levada pelo marido a um hospital público. Os pais ricos da mocinha - ela foi explusa de casa pelo pai, quando ele soube da sua gravidez - aparecem por lá para "resgatá-la". O barraco está armado.
A cena pretende retratar o "caos da saúde pública". Para isso, são mostrados pacientes esperando atendimento nos corredores. Fala-se na falta de médicos para atender a todos. Evilásio ameaça "trazer um médico à força" para cuidar da sua mulher. Ele fala com uma funcionária do hospital, que o atende com brutalidade. A funcionária pública é mostrada como uma má profissional, mal educada e insensível ao sofrimento das pessoas.
A situação da saúde pública brasileira está longe de ser ideal, mas também está longe da situação grotesca pintada pela novela da Globo.
Eu não tenho plano de saúde e faço uso dos hospitais públicos quando adoeço. Já vi filas de pessoas esperando atendimento e pacientes sendo atendidos nos corredores. Mas nunca vi nenhum funcionário de nenhum hospital público tratando um paciente com a agressividade que o funcionário fictício tratou o personagem da novela.
Mais uma vez, Aguinaldo Silva mostrou que é um autor intragável e refratário até os ossos. Ao tentar fazer a representação de um problema social sério, consegui apenas produzir mais uma cena patética da sua novela de péssimo gosto - aliás, uma das piores novelas produzidas pela televisão brasileira em todos os tempos.
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