sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Tava demorando

Perguntaram ao presidente Lula o que ele tinha a dizer sobre o bate-boca entre o rei Juan Carlos da Espanha e o presidente Hugo Chávez da Venezuela, ocorrido na semana passada, na reunião da Cúpula Ibero-Americana, em Santiago, no Chile.

Lula, acertadamente, não tomou partido entre os dois e afirmou que divergências entre chefes de Estados são "parte de um encontro democrático".

O presidente brasileiro, em seguida, contestou aqueles que afirmam que não há democracia na Venezuela.

"Podem criticar o Chávez por qualquer outra coisa. Inventem uma coisa para criticar o Chávez. Agora por falta de democracia na Venezuela não é. O que eu sei é que a Venezuela já teve três referendos, já teve três eleições não sei para onde, já teve quatro plebiscitos", afirmou Lula.

Para Lula, o que não falta no país vizinho é democracia. "O que não falta é discussão. Eu acho democracia é assim. A gente submete aquilo que a gente acredita ao povo e o povo decide. A gente acata o resultado", disse. As informações são da Folha Online.

O que o presidente Lula falou é a constatação do óbvio, mas que a mídia conservadora, contaminada pelo ranço anti-Chávez, não admite.

A definição clássica diz que a democracia é o regime do povo, pelo povo e para o povo. Na Venezuela, essa definição é levada a cabo e o povo participa efetivamente das decisões mais importantes sobre o futuro do país através de plebiscitos e referendos. O mesmo não acontece no Brasil. Pode-se criticar a personalidade de Hugo Chávez e sua falta de habilidade diplomática. Mas não se pode acusá-lo de ditador.

Mas bastou que o presidente Lula falasse o óbvio para a mídia golpista começar a testar hipóteses, segundo a definição de jornalismo proposta por Ali Kamel, todo poderoso do jornalismo global.

A colunista Barbara Gancia, na edição de hoje da Folha de São Paulo, manda o presidente Lula se calar e pergunta (testando hipóteses): "Com suas afirmações, Lula não estará nos dizendo que sua concepção de democracia é a mesma de Chávez?"

Clóvis Rossi, também na Folha de hoje, retorna ao fetiche da re-reeleição e diz que a defesa de Chávez feita por Lula pode significar, testando hipóteses, que o nosso presidente deseja se perpetuar no poder.

"Todas as declarações que Lula fez anteontem a propósito dos esforços de seu amigo Hugo Chávez para perpetuar-se no poder servem, à perfeição, para o próprio Lula", diz Rossi.

O colunista diz ainda que Lula, a qualquer momento, testando hipóteses, pode se deixar seduzir pelo canto da sereia e querer mudar a regra do jogo para ser novamente candidato a presidente.

"Ao contrário do que diz Lula, o problema não é "a continuidade". É, entre tantos outros, mudar a regra do jogo depois de ter jurado defendê-la. Mas, como se viu desde que renegou todas as "bravatas" de oposicionista, desdizer o que disse não é problema para Lula."

Aí eu fiquei pensando aqui com meus botões: quem, quando eleito presidente, mudou de verdade as regras do jogo, com a bola ainda rolando, em benefício próprio?

Essa turma da mídia conservadora tem mesmo memória curta.

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