Em artigo publicado no blog do "Fazendo Média", o historiador, professor e escritor Denilson Botelho narra como começou sua carreira de professor numa escola pública do Rio de Janeiro e, pouco tempo depois, como o sonho de realização profissional se tornou um pesadelo.
"Algumas semanas em sala de aula naquela escola do subúrbio do Rio me fizeram cogitar seriamente de um pedido de exoneração. Aliás, ainda cogito freqüentemente. Se não o fiz até hoje foi por desejo (de ensinar) e necessidade (de trabalhar para sobreviver). Ao perceber que ali – e em cada uma dessas escolas municipais – está montada uma engrenagem cujo objetivo é produzir o fracasso escolar em larga escala, passei a conviver com essa angústia. Afinal, não somos professores em sala de aula, mas sim operadores (ou técnicos do saber, como diria Sartre) de uma cruel engrenagem que produz analfabetos funcionais em massa. Tudo é feito de modo a incutir nos professores um profundo sentimento de impotência diante desse sistema, cuja última e mais eloqüente inovação foi a aprovação automática."
No artigo, ele também comenta "o discurso recorrente que a grande mídia produz a respeito desse quadro desanimador" e se diz "cansado de ler nas páginas dos grandes jornais e revistas do país as mesmas tentativas esfarrapadas de explicar e solucionar o problema". "Sempre acusam o professor e afirmam que aumentar os salários dos docentes não vai resolver nada. Ora, até quando vamos aturar tamanho cinismo?", questiona-se.
De acordo com Denilson, "não há como começar a desmontar essa gigantesca engrenagem que fabrica analfabetos funcionais (...) sem alterar as condições de trabalho dos professores."
Alterar as condições de trabalho significa, na prática, dar ao professor uma remuneração digna e satisfatória: "Com salários suficientes para manter suas famílias e dedicando-se exclusivamente ao ensino em uma só escola, aí sim seria razoável cobrar progressivamente maior qualidade no trabalho desenvolvido em sala de aula. Antes de se criar essas condições mínimas e básicas, não há como esperar mudança expressiva no ensino público no país."
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