A sociedade teme e, naturalmente, escandaliza-se com os assassinatos nas áreas urbanas, mas ignora as disputas no campo
Da Carta Capital desta semana:
"Uma guerra entre traficantes com a interferência da polícia, durante dez horas, matou no Rio de Janeiro, em um único dia, 13 pessoas. Nos dias seguintes, outras tantas morreram. A violência no Morro da Mineira paralisou o centro da cidade, parte da zona sul e feriu inocentes. Nem o sossego do Cemitério do Catumbi sobreviveu à guerra urbana. Os bandidos esconderam-se em covas enquanto a polícia procurava o melhor ângulo nas salas de velórios. Os crimes, brutais, mereceram destaque no noticiário. Como sempre.
Da Carta Capital desta semana:
"Uma guerra entre traficantes com a interferência da polícia, durante dez horas, matou no Rio de Janeiro, em um único dia, 13 pessoas. Nos dias seguintes, outras tantas morreram. A violência no Morro da Mineira paralisou o centro da cidade, parte da zona sul e feriu inocentes. Nem o sossego do Cemitério do Catumbi sobreviveu à guerra urbana. Os bandidos esconderam-se em covas enquanto a polícia procurava o melhor ângulo nas salas de velórios. Os crimes, brutais, mereceram destaque no noticiário. Como sempre.
A mesma reação indignada, no entanto, não acontece quando a violência é no campo.
Na segunda-feira 16, a Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, divulgou o balanço de conflitos no campo em 2006. Todos os números relacionados à violência e à terra caíram na comparação com 2005. Foram menos conflitos (de 777 para 761), menos ocupações (de 437 para 384) e um menor número de assassinatos (de 38 para 35). A boa notícia talvez merecesse melhor tratamento da mídia.
O movimento campesino arrefeceu em ano de eleição? Talvez. Mas nem por isso o problema é menos dramático em um país onde a reforma agrária está atrasada em mais de 100 anos e cerca de 4 milhões de sem-terra vagam pelo País nem sempre conduzindo a luta da forma mais adequada e, por isso, mais eficaz. Um pedaço de terra por si só nada resolve. Exige uma ação integrada à oferta de infra-estrutura socioeconômica, sem a qual o que se chama de reforma agrária volta ao pó.
A semana também marcou os 11 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, no sul do Pará. Uma das marcas do governo Fernando Henrique Cardoso que, ao cruzar os braços diante da ação da Polícia Militar que resultou na morte de 19 trabalhadores rurais, manchou a biografia do sociólogo. Os mortos eram todos militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Outros 69 ficaram feridos no confronto.
A governadora do Pará, Ana Júlia (PT), tentou remediar o mal. Por meio de decreto, assumiu a responsabilidade pelo atendimento e reparação de todas as famílias vitimadas pelo crime. As pensões serão de até 570 reais.
O massacre de Eldorado dos Carajás fez parte da pauta de protestos do MST em todo o País. A pobre e preconceituosa referência da mídia transformou as ações em um Abril Vermelho. Uma referência muito mais política do que as cores da bandeira do MST. Os culpados até hoje não foram punidos. A impunidade é a mãe da violência no campo.
O dia 17 de abril é conhecido como o Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Pelo menos 11 estados protestaram. Na Bahia, o governador Jaques Wagner (PT) recebeu os manifestantes e usou o boné do MST. Não se teve notícia de confronto com a polícia ou ruralistas. Em alguns estados, estradas foram interrompidas. Em Pernambuco, engenhos foram queimados.
Uma pauta de reivindicações com dez itens foi protocolada no Palácio do Planalto enquanto Lula visitava a Venezuela. Em parte do texto, uma crítica: “Pouco ou nada foi feito para uma verdadeira reforma agrária”. À Folha de S.Paulo, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel (PT-RS), disse que a pauta “é vaga” e as ações “ferem o bom senso”. Pode ser que sim.
Mas, por outro lado, onde está o bom senso dos governantes diante da situação de 140 mil famílias acampadas à espera de um programa de assentamento?"
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