Defensor do uso de embriões humanos na pesquisa de células-tronco, o cientista Antonio Carlos Campos de Carvalho alertou o público da audiência, realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), sobre o atual estágio das pesquisas de células-tronco embrionárias e adultas.
Para Antonio Carlos, que é professor titular do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), “o primeiro compromisso do cientista é com a verdade e a ciência, como o direito, admite o contraditório”. Assim o professor lembrou que “um conceito científico, principalmente se este for um dado experimental, só se estabelece depois que ele consegue ser reproduzido por diversos grupos de pesquisa em todo o mundo”. Dessa forma, advertiu o cientista, “utilizar exemplos únicos de pesquisa demonstrando esse ou aquele fato, não constitui uma verdade científica estabelecida”.
Carvalho é médico, doutor em ciências pela UFF, coordenador de ensino e pesquisa do instituto nacional de cardiologia, professor-titular do Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque, membro da Academia Brasileira de Ciências e membro da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento.
O doutor Antônio Carlos declarou sua crença de que “a vida é um contínuo, e do ponto de vista biológico, o óvulo é uma célula viva, e se não for fecundado por um espermatozóide, obviamente irá morrer, da mesma forma que o óvulo fertilizado e um zigoto, se não encontrarem um útero materno inevitavelmente irão morrer”. Com isso o pesquisador informou que não iria discutir a questão ética sobre a origem da vida, limitando sua apresentação à questão específica das células-tronco sob o aspecto da pesquisa científica.
Características de células embrionárias e problemas na sua utilização
A princípio o doutor Carvalho estabeleceu as características das células-tronco embrionárias e adultas. As primeiras, revelou o cientista, são pluripotentes enquanto as adultas são denominadas multipotentes, o que determina o potencial de diferenciação de cada uma. Em relação às embrionárias, explicou, “existe um conceito científico solidamente estabelecido de que uma célula-tronco embrionária, seja ela de camundongo ou humana, é capaz de gerar todos os tipos celulares que compõem os tecidos e órgãos de nossos organismos, desde as células do sistema nervoso, como as células do pâncreas, produtoras de insulina e mais especificamente, na minha área de pesquisa, os cardiomiócitos que formam o coração”, disse Carvalho.
O médico e pesquisador admitiu que há problemas no uso médico de células embrionárias, razão porque não existem ainda ensaios clínicos utilizando células-tronco embrionárias em nenhum país no mundo. “Essas células não têm identidade autóloga, o que poderia resultar na rejeição das células diferenciadas, havendo necessidade de se tratar os pacientes com imunomoduladores”, declarou Carvalho. Outro motivo para que as células embrionárias não sejam usadas em ensaios clínicos é o fato de que elas podem induzir à formação de tumores. O último problema a ser enfrentado para o uso das células embrionárias é a questão da contaminação com os antígenos de origem animal (vacinas produzidas a partir de plasma animal). Essas são questões que estão sendo pesquisadas por diversos laboratórios para sua resolução.
As células-tronco adultas e suas características
O professor fluminense reafirmou a existência das células-tronco adultas em inúmeros tecidos e fluidos do corpo humano, mas afirmou que, apesar dos inúmeros artigos publicados em revistas e publicações científicas especializadas, entre os anos de 2000 e 2002, dando notícia de que as células adultas teriam uma plasticidade igual à das células-tronco embrionárias, o grau de plasticidade dessas células revelou-se como falaciosa.
O consenso hoje, segundo o professor, é o de que, essa capacidade de transformação das células-tronco adultas não ocorre em sua totalidade, mas ocorre sim “a fusão” entre células pluripotentes e multipotentes, não se tratando, portanto de transdiferenciação celular, mas apenas uma agregação de suas capacidades intrínsecas. Além disso, esse fenômeno só ocorre em 1% (um por cento) dos casos. Se os primeiros estudos fossem verdadeiros, declarou o pesquisador, “seria possível transformar cérebro em sangue, ou transformar sangue em cérebro”.
Compartilhando experiências
O professor Antonio Carlos encerrou sua participação declarando-se defensor da terapia com células-tronco embrionárias, pois “inegavelmente essas células tem um potencial que as células-tronco adultas não têm”. Mas esclareceu que a pesquisa de caminhos terapêuticos com células-tronco adultas deve ser mantida, pois os benefícios atuais com a utilização de terapias com células adultas da medula óssea, por exemplo, têm promovido resultados positivos.
Fonte: STF Últimas Notícias
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