sábado, 21 de abril de 2007

Artigo

A terra das oportunidades

Por Marcus Ottoni

Brasília é a terra das oportunidades. Negar isso seria ser injusto com a capital do Brasil. São tantas e diferentes oportunidades que aqui se tem que motivam brasileiros de todos os rincões do país a aportarem na capital federal. Desde os mais humildes, como os agricultores nordestinos que fugindo da seca e da miséria causada pelo abandono dos Poderes Públicos procuram no sonho de Dom Bosco e na determinação de JK a realização de suas necessidades fundamentais, até os herdeiros políticos dos feudos tupiniquins que, em nome dos espoliados eleitoralmente, perpetuam a desonra da democracia, difamando seus princípios para galgarem os fins que lhes interessam.

São inúmeras as oportunidades que Brasília oferece aos cidadãos brasileiros. Oportunidades que trazem anônimos travestidos de representantes populares para zombar das leis e encher suas contas bancárias de centenas de milhares de reais surrupiados do povo brasileiro e continuar impunes como se o crime cometido fosse conseqüência da democracia que o imputa a representatividade confundida com impunidade.

Oportunidades infinitas de conluio sem que o pecado original da ganância seja punido com a justa pena, já que os trâmites dos impunes são caminhos de uma Justiça diferente dos outros brasileiros que respeitam, temem e cumprem as leis. E por essas oportunidades vão desfilando políticos em novelas mensalíticas; ministros curiosos com a movimentação bancária de caseiros; empresários apadrinhados malipulando recursos financeiros estratosféricos em paraísos fiscais; magistrados barganhando sentenças como caça níqueis de uma mesada contínua, bandidos vestidos de baderneiros organizados de movimentos dos sem não sei lá o quê, ou sem tudo; enfim, tantas são as oportunidades que por maior que seja o crime e de que ordem ele seja, aqui, em Brasília, ele compensa e premia quem comete.

Oportunidades tantas que fazem de um boquirroto fazendeiro, mandatáriodo Poder Público e algoz da lei quando incentiva, irresponsavelmente, ordas de desocupados a invadir terras públicas, patrimônio do povo brasileiro, para usufruir do egocentrismo de ser popular com os bens alheios, perpetuando-se em nome da democracia. Mas o pior é premiar quem cometeu crime de apropriação do bem público desrespeitando a lei imposta ao país, apenas para satisfazer a vontade daqueles cujo benefício da impunidade humilha quem aderiu e submeteu-se a lei e a ordem, em respeito à Constituição Brasileira.

Vender terras públicas sem licitação, diretamente a quem burlou a lei é um escárnio e um desrespeito ao cidadão que paga seus impostos e que vive dentro dos preceitos legais. Premiar grileiros do patrimônio público com benefícios como a impunidade em nome da democracia ou de quem quer que seja ou que nome ou interesse político tenha, é renegar a cidadania e o direito constitucional de que todos são iguais perante a lei, seja quem for e cometa qualquer crime previsto na lei; quebrar sigilo bancário de trabalhador, receber propina de empresário, manipular sentenças em benefício de grupos ou corporação, invadir e destruir patrimônio público, ocupar ilegalmente terras do governo, ou roubar um litro de leite para matar a fome do filho. Compactuar com a impunidade e a criminalidade é tomar o caminho inverso à democracia.

Dentro dessa realidade, o leque das oportunidades alcança, também, os mais humildes, aqueles que vagueiam longe da órbita dos poderosos, como os desempregados, os negros e os pobres assalariados. Eles também têm oportunidades garantidas na capital do Brasil. É a oportunidade dos cinco minutos de fama. Alijados do tal "segredo de Justiça", são expostos na mídia sem pudor, execrados pelos noticiários, humilhados pela polícia e injustiçados pela sociedade que os condena sumariamente para que a "impunidade dos organizados" não seja comprometida pela conscientização de que na capital federal as oportunidades são para aqueles que são mais iguais perante a lei, o que não é o caso da grande maioria do povo brasileiro por não desfrutar da oportunidade de viver numa cidade com "leis de impunidade" que discrimina as oportunidades que a lei determina para todos.

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