sábado, 15 de março de 2008

Um Soneto de Neruda

Na dedicatória que fez à sua mulher em "Cem Sonetos de Amor", Pablo Neruda escreveu assim:

"Eu, com muita humildade, fiz estes sonetos de madeira, dei-lhes o som desta opaca e pura substância e assim devem alcançar teus ouvidos."

O livro é de 1959. Começei a ler ele hoje. Escolhi o Soneto X para vocês:

Suave é a bela como se música e madeira,
ágata, telas, trigo, pêssegos transparentes,
tivessem erigido a fugitiva estátua,
Para a onda dirige seu contrário frescor.

O mar molha polidos pés copiados
à forma recém-trabalhada na areia
e é agora seu fogo feminino de rosa
uma borbulha só que o sol e o mar combatem.

Ai, que nada te toque senão o sal do frio!
Que nem o amor destrua a primavera intacta.
Formosa, revérbero da indelével espuma,

deixa que teus quadris imponham na água
uma medida nova de cisne ou de nenúfar
e navegue tua estátua pelo cristal eterno.

Nenhum comentário: