Em São Paulo, frota de 6 milhões de veículos provoca caos no trânsito
A revista 'Carta Capital' desta semana traz uma reportagem sobre o problema do trânsito em São Paulo, cuja frota de 6 milhões de veículos é a segunda maior do mundo e faz a cidade caminhar para um colapso em seu sistema viário.
Segundo a revista, todos os dias, 800 novos veículos chegam às ruas da cidade. Isso é maior que a média de 500 nascimentos por dia da capital paulistana.
No Brasil, a frota passou de 30 milhões para 50 milhões de veículos nos últimos dez anos.
Especialistas ouvidos por 'Carta Capital' apontam que a saída para o problema é priorizar o transporte coletivo (expansão dos trens metropolitanos e dos corredores exclusivos para ônibus), restringir o uso dos automóveis e planejar melhor o uso do espaço público das cidades, "concentrando as principais redes de transporte nas áreas de maior adensamento populacional."
A realidade, porém, indica que estamos no caminho oposto. Em nove capitais brasileiras, a frota de ônibus caiu 9% e o número de passageiros do transporte coletivo diminuiu 25%. Os dados são da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano.
Para o secretário nacional dos Transportes, Luiz Carlos Bueno de Lima, essa situação é fruto do "culto ao automóvel", que é resultado das "deficiências do transporte de massas". Ele defende que o Estado precisa intervir para modificar esse cenário.
'Carta Capital' ouviu urbanistas e engenheiros de trânsito que indicaram cinco medidas drásticas para solucionar o caos do trânsito em São Paulo:
1. Cinco vezes mais corredores de ônibus;
2. Proibição do estacionamento nas ruas;
3. Pedágio no centro da cidade;
4. Tarifa zero no transporte coletivo;
5. Limite ao licenciamento de carros.
Todas elas são, em maior ou menor grau, medidas polêmicas. A implantação de mais corredores de ônibus envolve tomar parte do espaço disponível aos carros e, em alguns casos, o alargamento de ruas e avenidas, sendo necessário, para isso, a desapropiação de casas e prédios.
A proibição do estacionamento nas ruas é combatida pelos comerciantes, que têm medo de perder clientes. Mas os especialistas dizem que o espaço ocupado pelos carros parados poderia permitir a circulação de outros veículos ou mesmo a delimitação de vias preferenciais para a passagem de ônibus. Londres foi uma das capitais européias que adotou essa iniciativa.
O pedágio no centro da cidade é, provavelmente, a medida mais impopular. A reportagem informa que Londres, Oslo, Estocolmo e Cingapura já adotaram o mecanismo.
Depois de instituir a cobrança, Londres registrou queda de 30% na circulação de carros no centro. As viagens de ônibus e bicicletas aumentaram 20%. Os congestionamentos caíram 30%. Em Estocolmo, o fluxo de carros reduziu 22% no período de testes.
Os que saõ contrários à medida criticam a falta de alternativas de transporte e o fato de pesar mais para os de menor renda.
Em relação à implantação da tarifa zero no transporte coletivo, os especialistas ouvidos por 'Carta Capital' argumentam que a tarifa precisa ser barateada, com uma política de subsídios e de incentivos fiscais. "Mas a gratuidade iria onerar demais o Estado e estimular o uso pouco racional do transporte. É melhor cobrar pouco, mas cobrar”, declarou Marcos Bicalho, diretor-superintendente da Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano.
Finalmente, o limite ao licenciamento de carros é considerada a solução mais drástica. A inciativa foi adotada em Cingapura, onde o custo de cada licença pode chegar a algo em torno de 21 mil reais. Segundo a revista, na última década, a frota de Cingapura cresceu menos de 2,5% ao ano.
Enquanto isso, em terras potiguares...
A frota de Natal é 207 mil veículos - a cidade tem 800 mil habitantes. Há 15 anos, havia apenas 43 mil carros em circulação.
O trânsito na capital potiguar há muito vem dando sinais de esgotamento. Nosso sistema de transporte urbano é ultrapassado e não atende a demanda da população.
O relatório “Tendências, Visão de Futuro e Diretrizes do Plano Estratégico Natal Metrópole 2020”, elaborado pelo Governo do Estado, aponta a urgência de ser ter “um plano integrado de circulação capaz de promover o eficiente uso do sistema viário, em escala metropolitana, cujas finalidades principais seriam as de prover espaços acessíveis para novos empreendimentos de toda natureza e de possibilitar a utilização mais equilibrada das partes mais interiores do sistema viário interior à mancha urbana mais consolidada”.
Algumas medidas foram adotadas, mas ainda são muito tímidas. Natal tem apenas uma avenida com corredor exclusivo para ônibus (Bernardo Vieira), mas a via preferencial é estreita e não oferece condições de ultrapassagem. Basta um ônibus quebrar nesse corredor e estará formado o engarrafamento.
As estações de transferência, onde os passageiros podem trocar de ônibus sem pagar a mais por isso, são uma boa iniciativa, mas é preciso combinar sua utilização com rapidez e conforto par os usuários. Nos horários de pico, o que se vê é a formação de longas filas de ônibus nessas estações, provocando ainda mais lentidão no trânsito.
Fala-se muito na construção de um metrô de superfície para Natal e a Região Metropolitana. Os estudos, ainda insuficientes, indicam que a obra tem um custo muito elevado. "Um corredor de ônibus de alto desempenho pode ser tão eficiente e confiável como um trem”, explica o consultor Paulo Sérgio Custódio à 'Carta Capital'.
Além disso, antes de falar em construção de metrô, seria mais racional melhorar a malha ferroviária já existente, aumentando o número de estações para facilitar a interligação entre os bairros.
No final do ano passado, o governo estadual anunciou o projeto "Pró-Transporte", que prevê investimentos de R$ 73 milhões para facilitar o tráfego na Zona Norte, região mais populosa de Natal, através da construção de viadutos, passarelas, estações de transferência, duplicação de avenidas e implantação de corredores exclusivos para ônibus.
Nenhum comentário:
Postar um comentário