sexta-feira, 13 de abril de 2007

SOS Big Brother

Por Guilherme Fiuza no blog No Mínimo:

"A patrulha não está de brincadeira. Outro dia, no patético Big Brother Brasil, Pedro Bial chamou os participantes do programa de heróis. Foi o suficiente para estourar uma campanha na internet (ou um spam, o que dá mais ou menos no mesmo), crucificando o vibrante apresentador-jornalista.

Essa cultura politicamente correta está cada vez mais religiosa. Alvo de críticas recorrentes da sociedade esclarecida, Bial agora foi tratado como um blasfemo. Heróis de verdade são aqueles que cuidam das criancinhas desamparadas, dos pobres, dos frascos e comprimidos, bradam os autores do protesto, muito bem embalado numa coleção de slides coloridos.

Chegamos ao ponto em que chamar de heróis aqueles bobocas que ficam desfilando seus corpinhos em cativeiro é falta moral grave. Não pode mais. Só podem ser chamados de alienados, descerebrados, inúteis. Quem são os verdadeiros heróis para esses militantes do bem? São os funcionários das ONGs humanitárias.

Está lá no panfleto eletrônico uma lista de ongueiros e ativistas virtuosos, candidatos a destronar popozudas e popozudos na vaga de heróis nacionais. Mas a mensagem é um pouco mais profunda. Você, que telefonou ou deixou seu filho telefonar para votar no Alemão, também é um desmiolado, um imprestável.

Da próxima vez, calcule o dinheiro que gastará com as ligações para o Big Brother e fique longe do telefone. Envie essa quantia para uma das ONGs listadas pela organização Médicos sem Fronteiras.

Não é de hoje que a esquerda está aí para “conscientizar” os distraídos. Até pouco tempo atrás o PT punha no ar aquelas propagandas encenadas em que um Zé Povinho engajado tirava outro Zé Povinho da frente de um jogo de futebol, e provocava o seu “despertar” para a política.

Também não é de hoje que esses bons samaritanos estão alertando o povo para a fortuna que dá à Globo com essas ligações telefônicas para o Big Brother.

Mas, ainda assim, essas campanhas estão tímidas. Nesse ritmo, a salvação do mundo vai demorar um pouco mais. O certo seria convocar o povo a separar todos os tostões que gasta com besteira (futebol, circo, motel, cinema, aposta em reality show etc) e entregar tudo para um grande Fundo de Ações Politicamente Corretas, ou talvez para uma holding Forças do Bem S.A. Seria uma ampla sistematização do caça-níqueis social, embalada por algum slogan impactante, do tipo “Bial nunca mais”.
É mais ou menos esse, o recado: se você se diverte com essa bobagem que é o Big Brother Brasil, você prejudica essa coisa nobre que são os Médicos sem Fronteira. Sem fronteira, mas com ideologia: eles estão dizendo que os heróis do Bial fazem mal à saúde. O que faz bem à saúde, do corpo e do espírito, quem sabe são eles. E é por isso que é para eles que você deve dar o seu dinheiro.

É chato lembrar, mas era mais ou menos essa a ideologia de Delúbio Soares quando começou a montar sua famosa caixinha: quem quisesse ver o bem triunfar tinha que pingar algum na conta corrente da revolução. É dispensável lembrar onde o bem foi parar no final dessa história.O que os patrulheiros da virtude talvez jamais compreendam é que entre os mais humanitários dos valores está o livre-arbítrio. E se essa liberdade levar a um telefonema para o Big Brother, esse telefonema será sagrado.

A outra face dessa moeda é a sociedade talibã, onde a cultura é filtrada pela política. Resta esperar que as ONGs do bem digam aos brasileiros em que canal eles devem sintonizar seus espíritos."

Nenhum comentário: