Da Época desta semana:
"Até os políticos mais experientes ficaram perplexos com os resultados das primeiras pesquisas de avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde a reeleição. Na opinião de muita gente, parecia que Lula começava mal o segundo mandato. Com cem dias de governo completados na semana passada, o presidente anunciara o Programa de Aceleração Econômica, mas o pacote encalhara no Congresso. Lula levara cinco meses para formar o novo ministério e, mesmo assim, apresentou um time de segunda categoria. Anunciou o fim da crise aérea várias vezes - e em todas foi desmentido pelos fatos. Quando interferiu pessoalmente, provocou o princípio de uma crise militar. Nada disso, porém, abalou a popularidade de Lula até agora.
Ao contrário. Na pesquisa CNT/Sensus, divulgada na semana passada, o desempenho do presidente melhorou. Ele é aprovado por 63,7% dos entrevistados - a melhor marca desde o escândalo do mensalão, dois anos atrás. Outra pesquisa divulgada na semana passada, a CNI/Ibope, mostra um resultado parecido. Embora tenha caído 6 pontos porcentuais em relação a dezembro, o índice de confiança em Lula está em 62%. De acordo com os números, dois em cada três brasileiros estão satisfeitos com o presidente. Paradoxalmente, a pesquisa do instituto Sensus detectou forte descontentamento com a qualidade dos serviços públicos. Uma grande parcela dos entrevistados apontou piora nos serviços de saúde e de segurança pública e em itens como renda e emprego, nos últimos seis meses (leia o quadro). Mas, quando os pesquisadores quiseram saber as expectativas para os próximos quatro anos de governo Lula, 54,8% responderam que a vida vai melhorar.
Como explicar a convivência entre a insatisfação com certas ações do governo e os altos índices de satisfação com Lula? Mais: se a maioria afirma que, em vários aspectos, a vida piorou nos últimos meses, por que iria melhorar a partir de agora? "É a economia", afirma o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). "É o carisma", diz o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. "É a ausência de oposição", afirma o marqueteiro político Luiz Gonzalez, responsável pela campanha de Alckmin na disputa contra Lula. A satisfação com Lula pode ser entendida como um resultado da soma desses três fatores.
A principal fonte de popularidade do presidente é, sem dúvida, o sucesso na manutenção da estabilidade econômica e na aplicação de políticas sociais voltadas para a população de baixa renda. "Enquanto a economia continuar bem, a popularidade de Lula permanecerá alta", diz Figueiredo, do Iuperj. "O povão não está nem aí para crise aérea. Está preocupado com o que acontece aqui embaixo."
Aqui embaixo, a inflação está sob controle, com uma taxa estimada em 3,8% para este ano. Favorecidas pela estabilidade, pelo aumento do salário mínimo, pela expansão do crédito e pela distribuição de benefícios sociais, as camadas mais pobres da população passaram a fazer parte do mercado de consumo. Apenas no ano passado, a massa salarial cresceu 7%, o volume de crédito pessoal aumentou 30% e o Bolsa-Família, principal programa social do governo, distribuiu R$ 8,3 bilhões a 11,1 milhões de famílias. Parte da classe média também melhorou seu poder de compra. Resultado: o consumo das famílias cresceu 4% em 2006, terceiro ano consecutivo de crescimento.
O segundo fator que explica a popularidade de Lula é sua personalidade carismática. A história de vida do retirante nordestino que, sem estudar, chegou à Presidência estabelece um elo direto com as camadas mais pobres e mesmo com setores da classe média. Eles vêem Lula como um semelhante, um sujeito simples e de boa índole, que se tornou presidente com a missão de impor os interesses dos menos favorecidos aos políticos mal-intencionados de Brasília. Por isso, sempre perdoam seus deslizes. "De Lula não se cobra coerência, não se espera que seja honesto", afirma Martins Rodrigues. "Espera-se dele que esteja do lado dos pobres. Ele encarna a expectativa da população de receber os benefícios do Estado, a política assistencialista." Esse contingente fiel de partidários faz de Lula um político diferente dos outros.
Finalmente, há o fator político. De acordo com Luiz Gonzalez, o marqueteiro do PSDB nas últimas eleições, não existe um contraponto ao presidente na oposição. "Ele é um presidente sem oposição", diz Gonzalez. "Eram ele e o PT que faziam esse papel no governo FHC. Hoje, a oposição ficou sem projeto."
Os partidos da oposição parecem mesmo desconcertados. Numa tentativa de renovação, o PFL resolveu mudar o nome para DEM e passou o comando do partido a políticos mais jovens. O PSDB encomendou pesquisas e montou grupos de trabalho com o objetivo de descobrir uma nova identidade. "Estamos aniquilados", disse o deputado José Aníbal (PSDB-SP). "As pesquisas refletem uma realidade que não podemos alterar neste momento", afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP). "O PSDB terá de dialogar com setores da sociedade, manter sua coerência e aguardar que essa situação se modifique com o tempo." De acordo com o cientista político Martins Rodrigues, o PSDB e o PFL não sabem como chegar ao eleitorado. "Lula está destruindo os partidos políticos. Passa por cima deles ao falar direto com o povo", afirma."
"Até os políticos mais experientes ficaram perplexos com os resultados das primeiras pesquisas de avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde a reeleição. Na opinião de muita gente, parecia que Lula começava mal o segundo mandato. Com cem dias de governo completados na semana passada, o presidente anunciara o Programa de Aceleração Econômica, mas o pacote encalhara no Congresso. Lula levara cinco meses para formar o novo ministério e, mesmo assim, apresentou um time de segunda categoria. Anunciou o fim da crise aérea várias vezes - e em todas foi desmentido pelos fatos. Quando interferiu pessoalmente, provocou o princípio de uma crise militar. Nada disso, porém, abalou a popularidade de Lula até agora.
Ao contrário. Na pesquisa CNT/Sensus, divulgada na semana passada, o desempenho do presidente melhorou. Ele é aprovado por 63,7% dos entrevistados - a melhor marca desde o escândalo do mensalão, dois anos atrás. Outra pesquisa divulgada na semana passada, a CNI/Ibope, mostra um resultado parecido. Embora tenha caído 6 pontos porcentuais em relação a dezembro, o índice de confiança em Lula está em 62%. De acordo com os números, dois em cada três brasileiros estão satisfeitos com o presidente. Paradoxalmente, a pesquisa do instituto Sensus detectou forte descontentamento com a qualidade dos serviços públicos. Uma grande parcela dos entrevistados apontou piora nos serviços de saúde e de segurança pública e em itens como renda e emprego, nos últimos seis meses (leia o quadro). Mas, quando os pesquisadores quiseram saber as expectativas para os próximos quatro anos de governo Lula, 54,8% responderam que a vida vai melhorar.
Como explicar a convivência entre a insatisfação com certas ações do governo e os altos índices de satisfação com Lula? Mais: se a maioria afirma que, em vários aspectos, a vida piorou nos últimos meses, por que iria melhorar a partir de agora? "É a economia", afirma o cientista político Marcus Figueiredo, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj). "É o carisma", diz o cientista político Leôncio Martins Rodrigues. "É a ausência de oposição", afirma o marqueteiro político Luiz Gonzalez, responsável pela campanha de Alckmin na disputa contra Lula. A satisfação com Lula pode ser entendida como um resultado da soma desses três fatores.
A principal fonte de popularidade do presidente é, sem dúvida, o sucesso na manutenção da estabilidade econômica e na aplicação de políticas sociais voltadas para a população de baixa renda. "Enquanto a economia continuar bem, a popularidade de Lula permanecerá alta", diz Figueiredo, do Iuperj. "O povão não está nem aí para crise aérea. Está preocupado com o que acontece aqui embaixo."
Aqui embaixo, a inflação está sob controle, com uma taxa estimada em 3,8% para este ano. Favorecidas pela estabilidade, pelo aumento do salário mínimo, pela expansão do crédito e pela distribuição de benefícios sociais, as camadas mais pobres da população passaram a fazer parte do mercado de consumo. Apenas no ano passado, a massa salarial cresceu 7%, o volume de crédito pessoal aumentou 30% e o Bolsa-Família, principal programa social do governo, distribuiu R$ 8,3 bilhões a 11,1 milhões de famílias. Parte da classe média também melhorou seu poder de compra. Resultado: o consumo das famílias cresceu 4% em 2006, terceiro ano consecutivo de crescimento.
O segundo fator que explica a popularidade de Lula é sua personalidade carismática. A história de vida do retirante nordestino que, sem estudar, chegou à Presidência estabelece um elo direto com as camadas mais pobres e mesmo com setores da classe média. Eles vêem Lula como um semelhante, um sujeito simples e de boa índole, que se tornou presidente com a missão de impor os interesses dos menos favorecidos aos políticos mal-intencionados de Brasília. Por isso, sempre perdoam seus deslizes. "De Lula não se cobra coerência, não se espera que seja honesto", afirma Martins Rodrigues. "Espera-se dele que esteja do lado dos pobres. Ele encarna a expectativa da população de receber os benefícios do Estado, a política assistencialista." Esse contingente fiel de partidários faz de Lula um político diferente dos outros.
Finalmente, há o fator político. De acordo com Luiz Gonzalez, o marqueteiro do PSDB nas últimas eleições, não existe um contraponto ao presidente na oposição. "Ele é um presidente sem oposição", diz Gonzalez. "Eram ele e o PT que faziam esse papel no governo FHC. Hoje, a oposição ficou sem projeto."
Os partidos da oposição parecem mesmo desconcertados. Numa tentativa de renovação, o PFL resolveu mudar o nome para DEM e passou o comando do partido a políticos mais jovens. O PSDB encomendou pesquisas e montou grupos de trabalho com o objetivo de descobrir uma nova identidade. "Estamos aniquilados", disse o deputado José Aníbal (PSDB-SP). "As pesquisas refletem uma realidade que não podemos alterar neste momento", afirmou o deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP). "O PSDB terá de dialogar com setores da sociedade, manter sua coerência e aguardar que essa situação se modifique com o tempo." De acordo com o cientista político Martins Rodrigues, o PSDB e o PFL não sabem como chegar ao eleitorado. "Lula está destruindo os partidos políticos. Passa por cima deles ao falar direto com o povo", afirma."
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