Matéria da Tribuna do Norte de domingo (09) sobre gravidez na adolescência revela que o número de meninas mães no Rio Grande do Norte vêm aumentando à cada ano. Em 2006, segundo a reportagem de Carla França, foram realizados 44.342 partos em mulheres de todas as idades. Desse total, 10.358 partos foram feitos em meninas entre 10 e 19 anos de idade. O numero equivale a quase 24% dos partos.
Imagine você: meninas de 10 anos de idade estão se tornando mães. Crianças dando à luz a outras crianças. A reportagem também revela que dos 2,8 milhões de partos realizados ano passado em todo o Brasil, 560 mil ocorreram com meninas de até 20 anos de idade.
A ginecologista ouvida pela reportagem da TN, Stênia Lins, disse que "os meninos e as meninas entram na adolescência cada vez mais cedo". Não sei o que isso significa exatamente, como alguém pode "entrar mais cedo" na adolescência. Mas para a médica, essa "adolescência precoce" favorece a "iniciação sexual" também precoce.
Acho que ela inverteu a ordem das coisas, porque essa iniciação sexual precoce se dá por outros motivos, não porque as meninas e os meninos estão se tornando adolescentes mais cedo.
Mais adiante na reportagem, a médica diz que há uma "discrepância entre a mídia, os pais e a escola". Para ela, a mídia é responsável pelo estímulo à erotização e a banalização do sexo, enquanto "os pais fingem que não vêem e a escola se omite". Assino em baixo.
A reportagem poderia ter avançado mais na discussão do tema, mas não o fez e ficou muito nas explicações comuns: "falta informação", "falta educação", "falta uma política pública eficiente" e blá, blá, blá...
Não se falou, por exemplo, da violência sexual que ocorre, na maioria das vezes, dentro de casa e rouba a inocência dessas meninas, transformando-as em mães prematuras e em futuras mulheres traumatizadas e amarguradas.
Não se falou também em quais informações, qual educação e quais políticas políticas são necessárias. A médica lembrou da responsabilidade da mídia. A reportagem poderia ter pedido a opinião dela sobre a classificação indicativa dos programas de televisão. Quando o Ministério da Justiça publicou, no primeiro semestre deste ano, a nova portaria regulamentando a classificação indicativa para os programas de televisão, a chiadeira foi geral. As novas regras determinavam que as emissoras seriam obrigadas a divulgar a faixa etária e o horário recomendado para a exibição de cada atração que levasse ao ar. As redes também teriam que exibir os programas nos horários determinados pelo Ministério.
Os donos de televisão fizeram uma campanha e diziam que a portaria representava uma forma de censura. A choradeira deu resultado e o governo cedeu. As emissoras não são mais obrigadas a submeter o conteúdo dos programas à análise prévia do Ministério da Justiça. Elas apenas informam a faixa etária recomendada para cada programa. As próprias emissoras, inclusive, são que decidem o horário de exibição dos programas.
A regulamentação da classificação indicativa, inclusive com o estabelecimento de punições para as emissoras, é uma política pública eficiente para combater o "estímulo à erotização e a banalização do sexo" na mídia, como destacou a ginecologista, principalmente em relação aos meninos e às meninas adolescentes. É uma pena que o lobby das grandes emissoras, mais uma vez, saiu vencedor. Enquanto isso, nossas crianças assitem Flávia Alessandra descendo seminua no mastro do cabaré da novela das oito na Globo. Assim caminha a nossa sociedade.
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