A revista "Veja" resolveu fazer um teste em seu site para saber a posição política das pessoas. Eles apelidaram o teste de "politicômetro". Eu participei pra ver no que dava esse negócio. Fui classificado como "antiliberal à esquerda". O politicômetro da revista define o meu perfil como alguém que "acredita que deve haver regulação sobre certos setores da sociedade e admite algumas restrições à liberdade individual".
Para chegar a essa conclusão, há perguntas sobre o que você acha das ações do MST ("invasões", no dicionário da Veja); se você prefere ditadura com estabilidade ou democracia com inflação; se você concorda com a necessidade de uma reforma tributária; o papel do estado nas greves; o que você acha das privatizações; se você prefere o político corrupto e eficiente ou o honesto e ineficiente; se você acha que o protecionismo nas práticas comerciais é aceitável; sobre o papel do estado na economia; sobre a manutenção ou não dos direitos trabalhistas; sobre o aborto; a liberalização da maconha; as pesquisas com células-tronco; o uso da tortura (a revista usa o termo "métodos violentos") em inquéritos policias; o porte de armas; o ensino religioso nas escolas; a adoção de crianças por casais homossexuais; a "censura" a certos programas de televisão e a cobrança de mensalidade nas universidades públicas.
Pronto. "Veja" resumiu toda a complexidade do pensamento político em 20 perguntas de um teste de múltipla escolha. A maioria das perguntas, como você deve ter notado, parte de uma visão reducionista e maniqueista. As questões são colocadas de maneira intencionalmente manipulada. Por exemplo, quando se pergunta se você prefere um candidato corrupto e eficiente ou um honesto e ineficiente, a revista passa a idéia que não existe nenhum candidato honesto e eficiente ao mesmo tempo.
Outra pergunta claramente distorcida é quando se questiona se certos programas de televisão deveriam sofrer "censura" (aspas minhas). É uma armadilha semântica. É óbvio que não sou a favor da censura. Mas sou a favor sim da regulação, que é absolutamente diferente de censura. Mas a mídia conservadora não gosta de ouvir falar em regulação social e invoca o discurso da censura para se defender. Ignora, assim, que o veículo (televisão e/ou rádio) é uma concessão pública e, portanto, deve satisfações ao público, legitimamente representado pelo governo democraticamente eleito para exercer a função de regulador social.
É por essas e outras que a "Veja" não passa em nenhum teste de credibilidade.
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