segunda-feira, 12 de maio de 2008

Eu, ainda jornalista

Esta é a crônica de um jornalista em início de carreira, mas já desiludido. Hoje, como de praxe, foi mais um dia difícil. Jornada dupla de trabalho, universidade à noite (a professora faltou pela quarta semana consecutiva), ônibus lotado, o menino vendendo pipoca bocus, o cara vendendo jujuba para comprar o mucilon da filha, eu sem grana, sem gana, sem nexo.

Diz a letra da canção que nada será como antes. Eu até que tento acreditar, mas a fé vai escapando assim por entre os interstícios da alma cansada. O corpo também padece. Então, fica a certeza que tudo continuará como está, este museu de grandes novidades. É como me disse esta noite um grande amigo: "Tudo permanecerá como ontem. Amanhã será hoje. A utopia caminha. É a desgraça dos passos em vão, das caminhadas sem fim, das fronteiras nunca transpostas".

Por um instante, a esperança, que não é sólida, se desmancha no ar. A força avassaladora da injustiça destrói cada centímetro de amor-próprio, dinamita lentamente aquele suspiro juvenil de querer mudar o mundo. É quando o sonho vira resignação. É quando a gente tem que renunciar à indignação pelo pão de cada dia. É isso ou entregar os pontos e desistir de viver.

Eu me sinto muitas vezes estuprado, intelectualmente violentado. Quando escolhi ser jornalista, acreditava ferrenhamente que poderia ajudar a transformar tudo o que está errado no mundo. No filme "Sociedade dos Poetas Mortos" (Dead Poets Society), o professor John Keating, vivido pelo ator Robin Willians, diz aos seus alunos: "Não importa o que disserem. Palavras e idéias podem mudar o mundo". Era esse o meu ideal romântico. Ideal que agora não é nada além de outra ilusão perdida.

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