Os jornais de sábado (28) deram destaque à pesquisa do Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) sobre segurança alimentar e o Bolsa Família. No geral, prevaleceu a distorção e a manipulação dos dados da pesquisa.
A mídia conservadora não engole o Bolsa Família. Nas palavras de Paulo Henrique Amorim, para a imprensa, "o Bolsa Família é o ópio do povo".
Confira alguns dados da pesquisa do Ibase, realizada com 5.000 beneficiados pelo programa, retirados da matéria da Folha de São Paulo:
- No quesito alimentação, o principal aumento foi no consumo de açúcares: 78% dos titulares disseram ter aumentado a compra de açúcar, sorvetes, gelatinas, bombons ou refrigerantes. Em seguida aparecem arroz, cereais e leite.
- De acordo com Francisco Menezes, diretor do Ibase e coordenador-geral da pesquisa, o Bolsa Família tem ajudado seus beneficiados a aumentar a variedade de alimentos consumidos. Ele sugere, no entanto, que sejam criados programas para aumentar o consumo de produtos como legumes, verduras, frutas e carnes e diminuir o de açúcares.
- "Não dá para dizer que as famílias estão fazendo mau uso do dinheiro. A pesquisa mostra que aumentou o consumo de arroz e feijão, o que é muito positivo. Mas, ao mesmo tempo, também cresceu o gasto com doces, biscoitos e refrigerantes, o que nos levou a recomendar programas de educação alimentar", diz Menezes.
- 99,5% dos entrevistados disseram que não deixaram de fazer algum tipo de trabalho depois que passaram a receber o programa.
- Ao investigar o grau de segurança alimentar de seus beneficiados, a pesquisa do Ibase mostra que em apenas 17% dos casos eles estavam em situação total de segurança.
- Outros 28%, no entanto, enquadravam-se no que se chama de insegurança leve: não passam fome ou deixam de consumir alimentos, mas temem que isso aconteça no futuro. Havia ainda 34% das famílias que se encontravam em estágio moderado de insegurança, ou seja, há restrição de alimentos consumidos, mas não há fome.
- Em 21% dos casos, a insegurança alimentar foi considerada grave. "Não é necessariamente uma situação famélica como a que ocorre na África, mas são domicílios onde faltam alimentos em casa e, por isso, nem todas as refeições são feitas", diz Francisco Menezes, coordenador-geral da pesquisa.
O que os dados acima nos dizem? Que a maioria dos beneficiados pelo Bolsa Família passa fome?
Vamos entender: a pesquisa dividiu a questão da insegurança alimentar em três níveis - leve, moderada e grave.
Somente no nível grave de insegurança faltam alimentos - ainda assim, algumas refeições são feitas, como observou o coordenador da pesquisa.
Mas o que fizeram os jornais? Transformaram a minoria (21%) em maioria.
Manchete d'O Globo: "Fome atinge maioria dos que têm Bolsa Família".
Manchete d'O Estado de São Paulo: "Maioria dos assistidos pelo programa passa fome, diz pesquisa do Ibase".
Manchete da Folha de São Paulo: “Bolsa Família não faz sair da pobreza, dizem beneficiários”.
Como destacou o Mello em seu blog, os jornais somaram os índices dos beneficiados pelo programa que declararam se enquadrar nos níveis moderado (34%) e grave (21%) de insegurança alimentar para afirmar que a maioria passa fome. O nome disso é manipulação.
Mas por que tanta chiadeira contra o Bolsa Família?
No site da Carta Capital, a cientista política da Universidade de Brasília, Lúcia Avelar, oferece a resposta:
"Em uma análise acadêmica das últimas três eleições municipais (de 1996, 2000 e 2004), ela verificou o avanço dos partidos de esquerda a partir de 2000, e o recuo constante dos partidos de direita. “A transferência de renda cria um vínculo do eleitor com o Estado, sem intermediários, e este é o primeiro passo para um sentimento de cidadania”, diz. Entre os municípios com pior índice de desenvolvimento humano predominam o DEM e os partidos considerados de direita. “São locais tradicionalmente controlados pela elite financeira local. Por isso há tanta chiadeira”, conclui."
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