sábado, 5 de julho de 2008

Histórias Mirabolantes em versos desinteressantes - Nós Três

Cheguei ao blog Mensagens Pessoais por indicação de um amigo - o Tales. Gostei. Muito. Tanto que tomei a liberdade de transcrever o texto abaixo aqui.

O blog é assinado por Thiago - apenas isso. A única pista que ele dá sobre si mesmo é esta: "Sou tudo aquilo que pode ser descrito em até 1.200 caracteres!".

Dizem que comparações são ridículas. Mas a vida, em certa medida, também o é. Por isso, ouso comparar. Thiago parece um legítimo "clariciano" no estilo de escrever. O seu texto é permeado do espanto e da admiração do cotidiano. Não sei se mais espanto ou mais admiração. Talvez os dois na mesma medida. Mas, enfim, a contemplação e a reflexão das coisas simples em Clarice, presentes também no texto do Thiago, me encantam.

Aí o texto pra vocês:

Aí o dia clareou, o remendo se rasgou, e a chuva, mesmo querendo, não molhou. Na verdade, quem queria era eu. A chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.

O ruim da chuva e que ela vem no fim. Antes ainda tem o frio, o vento e o trovão. Eu já passei por tudo isso. O frio não me congelou, o vento não me levou, e o trovão, sabe Zeus porque, não me acertou.

Além disso, todo-dia, ainda tem a vida. E antes e depois da vida, a morte. E no meio da vida, em meio a tantas outras, tem a minha, que, mais ou menos no meio (um pouquinho pra esquerda) tem uma ferida, a minha ferida.

Por essa ferida é que eu agüentei o frio, fiquei no vento e encarei o trovão. Tudo por ela. Tudo por achar que a chuva ia me lavar, mas a chuva só batia-e-pingava, ela molhava, mas eu secava.Antes eu até contava as chuvas que eu secava.

Antes de perder a conta eu até as contava, mas agora, depois de tudo (mas antes da morte), apenas fico aqui, na verdade, ficamos os três; a vida, a ferida e eu.

A vida para ser vivida, a ferida para ser lavada e - eu.

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