Em entrevista à Terra Magazine, a deputada federal Luciana Genro (PSOL) afirma, sem meias palavras, que há uma "quadrilha instalada no Palácio Piratini" - sede do governo gaúcho, administrado pela tucana Yeda Crusius.
O governo do PSDB gaúcho está sendo investigado pelo desvio de dinheiro público no Detran e no Banrisul. Apenas no Detran, foram desviados R$ 44 milhões. O esquema foi desmontado pela Operação Rodin, realizada pela Polícia Federal em novembro de 2007, que culminou na prisão do empresário tucano Lair Ferst.
A coisa ficou mais complicada para a governadora depois que o vice-governador Paulo Feijó (DEM) divulgou uma fita com a gravação de uma conversa entre ele e o então da Casa Civil do RS, Cézar Busatto (PPS), na qual Busatto admitiu o uso de estatais do governo gaúcho para financiar campanhas eleitorais.
Depois da divulgação da fita bomba, três nomes do primeiro escalão do governo gaúcho cairam: o próprio Cézar Busatto (ex-chefe da Casa Civil), Delson Martini (ex-secretário-geral de Governo) e Marcelo Cavalcante (ex-chefe do escritório do Estado em Brasília). Além deles, também caiu o coronel Nilson Bueno (ex-comandante-geral da Brigada Militar).
Segundo a Folha Online, o vice-governador Paulo Feijó afirmou que o empresário tucano Lair Ferst, um dos acusados de liderar o esquema de desvio de dinheiro no Detran gaúcho, atuou na arrecadação de dinheiro para a campanha da governadora Yeda Crusius (PSDB) em 2006.
O PSOL gaúcho entrou nesta terça-feira (10) com um pedido de impeachment contra a governadora Yeda Crusius na Assembléia Legislativa.
Na entrevista à Terra Magazine, Luciana Genro disse que a governadora Yeda Crusius ganhou a eleição "usando recursos públicos de forma indevida" e defendeu o impeachment da tucana.
Leia a íntegra da entrevista:
Terra Magazine - O que especificamente motivou o PSOL a pedir o impeachment?
Luciana Genro - Fundamentalmente, a gravação entre o vice-governador e o então chefe da Casa Civil, Cézar Busatto. Ela demonstra que existe uma quadrilha instalada no Palácio Piratini que vem se utilizando de empresas públicas e cargos no governo para financiar suas campanhas eleitorais e seus partidos. A governadora veio a público para condenar a postura do vice-governador de ter revelado a gravação, mas não negou nenhuma das declarações de César Busatto.
Criticou a revelação, mas não o fato em si.
Exatamente. Ela demitiu secretários e dirigentes de empresas estatais, mas isso não é suficiente porque demonstra que ela foi eleita já com recursos desviados - o secretário diz isso na fala - e que os desvios continuaram ocorrendo neste governo com o conhecimento dela.
Como a senhora avalia essa crise?
Eu acho que é uma crise positiva, porque ela traz à tona aquilo que a maioria da população brasileira desconfiava, mas não tinha provas: esse esquema de financiamento dos partidos através de cargos, que foi revelado no esquema do "mensalão". Aqui no Rio Grande do Sul muita gente achava que os partidos agiam de forma diferente, então essa gravação nos dá uma oportunidade de fazer uma limpeza na política gaúcha.
Existe a possibilidade de trabalhar com o PT nesse processo de impeachment?
Existe. O PT já deu declarações apoiando o processo. Nós temos a expectativa de que o PT venha a apoiar ou apresentar outro pedido de impeachment e fazer uma mobilização conjunta na cidade.
A governadora Yeda Crusius disse que um pedido de impeachment seria uma tentativa de ganhar a eleição "no tapetão". Qual sua opinião a respeito?
Olha, "tapetão" é ganhar uma eleição usando recursos públicos de forma indevida. Nosso partido fez uma campanha eleitoral modesta, sem recurso nenhum, e certamente a desiguldade foi ainda maior por conta do dinheiro público desviado que a campanha dela recebeu.
Esse pedido de impeachment não pode acabar favorecendo o vice-governador?
Eu não estou muito interessada nas razões íntimas do vice-governador. Se ele fez isso para tentar assumir o governo, foi uma manobra muito arriscada porque a conversa com o Busatto revela que a própria eleição deles foi financiada com recursos irregulares. Nesse caso, o impeachment é para os dois e não só para o governador. Ele defendeu que se houvesse impeachment, pediria novas eleições.
Há um clima político propício na Assembléia para a aprovação do impeachment?
O escandâlo é muito grande e o parlamento gaúcho não pode se calar diante dessa situação. Acho que o vice-governador tem uma grande responsabilidade porque ele tem mais informações e documentos que podem fortalecer e tese do impeachment e podem inclusive constranger os cativos que hoje ainda sustentar a Yeda a votarem pelo impeachment. Nós vamos pressionar ao máximo para que outras revelações venham à tona e para que a população e os movimentos sociais atuem no sentido de tensionar o parlamento a tomar uma atitude diante da gravidade dessa situação.
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