A edição desta semana da revista "Carta Capital" traz uma reportagem especial, tema da capa, sobre o jogador Kaká e sua relação com a Igreja Renascer em Cristo, liderada pelo casal de bispos Estevam e Sônia Hernandes.
A reportagem é intitulada "Fé, família e dinheiro" e revela que o Ministério Público de São Paulo, através do promotor Marcelo Batlouni Mendroni, enviou uma série de perguntas ao jogador do Milan e da seleção brasileira, questionando, por exemplo, o grau de amizade entre ele e os líderes da Renascer e se Kaká tinha consciência das acusações que pairavam contra o casal Hernandes.
Em janeiro do ano passado, Estevam Hernandes Filho e Sônia Haddad Moraes Hernandes foram presos em Miami, acusados de entrar ilegalmente com dinheiro nos Estados Unidos. No primeiro momento, eles foram condenados a sete meses de liberdade provisória, vigiados por braceletes magnéticos, por entrarem com quase 60 mil dólares escondidos numa Bíblia. Em agosto, informa a "Carta Capital", foram condenados a dez meses de prisão – cinco em regime fechado, cinco em prisão domiciliar. A pena será cumprida de forma alternada (primeiro ele, depois ela), para que os pais possam cuidar do filho, Gabriel. Estevam já cumpriu sua parte no regime fechado e Sônia deverá ser levada para a penitenciária em breve.
Ainda segundo a revista, Estevam e Sônia também são investigados no Brasil pela existência de “uma grande quantidade de empresas ligadas à Renascer por um esquema formado por um clã familiar que controla os investimentos e que, em pouquíssimo tempo, acumulou verdadeiras fortunas aproveitando da fé religiosa dos outros e realizando negócios ilegais”.
A reportagem prossegue:
Além de Estevam e Sônia, a denúncia envolve diretamente o filho mais velho do casal, Felipe Daniel, conhecido pelos fiéis como “bispo” Tide, e sua mulher, Fernanda. Os quatro investigados são descritos como “os verdadeiros proprietários das empresas” ligadas à seita. O texto prossegue: “Apesar das entradas excepcionais que recebem, possuem poucos bens em seu nome e uma grande quantidade de protestos”.
Os Hernandes não são os únicos envolvidos. Entre os outros, o documento cita claramente Leonardo Abbud, Antonio Carlos Ayres Abbud e Ricardo Abbud, que teriam a função de laranjas, para simular a propriedade de algumas empresas.
Os crimes cometidos pelo casal de bispos, segundo a denúncia do MP, configurariam a prática de “lavagem de dinheiro e a obtenção de atividades ilegais, seja por meio do engano da fé de outros, seja por uma série de fraudes”.
Outro questionamento enviado ao jogador Kaká é sobre as contribuições financeiras que ele faz à Renascer. A revista cita que o dízimo anual que o jogador entrega à igreja chega aos R$ 2 milhões. A intenção do MP é saber sobre as operações finaceiras da igreja, que "não teriam sido declaradas às autoridades brasileiras”.
A reportagem acerta ao informar sobre o desejo do MP de interrogar o jogador Kaká, eleito o melhor do mundo em 2007 pela FIFA, a respeito da sua relação pessoal e financeira com dois acusados de crimes financeiros no Brasil.
Mas a mesma reportagem erra quando emprega tom de deboche ao descrever o apego de Kaká às suas práticas de fé e quando descreve as desavenças familiares entre o jogador e sua sogra, descrita como católica fervorosa.
"Carta Capital" beirou o sensacionalismo. Deu voz às queixas da sogra católica, inconformada com a conversão da filha à nova religião, mas não reproduziu nenhuma declaração de Kaká nem da sua esposa.
A revista chegou a especular se as acusações contra os bispos e a Renascer poderiam azedar ainda mais a relação entre Kaká e a sogra. Ficou parecendo matéria da "Contigo!", especializada em fofoca sobre a vida dos artistas.
Esse tipo de abordagem sensacionalista não combina com a "Carta Capital". Infelizmente, a revista teve uma recaída e embarcou no jornalismo estilo "Veja".
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