quarta-feira, 28 de maio de 2008

Outra de Cora Coralina




Coração é terra que ninguém vê


Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.


Quis ser um dia, jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.


Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão.


Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.


Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração.


Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...


Um comentário:

Unknown disse...

Amo Cora Coralina, e já confessei esse amor em outros momentos!
Mas para se contrapor ao poema, trago Fernando Pessoa(igualmente amado):

"Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar á eterna inocência,
E a única inocência não pensar..."