Não sei vocês, mas eu não tenho mais paciência pra esse caso do dossiê. Este é o último post que escrevo pra falar nesse assunto.
A matéria da Folha de São Paulo de ontem jogou mais lenha na fogueira e levou a ministra Dilma Roussef a convocar uma entrevista coletiva em Brasília.
A manchete da capa era "Arquivo da Casa Civil detalha dossiê". Na página interna, a chamada mais forte: "Arquivo detalha dossiê da Casa Civil contra FHC".
Percebeu a malícia? A manchete da Folha é uma sentença afirmativa e, com ela, o jornal está dizendo com todas as letras, primeiro, que o dossiê existe e, segundo, que foi feito para prejudicar o ex-presidente FHC. Portanto, implicitamente, a Folha está concordando com a teoria da "chantagem" da revista "Veja".
Na matéria, a Folha publicou o que seria uma cópia de arquivo extraído diretamente da rede de computadores da Casa Civil. O fac-símile, segundo o jornal, provaria que o dossiê "contra FHC" e sua mulher, Ruth Cardoso, saiu pronto do Palácio do Planalto.
Na entrevista coletiva que deu após a publicação da matéria, a ministra Dilma Roussef reafirmou que o governo não fez dossiê, mas um banco de dados e acrescentou que os arquivos publicados pela Folha tinham sido alterados, pois continham uma coluna de "observações" que não existia no banco de dados da Casa Civil.
"Não fizemos dossiês. Fizemos um banco de dados. Tem uma coluna que não existe no nosso banco de dados, os nossos dados não têm essa ordem. Houve um crime na Casa Civil, a não ser que esse fac-símile tenha sido manipulado", afirmou ela.
A ministra NÃO DISSE, como bem colocou Luis Nassif, que a cópia que a Folha havia lhe entregue na véspera da matéria sair e o fac-símile publicado no dia seguinte não era o mesmo o mesmo documento.
A ministra DISSE que o que foi publicado não correspondia ao banco de dados da Casa Civil e deu como exemplo a coluna "observações". Houve manipulação do arquivo. A Folha não disse nada sobre isso.
Mas eu considero que a ministra resumiu tudo quando afirmou categoricamente que não é crime fazer banco de dados (ou dossiê, como queiram), mas vazar esses dados é que é crime. Para mim, esse é o ponto essencial. Desde o início desse quiprocó eu disse que não interessava se era um dossiê ou banco de dados. O governo tem todo o direito de reunir essas informações. Mas divulgar as informações que são consideradas sigilosas é que se configura crime.
Portanto, a questão é descobrir quem fez o vazamento das informações. Já sabemos que a fonte da "Veja" foi o senador tucano do Paraná Álvaro Dias. Mas não se sabe ainda quem repassou as informações a ele. É como disse o ministro Franklin Martins da Comunicação Social: "A chave está com o senador Álvaro Dias".
A ministra enfatizou que o governo não é responsável pelo vazamento dos dados. "Esse governo não vazou, não difundiu, não publicou informações confidenciais. Nem tampouco essas informações que não são nada confidenciais."
Dilma sugeriu que por trás dessa "escandalização do nada" há uma motivação política. "A quem interessa forjar falsos crimes? Aos incomodados com a situação positiva do país, com o aumento da distribuição de renda."
Para a ministra, o objetivo de quem vazou essas informações era atingi-la. "Tem uma direção certa. Endereçada a mim. Tem uma tentativa de atribuir à Casa Civil responsabilidade. Pelo o quê? Por um suposto dossiê."
Além do mais, os dados do suposto dossiê, com excessão daqueles relativos aos gastos da ex-primeira-dama Ruth Cardoso, não têm nada de sigilosos. Portanto, se não são confidenciais, cai por terra essa balela de chantagem. Quem é que faz chantagem com informações que não são sigilosas? "Vamos chantagear com o que, com o público e notório?", perguntou a ministra.
A ministra não descartou a hipótese de que tenha havido uma invasão dos computadores da Casa Civil. "Há a possibilidade do computador da Casa Civil, um bem público, ter sido invadido. Parece coisa de agente secreto com crachá. Sabe aquele agente tão óbvio que usa crachá?".
O governo também leva em conta que alguém da Casa Civil pode ter vazado as informações. "Em 90% dos casos os dados saem de dentro. Vamos investigar. Houve um processo. Não descartamos hoje nenhuma hipótese", assegurou.
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