quinta-feira, 3 de abril de 2008

Entrevista com Fernando Mineiro

Finalmente, eis a entrevista com o deputado Fernando Mineiro (PT), pré-candidato a prefeito de Natal.

Em 23 minutos de conversa, Mineiro falou sobre o projeto de administrar Natal, que, segundo ele, não é um sonho pessoal, mas um projeto coletivo e partidário.

O deputado desmentiu os boatos que circularam em parte da imprensa, que tratavam de um suposto boicote por parte do grupo dele no PT à pré-candidatura da secretária de Planejamento do município, Virgínia Ferreira.

Mineiro também foi veemente ao negar, como também se falou na imprensa, que pretende usar a eleição de 2008, se vier a ser mesmo o candidato do PT, como trampolim para 2010, quando tentará renovar seu mandato de deputado estadual.

Em certo momento, reclamou que estava "perdendo tempo" discutindo em cima de boatos. Muitas vezes, a ordem natural se inverteu e ele passou a me fazer as perguntas. Lá pelas tantas, perguntou sobre a entrevista: "Você vai publicar na íntegra, né?".

Depois, elenco aqueles que, em sua opinião, são os maiores probelmas de Natal: a violência, o saneamento ambiental, a educação e a saúde.

Além das questões paroquiais, Mineiro tratou também do cenário político nacional e atribuiu os elevados índices de aprovação do governo Lula "às transformações pelas quais o Brasil passa" e "à mudança na qualidade de vida do nosso povo".

Analisando o comportamento da mídia em relação ao governo, Mineiro disse que "boa parte dela não representa o que o povo pensa nem o que o povo sente".

E sobre o papel da oposição, Mineiro aproveitou para cutucar o senador José Agripino (DEM): "Ele tá tão bem na oposição que eu quero que ele passe muitos anos na oposição".

Leia abaixo a íntegra dessa conversa:

Deputado, vamos iniciar nossa conversa falando de política. O senhor lançou sua pré-candidatura a prefeito de Natal. Eu queria saber por que o senhor que ser prefeito?

Mineiro: Eu sou um dos pré-candidatos. Além da minha pré-candidatura, que foi formalizada no PT no dia 9 de fevereiro, nós tivemos agora no dia 24 de março também a pré-candidatura da Virgínia, que é a nossa secretária de Planejamento do município de Natal. Então o PT tem dois pré-candidatos, duas pré-candidaturas, a minha e a da Virgínia. E tanto eu quanto a Virgínia, nós apresentamos nossos nomes porque entendemos que o Partido dos Trabalhadores tem condições de administrar Natal. Eu acho que é importante você ter o rodízio no processo administrativo. Nós temos o PSB que já está administrando Natal há um certo tempo, é nosso aliado no Estado, é nosso aliado no município de Natal. Então, eu acho que o PT merece, o PT tem quadros, tem tanto o meu nome como o nome da Virgínia, tem tantos outros que podem sim coordenar o processo de desenvolvimento e ação administrativa na cidade do Natal.

Ser prefeito é um sonho pessoal, é um projeto pessoal ou um projeto coletivo e partidário?

Mineiro: Não, não é um projeto pessoal. Meus sonhos pessoais não têm nada a ver com política, diga-se de passagem. É um projeto partidário. O partido tem debatido essa questão e tanto o meu nome como o nome da Virgínia são nomes partidários. Não tem nem projeto pessoal meu nem projeto pessoal da Virgínia. São projetos que representam concepções, visões e partidos. Eu repito: os meus sonhos pessoais não têm nada a ver com a política, inclusive.

Deputado, saiu muita coisa na imprensa falando que a sua candidatura, se vier a se concretizar mesmo dentro do partido, seria na verdade um balão de ensaio, um trampolim pra eleição de 2010 e o seu objetivo como candidato seria somente ganhar visibilidade agora em 2008 pra garantir a sua reeleição como deputado estadual em 2010...

Mineiro: Mas qual imprensa que saiu isso?

Blog da Thaísa Galvão...

Mineiro: Mas tem mais outra imprensa?

“Jornal de Hoje”, onde ela é editora...

Mineiro: Tem mais?

Não, foi onde eu li.

Mineiro: Ah, ta.

Isso é só opinião dela?

Mineiro: É opinião dela.

E não procede?

Mineiro: Não procede e ela nem me conhece.

Porque às vezes ela fala como se fosse sua assessora. Ela diz “Mineiro não abre mão da candidatura nem...”.

Mineiro: Não, não. Veja só, eu acompanho o trabalho da Thaísa Galvão, a conheço como jornalista, mas eu não tenho intimidade, eu nem converso com ela. Não sei de onde ela tirou isso. Ainda bem que você deixou claro. Você começou perguntando assim “a imprensa” e agora você ta identificando. Como você vai publicar na íntegra essa entrevista – não é assim que você vai publicar na íntegra, né?

Vou.

Mineiro: É, eu acho legal ter uma oportunidade. Eu não sei de onde Thaísa Galvão tirou isso. Eu nunca conversei com ela sobre isso. Eu acho, se eu me lembro, eu acho que eu nunca conversei com Thaísa Galvão, a não ser responder uma ou outra pergunta que ela me fez. Então eu não tenho nenhuma relação, nenhuma intimidade com ela. Quem me conhece, eu tenho 28 anos de PT, seu eu quisesse trabalhar candidaturas pra ser trampolim eu aço que eu não tava nem no PT, entendeu? Eu tenho 28 anos [de PT], sou fundador do PT. Então, quem me conhece sabe da minha história, sabe o que é que eu defendo, sabe qual é o meu compromisso. Então, eu não sei o interesse de quem ela ta defendendo, de onde ela tirou essa história, porque não tem a mínima procedência. Porque se eu quisesse fazer trampolim eu não estaria no PT. Aliás, eu conheço muita gente que faz trampolim nos órgãos do Estado e tal... Eu acredito que o PT não ia me jogar pra fazer trampolim. Não é possível que depois de 28 anos alguém duvide disso.

O senhor entrou nessa batalha pra valer?

Mineiro: Eu tenho 28 anos de PT, meu querido. Eu sou fundador do PT no Estado do Rio Grande do Norte e no Brasil. Alguém duvida se eu entrei pra valer ou não na política? Eu tenho mais da metade da minha vida dedicada ao PT, então será que alguém duvida ainda?

Bom, isso ela é quem ta especulando.

Mineiro: Eu não sei, isso é você quem ta dizendo.

Eu pensei que o senhor tinha lido.

Mineiro: Não, eu não leio blog, rapaz. É porque, na verdade é assim, eu tenho um blog, eu tenho um trabalho meu, eu tenho tanta coisa pra fazer e não dá tempo ler. Eu gostaria muito, mas não dá tempo de ler tudo. Então, eu acabo escolhendo o que é que eu leio. Infelizmente não me sobra tempo pra ler todos os blogs. O dela eu não leio, você que ta me falando. Eu vi uma nota no jornal. Foi até bom, eu tinha visto no jornal, “Jornal de Hoje”, sem saber, sem assinatura, você mesmo que ta dizendo que é da Thaísa, né.

Ela é a editora.

Mineiro: Eu não sei.

Então, o senhor falou das duas pré-candidaturas, a sua e a da secretária Virgínia Ferreira. O senhor tem a maioria no diretório municipal do PT. Especula-se que se for pra uma prévia, no voto o senhor ganha. Mas também se comenta na imprensa (em todos os jornais, não só no jornal da Thaísa) que Virgínia seria a candidata que teria condições de agregar mais apoios, por exemplo, do prefeito Carlos Eduardo e do senador Garibaldi Alves. Isso é verdade, procede?

Mineiro: Você falou duas questões. O quê que procede?

Se o nome dela agrega esses apoios e, se agregar, eu já li declarações suas dizendo que...

Mineiro: Primeiro, veja só, eu não sei se você acompanha, mas o que eu falei na imprensa eu vou repetir pra você. Primeiro eu nem sei se eu tenho maioria no partido. Eu sei que nós, os meus aliados, eu e um grupo de pessoas que nós tivemos mais aproximações dentro do PT, nós ganhamos as eleições internas do PT e, se você acompanhou, você sabe que eu disse já várias vezes que não tem nada a ver as eleições internas do PT com as eleições pra Prefeitura de Natal. Eleição interna do PT o nome já diz, é eleição interna do PT. Então eu não vou tratar essa questão como uma questão aritmética, mesmo que eu tenha a maioria do partido eu não vou tratar dessa maneira. Eu já falei, eu até quero agradecer a você a oportunidade pra falar mais uma vez, se a Virgínia, a pré-candidatura da Virgínia tiver capacidade de atrair o apoio do prefeito Carlos Eduardo e atrair o apoio do PMDB, eu não tenho nenhuma dúvida que eu retiro o meu nome e apoio o nome da Virgínia.

O senhor não se sente preterido? Porque no momento em que se coloca “Virgínia teria condições de atrair Carlos Eduardo e atrair o PMDB, enquanto o deputado Fernando Mineiro não...”

Mineiro: Não, não, política é escolha, é o direitos deles escolherem. Eu não me sinto [preterido] não. Eu também não tenho minhas escolhas? Não tem nenhuma possibilidade, se isso acontecer, eu ter uma atitude pra derrotar a Virgínia dentro do partido, nenhuma possibilidade disso. Tanto é assim, que eu não sei por que outras pessoas ficam insistindo que eu tenho pré-candidatura pra 2010. Eu já falei isso várias vezes e repito pra você que não tem a mínima possibilidade. A discussão não é ser preterido ou não. Quem vai preterir ou não é a população, não sou eu, entendeu. Não é essa a discussão. Essa é uma discussão menor. O que eu quero é que o PT cresça, que o PT tenha uma ação proativa no município de Natal, que o PT administre a cidade, administre o governo, como administra o país. Eu quero isso, eu trabalho pra isso, eu sonho pra isso e tudo que depender de mim pra o PT crescer, eu farei, inclusive abrindo mão de uma maioria que eu tenho dentro do partido. Eu já falei isso, isso é público. Minha palavra é única nessa questão. Quem me conhece sabe que se tem uma coisa que eu tenho a maior honra, maior carinho, é com a minha palavra. Então eu já falei isso pra Virgínia, eu já falei isso no PT, eu já falei isso na imprensa e continuo dizendo isso. Não tem nenhum sentimento de ser preterido ou não.

Essa guerra interna que existe no PT...

Mineiro: Não tem nenhuma guerra interna.

Mas tem outro episódio que foi comentado, que quando a secretária Virgínia foi registrar a pré-candidatura dela, ela teria tido dificuldade de conseguir as 15 ou 16 assinaturas necessárias e o senhor teria falado com Geraldão, presidente estadual do PT, pra ele fazer uma concessão e assinar. E só assim ela...

Mineiro: Isso saiu aonde, hein?

No “Diário”, na “Tribuna”...

Mineiro: Não, eu não li essa matéria no “Diário” e na “Tribuna” não. Saiu não, rapaz. Taí, eu tenho um clipping todos os dias dos jornais do Estado...

E o que saiu foi mais assim, que isso teria sido uma prova de que dentro do PT estão tentando boicotar a pré-candidatura de Virgínia. Isso é mentira também?

Mineiro: Olha, deixa eu só tentar entender. Ou você não ta fazendo a pergunta direito ou então ta uma coisa confusa. Primeiro, eu não vi nenhuma matéria dessas no “Diário” e na “Tribuna” que você citou aí. Eu tenho um clipping, inclusive na minha página, tá disponível na minha página. Se você olhar na minha página...

Eu vejo quase todo dia.

Mineiro: Você já viu o clipping que tem lá?

Vi.

Mineiro: Então não tem nenhuma nota sobre isso nos jornais escritos, a não ser que tenha sido novamente em blog.

No blog também.

Mineiro: Segundo, o Geraldo não participa do diretório municipal. Então, portanto ele não poderia ter assinado.

E não assinou?

Mineiro: Eu tô dizendo pra você. E terceiro como é contraditório isso. Você tá dizendo que eu pedi a Geraldo pra assinar, não é isso?

Não, eu tô lhe perguntando se é verdade.

Mineiro: Mas isso seria ruim ou bom pra Virgínia?

Provavelmente seria bom.

Mineiro: Então como é que você tá dizendo que isso é uma prova que eu tô querendo boicotar a Virgínia?

Não, eu não disse isso. Eu lhe perguntei sobre isso.

Mineiro: Vamos raciocinar aqui. Segundo você, como é que é a matéria? Repita pra mim como foi essa matéria.

A candidatura de Virgínia estava sendo boicotada dentro do PT.

Mineiro: Aí o exemplo é como?

Ela teve dificuldades de conseguir os nomes e só conseguiu registrar a pré-candidatura porque o senhor interveio e pediu a Geraldão pra assinar.

Mineiro: Então, vamos fazer igual ao “Jack, o estripador”, vamos por partes. Tá sendo boicotada. Como é que ela tá sendo boicotada se eu pedi ao Geraldo pra assinar? Esse raciocínio não tem a mínima lógica. Eu acompanho a imprensa, mas tem que ter o mínimo de lógica nas informações que passa pra sociedade, não é verdade? Qualquer pessoa que tenha o mínimo de raciocínio...

Por isso que eu tô mencionando esses boatos pra que o senhor diga são verdade ou não.

Mineiro: Tanto você como eu, eu tenho a sensação que estamos perdendo tempo. Você não acha? Nós vamos discutir em cima de boatos? Eu volto a repetir, eu quero que você bote na integra a entrevista nos eu blog... Voltando ao raciocínio lógico, você tá dizendo que a candidatura dela tá sendo boicotada. Mas ao mesmo tempo tá dizendo que eu pedi ao Geraldo... Se ela tá boicotada, como é que eu pediria ao Geraldo pra ele assinar?

Não seria uma forma de o senhor mostrar que é o senhor quem tem força dentro do PT?

Mineiro: Não, porque o Geraldo inclusive não é membro do diretório, eu tô dizendo pra você.

Então ele não assinou nada?

Mineiro: Não, porque ele nem é membro do diretório.

Como é que sai uma história dessas então?

Mineiro: Aí é você que é da imprensa quem tem que responder, meu querido (risos). Você tá chegando pra mim aqui e dizendo que tem uma série de informações e tá perdendo os eu precioso tempo e o meu, diga-se de passagem, pra discutir em cima de boatos. Então eu tô dando a resposta aí pra você. Tem algum raciocínio lógico isso aí que você tá dizendo?

Aparentemente não.

Mineiro: Aparentemente não, não. Na essência não. Primeiro porque o Geraldo não é membro do diretório. Segundo, porque eu precisaria mandar ele botar uma assinatura lá pra provar que eu tenho maioria, se é sabido que eu tenho maioria? Eu tô dizendo pra você que a discussão pra mim não é aritmética. Eu tô reafirmando pra você que se a Virgínia tiver, se ela contar com apoio, eu abro mão da candidatura. Eu já disse isso desde o início. Parece que tem gente se sentindo incomodado de eu ter dito isso e quer que eu diga o contrário.

Deputado, quais são os maiores problemas de Natal em sua opinião?

Mineiro: Têm vários. Eu acho que tem essa questão da segurança, é um problema sério que eu pessoalmente penso que não é um problema de Natal, é um problema do Brasil, do Estado e, assim sendo, deve ter uma ação articulada entre o governo estadual, o governo federal e o governo municipal. Eu acho que nós temos que mudar esse paradigma que o município não tem o que fazer na segurança. Eu acho que tem, eu acho que tem um papel importante.

Diadema, no interior de São Paulo, que é administrada pelo PT é uma prova disso.

Mineiro: É, mas não é só Diadema. Diadema é um exemplo importante. Inclusive a Micarla [de Sousa], que é candidata do PV, trouxe aqui a secretária [de Defesa Social de Diadema] Regina Miki, que tem um papel muito importante. Mas todas as cidades do mundo, do Brasil, onde conseguiram minimizar [a violência].

Diadema é porque é um caso emblemático. A cidade tinha um índice de violência altíssimo e uma série de medidas foi implantada...

Mineiro: Ao longo de 20 anos.

Foi a primeira prefeitura do PT?

Mineiro: Foi a primeira, desde 1985. Aliás, desde 1982, né. Diadema é um exemplo muito importante de como o PT faz bem nas administrações municipais. Então é um problema essa questão [da violência]. Eu acho que o problema do saneamento ambiental é uma questão importante de ser pautada, ser debatida. Natal tem hoje de 30 a 31 por cento de área...

32,2% pra ser mais preciso.

Mineiro: É, de coleta, né. Mas tratamento não é. Porque uma coisa é você coletar os dejetos, outra coisa é você tratar os dejetos.

Dos dejetos coletados, 40% são tratados, segundo a Caern.

Mineiro: Eu tenho trabalhado muito com esses dados nos últimos anos e cerca de 13 a 15 por cento é que são tratados, a maioria é jogada in natura. E com os novos investimentos do governo federal em parceria com o governo do Estado e com a própria Prefeitura em algumas regiões, nós vamos chegar aqui a 60%, mas tem um impacto grande na questão da água. Porque toda a saúde tem um nó grande. Eu digo que aqui em Natal é uma região onde o SUS não se complementou, apesar de nós termos a gestão plena, mas se você for analisar efetivamente tem uma série de gargalos no município. Nós temos questões relacionadas à educação. A rede municipal tem uma boa estrutura, mas o desempenho ainda é muito baixo. É superior ao estado, mas é inferior a muitas cidades. Então eu acho que Natal pode avançar mais. Tem uma série de questões. Eu acho que Natal tem uma, do meu ponto de vista, tem um déficit em cidadania, em participação. Eu acho que são demandas importantes que devem ser assumidas pela próxima administração – que eu farei tudo pra que seja do Partido dos Trabalhadores, quer seja com a Virgínia, quer seja comigo.

Vamos falar do cenário nacional rapidinho. Mais de cinco anos de governo Lula. O Ibope, na semana passada, divulgou uma pesquisa revelando que a aprovação do governo chegou a 73%, sendo um recorde para o próprio presidente Lula. A que se deve essa aprovação, apesar do bombardeio da mídia?

Mineiro: Olha, se deve ao trabalho. Se deve às transformações pelas quais o Brasil passa, se deve à mudança na qualidade de vida do nosso povo, real, concreta. Se deve ao fato de que, pela primeira vez, no Brasil, você tem um governo que atende à maioria da população, aos mais necessitados, ao povo mais pobre, mais apartado, mais esquecido pelas políticas públicas. Se deve ao grande trabalho que tem de desenvolvimento sustentável no Brasil. E se deve sobretudo à consciência de que tem muito o que fazer nesse país. O presidente Lula, na última vez que eu o encontrei, ele falava que ele tem o maior orgulho de ter feito muito pelo Brasil, ele tem consciência disso. Mas, ao mesmo tempo, ele tem muita humildade em saber que muito ainda tem que ser feito, a gente sempre tem que tá atento pra isso. Então, a aprovação se deve a isso, ao reconhecimento de você ter um trabalho muito sério, feito pelo presidente, pelos partidos aliados, toda equipe, e pela consciência que tem que fazer mais e ao mesmo tempo se deve ao fato de que determinada mídia desse país tem que sair dos seus castelos, que tá muito distante do povo, como você mesmo falou. A despeito do bombardeio da mídia. Porque essa mídia, boa parte dela não representa o que o povo pensa nem o que o povo sente.

Tem acontecido uma coisa interessante no governo Lula. Sempre se falou que as pessoas, a população em geral era muito influenciada pelos meios de comunicação, principalmente pela Globo, que teria, inclusive, decidido eleições. Mas no governo Lula tá acontecendo uma coisa diferente. A mídia bombardeia, mas a aprovação ao governo só aumenta. O presidente foi eleito, depois reeleito debaixo de uma série de ataques midiáticos e denúncias. E ao mesmo tempo, parece que o governo não tem coragem de enfrentar a mídia. Enfrentar no sentido de propor mudanças no sistema de concessões públicas, que muitas vezes é deturpado. O governo propôs o Conselho Nacional de Jornalismo...

Mineiro: E recuou...

Isso, recuou. Depois a Ancinav e recuou também.
Mineiro: Mas você acha que isso é por falta de coragem? Você acha que o presidente Lula não tem coragem?

Não sei, eu tô lhe perguntando.

Mineiro: Eu acho que o presidente Lula tem muita coragem, tem feito coisas que só quem tem muita coragem é que faz.

Mas parece que na hora de enfrentar a mídia...

Mineiro: Não, essa é a opinião do Paulo Henrique Amorim e inclusive a sua também, pelo que eu tô vendo.

Paulo Henrique Amorim, inclusive, foi demitido do IG.

Mineiro: Lamentavelmente. Taí um blog que eu olhava. Mas eu não sei se é por falta de coragem. Eu acho que é correlação de forças, porque não depende só do PT. O PT defende uma reforma profunda dos meios de comunicação, o PT fez uma [proposta de] reforma dos meios de comunicação no Brasil. Agora, o PT não tem maioria no Congresso, você precisa ter maioria pra aprovar essas questões da Ancinav, como você deu o exemplo, o Conselho Nacional de Jornalismo, você também deu o exemplo. A TV Pública agora quase que não passa né. Então não depende só do PT. Não é questão de ter coragem ou não ter coragem. É questão de você ter votos pra poder votar e aprovar essas matérias, que são extremamente importantes. O Partido dos Trabalhadores, inclusive, tirou como uma das bandeiras principais do seu congresso essa questão da reforma dos meios de comunicação. Mas não depende só do Partido dos Trabalhadores.

Essa é uma deformação que se reproduz localmente. Você vê aqui políticos, como o senador José Agripino, que todo dia tá na TV Tropical com os discursos dele.

Mineiro: Taí que eu acho até bom. Todo dia que o Zé Agripino fala, o Lula aumenta [de popularidade]. Taí que eu acho que ele tá fazendo um papel muito bom na oposição, eu queria que ele ficasse muito tempo na oposição. Ele tá tão bem na oposição que eu quero que ele passe muitos anos na oposição. E toda vez que eu vejo ele ficar muito irritado, muito bravo, aí você pode saber que logo depois tem uma pesquisa boa pro Lula.

E quando foi aprovada a TV Pública, ele deu show, né.

Mineiro: É, quanto mais o Zé Agripino fala, a palavra dele ajuda o Lula a crescer.
Deputado, última pergunta. O Datafolha divulgou uma pesquisa no final de semana passado na Folha de São Paulo, sobre a eleição em São Paulo e pra presidente em 2010.

Mineiro: O que é que deu lá em São Paulo?

Marta cresceu quatro pontos.

Mineiro: Tá na frente?

Tá, com 29%. Geraldo Alckmin caiu e tá com 28%, em empate técnico. Mas interessante é que a “Veja” deu “Alckmin lidera, empatado com Marta”.

Mineiro: Veja só! (risos)

Pois é, cisma com Marta. Mas enfim, a pergunta é sobre 2010. Eles fizeram simulações pra presidente em 2010 e deu José Serra (PSDB), que Paulo Henrique Amorim, citado pelo senhor, chama de “o presidente eleito”, porque a mídia já elegeu José Serra pra presidente em 2010.

Mineiro: Sei, tinha eleito também antes né, em 2006. Quer dizer, em 2002.

O senhor acha que já se pode considerar José Serra eleito em 2010?

Mineiro: Eu sei que quem tá eleito é o Lula. O Lula tá eleito, foi eleito em 2002, foi eleito em 2006. Eu tô torcendo muito pela Marta lá em São Paulo, eu não tinha visto...

Ela cresceu em todos os segmentos.

Mineiro: Marta fez um grande governo em São Paulo, administrou pra maioria da população desassistida de São Paulo. Eu torço por ela, acho uma mulher corajosa, que não recua de enfrentar algumas perguntas de alguns jornalistas e de algumas jornalistas muito desrespeitosas. Porque às vezes tem isso, as pessoas fazem as perguntas achando que podem criar ciladas. Ela responde de uma maneira muito altiva. Eu gosto dela, acho legal, acho bom e fico feliz, vou torcer por ela e em 2010 o PT vai eleger novamente o presidente.

Mas todos os nomes do PT na pesquisa, Dilma, Marta, aparecem lá em baixo.

Mineiro: Mas o PT vai apresentar candidatura ou própria ou aliada. Bote aí no seu blog: as forças que apóiam o Lula vão eleger o próximo presidente do Brasil.

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