sábado, 24 de fevereiro de 2007

Política externa derruba primeiro-ministro italiano

Da redação da Carta Capital, nº 433 (24 de fevereiro de 2007):


"Nove meses depois da posse, o governo italiano de centro-esquerda caiu. No passado mais ou menos remoto, quedas em prazo curto eram freqüentes. Há tempo já não eram. O primeiro-ministro Romano Prodi entregou a carta de demissão ao presidente da República, Giorgio Napolitano, a quem cabe convocar consultações, como reza a terminologia política na Itália, com todas as lideranças políticas do país. Ao cabo, escolherá o sucessor. O qual poderia ser o próprio Prodi.

Razão da queda: a política exterior. O chanceler e vice-premier Massimo D’Alema, na manhã de quarta 21, fez uma longa e precisa exposição sobre os rumos da política exterior. Foi um discurso que, sem renegar as alianças tradicionais, a começar pelos Estados Unidos e, obviamente, com a União Européia, confirmou uma linha de firme independência e acentuou as diferenças com a orientação adotada pelo governo Berlusconi.

Terminada a alocução, os senadores votaram um documento, chamado moção, para explicitar se aprovam, ou não, a política do governo, que perdeu por dois votos: 158 a favor, 136 contra, 26 abstenções. Votos fatais, os de dois senadores da chamada esquerda radical. Entendem que as diferenças em relação a Berlusconi são mínimas.

A rigor, segundo a Constituição, Prodi não era obrigado a se demitir, pois não estava em jogo a confiança, termo usado para definir o extremo desafio de um governo em busca da total aprovação parlamentar. A questão, no entanto, é capital, e D’Alema avisara um dia antes que o governo sairia de cena se não houvesse aprovação.

A partir deste momento, o presidente Napolitano pode tomar uma das seis saídas seguintes. 1. Incumbir Prodi de pedir a confiança da Câmara dos Deputados. 2. Entregar a Prodi novo mandato. 3. Investir outro político da coligação de centro-esquerda. 4. Entregar o mandato a uma personalidade institucional, para um governo de transição, destinado a elaborar, entre outras, uma nova lei eleitoral, premissa da convocação do pleito antecipado. 5. Dissolver o Senado para convocar novas eleições somente para esta câmara do Parlamento. 6. Dissolver as duas câmaras e convocar de imediato novas eleições políticas.

Vêm à tona procedimentos típicos do parlamentarismo, distintos do nosso presidencialismo. Mas há semelhanças. Enquanto a coligação de centro-direita permaneceu impávida de fio a pavio do seu mandato, durante o governo Berlusconi, unida pelo interesse comum em aplicar políticas neoliberais e obedecer prontamente à vontade do Império americano, a de centro-esquerda exibe a dificuldade de atender, dentro de suas largas fronteiras, a visões conflitantes da política, da vida e do mundo.

Se Prodi volta ao cargo, os problemas, que incluem também posturas morais, permanecem. A não ser que haja uma defecção do outro lado. De um partido, ou de um grupo, disposto a sair de vez da Casa da Liberdade, inventada e mantida por Belusconi, cidadão que não teme o ridículo."

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