"Estávamos em momentos diversos das nossas vidas em 1970, senador. Eu combati a ditadura e disso tenho imenso orgulho".
Foi com esse desabafo que a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, silenciou o líder dos 'demos', senador José Agripino Maia, durante depoimento ontem (quarta-feira, 7), na Comissão de Infra-Estrutura do Senado.
Não tive tempo de comentar o episódio ontem, mas não poderia deixar passar em branco. José Agripino, tentando constranger a ministra, trouxe à tona uma entrevista na qual Dilma Rousseff dizia ter "mentido muito" quando foi presa pela ditadura militar. O demista insinuou que a ministra também mentia aos senadores e disse que tinha medo da volta do "estado de exceção".
Em sua resposta, a ministra disse que "qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira".
Em seguida, Dilma Roussef falou que mentiu para salvar a vida de companheiros e estocou José Agripino ao lembrar que ela e ele militaram em lados opostos na época do regime militar:
"Eu tinha 19 anos, eu fiquei três anos na cadeia e eu fui barbaramente torturada, senador. (...) Eu me orgulho de ter mentido para salvar companheiros da tortura e da morte. Na democracia se fala a verdade. Diante da tortura, quem tem coragem, dignidade, fala mentira. (...) Não tenho nenhum compromisso com a ditadura. Eu estava num campo e eles estavam noutro. O que estava em questão era a minha vida e a de meus companheiros. Esse país que construiu a democracia, que permite que hoje eu esteja aqui, não tem a menor similaridade com a ditadura militar. Nós estamos em igualdade de condições humanas e materiais. Nós não estamos num diálogo entre o meu pescoço e a forca, senador. (...) De fato, nós estávamos em momentos diversos das nossas vidas em 1970, senador. Eu combati a ditadura e disso tenho imenso orgulho."
A parte final da resposta foi arrasadora. Enquanto Dilma era presa e torturada por lutar contra a ditadura e pela liberdade, Agripino servia ao regime dos generais. Agripino, que insinuou que a ministra mentia aos senadores, mentiu ao dizer que lutou contra o regime na mesma época em que Dilma foi presa:
"Na mesma época era governador eleito pelo voto direto pelo meu estado e rompi com o PDS para apoiar a candidatura Tancredo-Sarney", disse o demista.
Até mesmo os colunistas do PIG denunciaram a mentira de Agripino. Miriam Leitão escreveu em seu blog:
"Ora, mais respeito aos fatos, senador. Primeiro, entre o tempo em que a ministra foi presa e torturada e o dia que ele rompeu com o PDS passaram-se mais de dez anos. Ela foi presa no pior do regime, ele rompeu com o partido do governo quando o barco da ditadura estava afundando."
Agripino virou motivo de piada geral. No "Programa do Jô", o apresentador, além de condenar a atitude do senador, debochou do português incorreto de Agripino e o chamou de senador José Agripino "Culatra".
A seguir, vocês podem conferir o vídeo com a resposta da ministra e o silêncio de Agripino.
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