terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Receita de Viver

Leio muito devagar. Queria ler mais rápido, mas muitas coisas me distraem e me afastam da leitura. O resultado é um acumulado de livros inacabos.

No momento, estou lendo as "Entrevistas" de Clarice Lispector. É uma coletânea com 42 entrevistas da autora de "A hora da estrela" com personalidades da literatura, da música, das artes cênicas, das artes plásticas e dos esportes.

Em outra postagem, citei um trecho curtíssimo da entrevista com Nelson Rodrigues, quando ele diz que "a grande, a perfeita solidão exige uma companhia ideal".

Hoje eu li a entrevista com o médico e teatrólogo Pedro Bloch.

Selecionei um trecho marcante para mim:

Clarice: Como você é de verdade?

Pedro: Fiz, uma vez, uma receita de viver que acho que me revela. Viver é expandir, é iluminar. Viver é derrubar barreiras entre os homens e o mundo. Compreender. Saber que, muitas vezes, nossa jaula somos nós mesmos, que vivemos polindo as grades em vez de libertar-nos. Procuro descobrir nos outros sua dimensão universal e única. Não podemos viver permanentemente grandes momentos, mas podemos cultivar sua expectativa. A gente só é o que faz aos outros. Somos conseqüência dessa ação. Talvez a coisa mais importante da vida seja não vencer na vida. Não se realizar. O homem deve viver se realizando. O realizado botou ponto final. Tenho um profundo respeito humano. Um enorme respeito à vida. Acredito nos homens. Até nos vigaristas. Procuro desenvolver um sentido de identificação com o resto da humanidade. Não nado em piscina se tenho mar. Gosto de gostar. Todo mundo é perfeito até prova em contrário. Gosto de fazer. Não fazer... me deixa extenuado. Acredito mais na verdade que na bondade. Acho que a verdade é a quintessência da bondade, a bondade a longo prazo. Tenho defeitos, mas procuro esquecê-los a meu modo.

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