quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O poder da amizade

Tenho dormido tarde nos últimos dias e, para compensar a falta de sono, aproveito para ler e assistir bons filmes. Na madrugada de ontem para hoje assisti "Reine Sobre Mim" (Reign Over Me), do diretor Mike Binder, com Adam Sandler, Don Cheadle e Liv Tyler. Talvez a sua reação ao se deparar com o nome de Adam Sandler tenha sido de desconfiança, igual a minha, como se dissesse "xiii, lá vem mais uma daquelas comédias americanas estilo pastelão", afinal de contas Sandler é conhecido pelo grande público por suas atuações nesse tipo de filme.

"Reine Sobre Mim" nada tem a ver com o gosto duvidoso daquelas comédias. Primeiro porque é um drama, que conta uma história de conteúdo profundamente humano e emocionante, sem ser piegas. Depois porque você vai se surpreender com uma interpretação tocante de Adam Sandler, como provavelmente você não o viu em nenhum outro momento.

No filme, Sandler é Charlie Fineman, um homem perturbado pela tragédia de ter perdido a mulher e as três filhas num dos aviões seqüestrados pelos terroristas da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001. Fineman não consegue lidar com a perda e isola-se de tudo e de todos. Tranca-se em seu apartamento e só sai a bordo do seu patinete motorizado para ir a uma loja de antiguidades que vende discos de vinil. O apartamento onde mora é um lugar sombrio. Ele reforma a cozinha à cada duas semanas. Os quadros estão pelo chão. Não há moveis; apenas um velho sofá na sala, um projetor de imagens e uma tv de plasma gigante, que ele só liga pra jogar video-game. Nunca vê os noticiários. É uma forma de estar no mundo, mas ao mesmo tempo não se sentir parte dele.

Fineman tenta fugir das lembranças da esposa e das filhas. As lembranças são dolorosas demais e ele não consegue conviver com isso. Ele já tem que suportar a ausência delas, o vazio infinito advindo dessa ausência, a absoluta sensação de estar perdido num universo gigantesco, a vertiginosa percepção de gravitar em torno do invisível, do intangível.

Um dia, por acaso, Fineman reencontra um antigo amigo de faculdade, Alan Johnson (vivido por Don Cheadle). É quando sua pobre vida triste começa a mudar. Johnson é um dentista que vive para a família e o trabalho, mas sente-se frustrado por ter que se anular o tempo todo. O reencontro de Fineman e Johnson reascende a amizade esquecida e essa nova relação vai ensinar muita coisa aos dois.

A partir desse reencontro, o tema da amizade é explorado com muita sensibilidade e filme mexe com algo que é comum a todos nós: a estranha necessidade de não nos sentirmos sós. Fineman descobre que não está só, enquanto Johnson começa a intuir que aquela amizade pode trazer à tona um lado seu que nem ele mesmo conhecia.

Em tempos difíceis como os nossos, quando as relações são, muitas vezes, movidas por interesses egoístas, é sempre bom ver histórias como essa, que mostram a força da verdadeira amizade. Não importa que seja um pouco idealizado. É bom sonhar de vez em quando.

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