Não sou especialista em análise do discurso. Esforço-me para entender o que muitas vezes não está escrito, mas está dito nas entrelinhas.
Algumas vezes, porém, não precisa muito esforço para decodificar a mensagem da mídia nossa de cada dia.
O nível intelectual de muitos coleguinhas de imprensa é lastimável - se é que podemos falar em intelectualidade aqui!
Veja o exemplo de Eliane Cantanhêde, articulista da Folha de São Paulo. Há tempos ela vem se notabilizando pelas asneiras que escreve. Na edição de hoje da Folha, contudo, ela superou todos os limites.
Em "Reabrindo Feridas", título da coluna do dia, Eliane escreve sobre o julgamento que se dará no STF a partir da próxima quarta-feira, onde a suprema corte do país decidirá se acata ou não a denúncia contra os acusados de operarem o chamado "esquema do mensalão".
A colunista, além de não esconder a sua torcida pela condenação dos acusados, aproveita para, novamente, decretar o fim antecipado do Governo Lula, utilizando, para isso, de uma linguagem prescrita nos melhores manuais de redação do Brasil:
"O pau come na economia, o presidente ainda vai se ver obrigado a suportar o Supremo futucando a maior ferida do seu governo, o mensalão, que marcou a imagem do PT e foi um marco não só para o governo Lula como para a esquerda no poder. Causou dúvidas e desesperança, radicalizou ainda mais os radicais - até no próprio PT".
Não se pode acusá-la, porém, de não ser solidária. Depois de dizer que "o pau come", ela emenda com um "deve doer", colocando-se no lugar do presidente Lula, para quem, imagina Eliane, ver amigos e ex-aliados envolvidos em deslizes éticos deve acarretar muito sofrimento.
Nem vou nem me aprofundar aqui na tendência de se transformar acusados em culpados - artifício recorrente nesses tempos de caça às bruxas promovida pela mídia.
O que é sofrível mesmo é ter que engolir jornalista do calibre dessa Eliane Cantanhêde ocupando os maiores espaços nos maiores jornais do país. Essa gente detém o monopólio da opinião e não admite que ninguém a contrarie.
Quando são acusados de golpistas, dizem que exercem apenas a liberdade de crítica, que só vale para eles. Vestem a carapuça de vítimas e recorrem sempre ao discurso da censura quando se fala em controle social dos meios de comunicação. Têm pavor que alguém “futuque” (outro vocábulo que deverá entrar no próximo livro de Eliane Cantanhêde sobre “como escrever bem”) a caixa-preta e descubra os segredos da mídia nativa.
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