Excelente artigo de Antônio Gois na Folha de S. Paulo de hoje. Vale à pena ler:
"Boi com rabo de elefante
Ao fazer uma palestra a convite do ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman, o jornalista Elio Gaspari contou a seguinte piada sobre jornalistas e estatísticos: "Se passam dez mil bois e um tem rabo de elefante, o estatístico faz a crítica, tira a média e o rabo do elefante desaparece. Já o jornalista publica: "Boi tem rabo de elefante. E a culpa é do governo"."
Para o estatístico, ignorar um único caso faz todo sentido. Do ponto de vista jornalístico, desprezá-lo pode ser um erro, já que por trás dele pode estar uma grande história.
O risco, porém, é que, a partir de casos isolados, se comprova qualquer teoria. Fumar, como está mais do que provado, faz um mal danado. Mas não é impossível achar quem, apesar de sempre ter fumado, chegue à terceira idade com saúde.
Na semana passada, uma reportagem na TV era taxativa ao dizer, a partir de duas declarações, que a concessão de salário-maternidade para trabalhadoras rurais estava provocando uma explosão demográfica no interior da Bahia.
A tese, além de pouco razoável -o benefício é pago por 120 dias, o que não cobre nem nove meses de gravidez-, ainda ressuscita o fantasma do descontrole populacional. Apesar de ainda haver diferenciais significativos por renda e escolaridade, os dados do Censo do IBGE mostram que foi entre as mulheres mais pobres e menos instruídas que a taxa de fecundidade mais caiu desde 1970.
Ainda há muito a avançar para garantir o direito de toda mulher de ter meios e informações para planejar quantos filhos quer ter. Falar em explosão demográfica quando a fecundidade no país atingiu o nível de reposição populacional, no entanto, soa anacrônico. Mas há sempre quem insista em ver só rabo de elefante no meio da boiada. "
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