sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

Globo faz campanha contra classificação da programação pelo Ministério da Justiça

Na semana que vem, o Ministério da Justiça lança uma portaria que oficializa o padrão de classificação indicativa (faixa de idade recomendada) para programação de televisão aberta.
A portaria sai depois de três anos de discussão pública. Até hoje, cada emissora adota o padrão que quiser para informar aos pais sobre a classificação dos seus programas.
Pois a Globo já botou as mangas de fora contra a portaria do Ministério da Justiça. Há vários dias, a emissora apresenta um anúncio próprio, mostrando uma criança de olhos vendados, simbolizando a proibição de ver determinado programa, enquanto um locutor fala na responsabilidade dos pais.
Diz o locutor:
Todo programa de TV aberta tem uma classificação por idade. Mas o que conta mesmo é a sua opinião. Ninguém melhor do que os pais para saber o que os seus filhos devem assistir. A televisão brasileira oferece informação, diversão e entretenimento de qualidade e de graça. Os limites é você quem dá. Cidadania, a gente vê por aqui.”
Informação, diversão e entretenimento de qualidade e de graça? Faz-me rir, né!
Ao tentar jogar a responsabilidade somente para os pais, a emissora exime-se da própria culpa. A Globo e as demais emissoras sempre dão um jeito de esquivar-se do compromisso com a classificação indicativa. Nenhumas delas [as emissoras] gosta de ser "patrulhada". Daí, recorre-se ao argumento da luta contra a "censura".
Em artigo no site do Observatório da Imprensa ["Globo e SBT fazem campanha oblíqua"], Mauro Malin adverte para o real objetivo da Globo: "Quando se combina a fala em "off" com as imagens a sugestão é de que cabe aos pais remover a censura que venda a visão de seus filhos. Ou seja: a Globo já antecipa uma campanha "anticensura"."
A portaria não tem nada a ver com censura, pois a classifação já existe. Como informa Mauro Malin em seu artigo, "A portaria tratará de símbolos e maneiras de exibi-los. Segundo a Assessoria [de Comunicação do Ministério da Justiça], vem sendo discutida há três anos com as emissoras de televisão. Houve consultas públicas. O site do Ministério da Justiça recebeu 23 mil visitas. O documento legal vai oficializar o Manual de Classificação para as TVs abertas. Hoje cada emissora faz do jeito que entende. A indicação só aparece no começo da exibição."
Em tempo
O colunista Daniel Castro dá a seguinte nota na Folha de S.Paulo, hoje:
"PREOCUPAÇÃO A Associação dos Roteiristas de TV (presidida pelo autor de "Vidas Opostas", Marcílio Moraes) está divulgando manifesto em que afirma estar preocupada com as novas regras de classificação indicativa. Diz temer a volta da censura e pede o fim da vinculação da classificação indicativa a horários de exibição dos programas. "
"Vidas Opostas" é a novela da Rede Record exibida depois das 21h00. A história mostra a luta entre gangues rivais pelo controle do tráfico de drogas nos morros cariocas e o envolvimento de policiais corruptos com os marginais, sempre recorrenco à violência para garantir mais audiência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Parabéns ao escritor do texto!Bastente coerência e objetividade na produção do mesmo.
Mas a de se destacar que assim como todas as disputas de poder e dinheiro das grandes organizações acabam por adentrar na seara jurídica, esta discussão não seria excluída deste caminho!
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil(OAB)interpôs no dia 31/01/07 uma ADI contra a portaria do Ministério da Justiça, tendo sido negada de início pelo Ministro Cesar Peluzo; entretanto, em sede de recurso os votos dos ministros estão empatados(5 a 5), tendo que esperar o voto de minerva da "excelentíssima" presidente do Tribunal(Ellen Gracie).
E vejam que esta discussão ainda não chegou ao processo principal, estão discutindo apenas se devem receber e julgar a ADI!
È literalmene uma "briga de cachorro grande"!