quarta-feira, 11 de janeiro de 2006

Mais uma de Veja

O ódio da Veja pelo PT

O ranso da revista Veja contra o PT não é nenhuma novidade. Quando o assunto é o Partido dos Trabalhadores, pode esperar que lá vem bomba.

Às favas a ética jornalística! O negócio é descer mesmo a lenha nessa "raça" (termo usado pelo senador pefelista Jorge Bornhausen ao referir-se aos petistas).

Desde que o PT chegou ao poder, Veja iniciou sua ofensiva para desqualificar o governo do presidente-operário. Primeiro foi a história dos milhões de dólares que o partido de Lula teria recebido das FARC (Forças Armadas Revolucionárias Colombianas). Depois a lorota dos dólares vindos da ilha de Fidel Castro. Entre uma mentira e outra, surgia a cantilena ensaiada (verdadeira motivação por trás de tudo): "vamos caçar o registro do PT".

Em 2005, ano da crise política que, dizem os "analistas", decretou o fim antecipado do Governo Lula, Veja deitou e rolou, feliz com a desgraça do PT.

A revista que está nas bancas (Edição 1938, 11 de janeiro de 2006), traz uma matéria sobre a recuperação do centro de São Paulo, cuja área de 150.000 metros quadrados, abrangendo 10 quarteirões, será demolida pela Prefeitura, que oferecerá os terrenos à iniciativa privada.

Veja defende que a única maneira de acabar com a ruína de centro paulistano (reduto de pobreza, prostituição, tráfico de drogas e comércio de produtos piratas, segundo o texto de Camila Antunes) é "a demolição pura e simples". Aproveita para culpar a administração da petista Marta Suplicy, que teria piorado ainda mais a situação ao instalar 400 famílias sem-teto em imóveis abandonados.

Mas o que me chamou a atenção não foi essa discussão sobre o centro de São Paulo e a ogeriza da turma tucana instalada na Prefeitura contra os pobres e desabrigados da cidade. Lá na página 92, num box entitulado "O pecado da demagogia", a repórter mira novamente no PT. Dessa vez, o personagem escolhido é o padre Júlio Lancelotti, que a revista apresenta como "líder de uma organização política ligada ao PT chamada Pastoral da Rua", a quem acusa de ser o demagogo em questão.

Lancelotti é um crítico da política higienista do prefeito José Serra, que inclui a demolição do centro de São Paulo e a construção de rampas "antimendigo" sob o viaduto que leva à Avenida Paulista. Veja diz que o padre "quer mesmo é ter à sua disposição um rebanho de manobra para fazer política". Para a revista, o importante é fazer a fachina e livrar a cidade do incômodo de "mendigos, menores abandonados e loucos que vagam pelas ruas de São Paulo". Em nenhuma linha a repórter questiona as razões que empurram essas pessoas para a rua. Em nenhum parágrafo, dedica-se a criticar o escândalo da injustiça social, que aprofunda a miséria e condena milhões à exlusão permanente. Não tem pra quê perder tempo com essa gente! A solução "pura e simples", claro, é se livrar deles. Qualquer um que se importe, será tachado de demagogo - ainda mais se for ligado ao PT.

Abaixo, confira a transcrição da íntegra da matéria:

O PECADO DA DEMAGOGIA

O padre Júlio Lancelotti, líder de uma organização política ligada ao PT chamada Pastoral da Rua (atenção, papa Bento XVI), comete todos os dias um pecado mortal – o da demagogia. Ele é o criador de uma categoria que leva o nome de "Povo da Rua". É a denominação de Lancelotti para mendigos, menores abandonados e loucos que vagam pelas ruas de São Paulo. A pretexto de defender o "Povo da Rua", o padre quer transformar uma situação precária – a dos sem-teto e que tais – em permanente. Toda e qualquer iniciativa para colocar esse pessoal em abrigos, custeados pela prefeitura, limpar os logradouros públicos de barracas e excrementos e livrar os transeuntes do risco de assaltos protagonizados por pivetes é torpedeada por Lancelotti com a classificação de "prática higienista". Os motivos do padre estão longe de ser religiosos. O que ele quer mesmo é ter à sua disposição um rebanho de manobra para fazer política.
Se Lancelotti fosse mesmo sensível às necessidades do seu "Povo da Rua", começaria por oferecer abrigo na igreja da qual é pároco: a de São Miguel Arcanjo, no bairro paulistano da Mooca. A igreja, porém, tem grades nas portas e cerca elétrica nos muros – um aparato suficiente para definir aquela casa de Deus como um "bunker antimendigo". "Antimendigo" é a expressão usada por ele – e por jornalistas amigos seus – para classificar pejorativamente a iniciativa da prefeitura de São Paulo de colocar rampas de superfície áspera sob o viaduto que leva à Avenida Paulista. A administração municipal recorreu a esse expediente para desalojar os marginais que, instalados no local, assaltavam as pessoas que transitam por ali. Lancelotti continua a esbravejar que "as rampas antimendigo" fazem parte de uma "visão higienista". Pois bem, propõe-se aqui um acordo: a prefeitura retira as rampas e o padre abandona o seu bunker e passa a morar debaixo do viaduto. Lá, poderá controlar os assaltantes e encontrar a santa felicidade junto ao "Povo da Rua".

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