terça-feira, 18 de julho de 2006

Mais sobre PT e PCC

Mídia potiguar embarca na demagogia
Não é minha intenção dar nenhuma aula sobre jornalismo, mas não custa lembrar que todo jornalista deveria estar comprometido apenas com a verdade, com o interesse público. Deveria, porque nem todos estão de fato. Certa vez um amigo jornalista comentou comigo que se as pessoas soubessem do jogo de interesses que há por trás da mídia, elas não teriam coragem de pegar num jornal sem luvas. Aprendi na universidade que notícia é o fato que pertence ao campo do interesse público (diferente do interesse do público). Ricardo Noblat diz que notícia é notícia e ponto final. Não deve ser maquiada, nem disfarçada. A notícia deve ser publicada sempre, mesmo que contrarie o interesse do próprio jornalista.

A função do jornalista é socorrer os aflitos e afligir os poderosos, define Noblat. Nunca é demais lembrar também que um dos direitos fundamentais do cidadão numa democracia é o direito à informação. O jornalista tem a obrigação de levar informação de qualidade ao cidadão, o que significa transmitir, além do noticiário cotidiano, cultura. A boa informação jornalística é aquela que se pauta na defesa intransigente da verdade. O jornalista ético preocupa-se em passar ao público todos os ângulos do fato em questão, estabelecendo sempre o contraditório como contraponto para que o cidadão examine o conteúdo da notícia e tire suas próprias conclusões.


Quando o jornalista transforma uma opinião em fato e publica isso como se fosse notícia, ele não está fazendo jornalismo. Quando o jornalista transforma uma versão do fato na única versão possível, ele está induzindo o cidadão a acreditar naquilo que ele (jornalista) quer que o cidadão acredite. Quando o jornalista deixa de se posicionar pela defesa do interesse público e posiciona-se ao lado dos poderosos ou dos próprios interesses, ele esquece que, antes de ser jornalista, é um cidadão. Portanto, aquilo que o atingiria como cidadão, deveria atingi-lo como jornalista. A sua ética jornalistíca não é superior à ética do cidadão comum.


Invariavelmente, vejo colegas jornalistas esquecerem-se da ética e utilizarem a profissão em causa própria ou para defender os intereses dos seus patrões - o que não deixa de ser tipificado como causa própria. Foi o que vi quando assisti, atônito e indignado, ao programa "Encontro com a Notícia" da TV Tropical, no último sábado (15/07).


Rodrigo Levino, apresentador, recebia na bancada do referido programa dois convidados, cujo papel seria comentar as notícias mais relevantes da semana que se passara. O jornalista (?!) fazia as vezes de meio campista e levantava a bola para que os amigos (tratavam-se, inclusive, por apelidos pessoais) encerrassem a jogada com o triunfante gol. Na pauta do dia, a onda de ataques que o PCC (Primeiro Comando da Capital) vem cometendo em São Paulo.


Para meu espanto, em momento algum eles discutiram as causas estruturais da violência, nem apontaram possíveis caminhos para o enfrentamento do caos instalado contra a ordem pública na maior cidada do país. Os pródigos comentaristas detiveram-se em repercutir e edossar as afirmações do senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), insinuando uma relação entre o PT e o PCC. "O PT pode estar manuseando, manipulando essas ações", declarou o senador catarinense. Ele ainda acrescentou: " O PT vive no submundo e nada mais me espanta nesse partido". Mais tarde, foi a vez do candidato tucano à Presidência da República Geraldo Alckmim dizer que "Tem muita coisa estranha por trás de tudo isso, mas não vou fazer nenhuma observação de natureza política".

Na TV de José Agripino (PFL-RN), até pouco tempo atrás candidatíssimo a vice-candidato na chapa de Alckmim, as "desconfianças" de Bornhausen ganharam peso e destaque de notícia. Transfigurada a demagogia em notícia, assistia-se ao triunfo da razão cínica. Outra vez, a manipulação das questões morais ocultando os verdadeiros interesses de quem agora se apresenta como defensor da ética.


Ora, onde está a ética quando uma emissora de televisão (concessão pública, vale lembrar) serve de palanque eleitoral para seu proprietário? Aliás, para quem não sabe, a Constituição proíbe a concessão de veículos de comunicação aos políticos. Mas o que é que eles fazem? Põem a papelada no nome de um laranja - mas todo mundo sabe a quem pertence a sombra por trás das pálidas figuras que aparecem no vídeo.


Aliás, essa questão das afirmações do senador Bornhausen envolvendo o PT e o PCC foi motivo de críticas do ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba. O jornalista citou a edição da quinta-feira (13/07) da Folha, quando o jornal deu destaque ao discurso do pefelista. “Não há justificativa jornalística para a Folha destacar, como manchete de sua principal página de política (A5), as "desconfianças" e "dúvidas" do presidente do PFL: "Bornhausen diz que desconfia de elo entre PT e PCC". Não há fato, não há prova, são apenas declarações eleitoreiras que o jornal não soube avaliar. Deveria ter lido antes o editorial da página A2 de hoje, "Novos ataques": "Políticos, na crise da segurança paulista, travam uma batalha retórica que confunde e ofende a opinião pública". Se "desconfianças" e "dúvidas" com acusações graves como estas viram manchete na Folha, imagine o que esperar desta campanha e da cobertura jornalística”.

Na mesma linha do ombusdman da Folha, André Petry escreveu na sua coluna da Revista Veja dessa semana (Edição 1965, 19 de julho de 2006): "Cá para nós: os tucanos governam São Paulo há doze anos, governaram o Brasil por oito anos e Lula, há quatro no poder, é o único culpado pelo caos?". André Petry nem de longe pode ser rotulado de defensor do Governo Lula. Ao contrário, trata-se de um de seus críticos mais ferrenhos. Pena que a mesma lucidez de Petry tenha falatado aos colegas potiguares.

Alisson Almeida

4 comentários:

Anônimo disse...

Como critico contumaz da empáfia e prepotência dos profissionais da (des)informação, afirmo com demasiada freqüência que a grande maioria deles se caracterizam pela amplitude de seu objeto de trabalho (a informação) e concomitantemente, pelas evasivas e distorções presentes em grande parte de seus comentários. Calcados no ideário messiânico e mítico de “informar tudo a todos”, se colocam como molas mestras da democracia, mas esquecem que em diversos períodos da história (recente, sobretudo), foram também responsáveis pelo cerceamento das mesmas liberdades individuais que tanto cultuam. Contudo, a mídia é tida ainda como a personificação da liberdade e logo, questioná-la é o mesmo que ser fascista, seguidor de tendências autoritárias... (não pode faltar aqui o blá, blá, blá...)

Ao comentar sobre jornalistas, é deveras muito difícil não cometer um erro tão comum a esses profissionais: a generalização. Se analisarmos o contexto potiguar, então, a situação é mais complicada ainda. Na Rede Tropical de Noticias, por exemplo, é angustiante ver e ouvir profissionais do quilate de Alex Medeiros, Túlio Lemos e o restante da trupe da (des)informação desfilando “elegância” jornalística em prol dos ideais do patrão – José Agripino Maia.

Assim, aqueles profissionais invertem a ordem das coisas, e ao em vez de informar, tentam formar a qualquer custo a opinião do leitor/ ouvinte/ telespectador, querendo eximi-lo da tarefa reflexiva, trazendo-lhe de antemão concepções e interpretações já prontas. É quando a informação passa a significar também, deformação. Principalmente quando se fala sobre tudo, mesmo sem o domínio para tratar de assuntos por vezes tão complexos. É quando simplificação e anacronismos nas abordagens de temas e conceitos se tornam lugar comum. É quando a sociedade potiguar se torna intelectualmente mais pobre, ao tomar por espelho os formadores de opiniões que temos dando cotidianamente aulas de analfabetismo em política, história... Será que merecemos isso? Bom, pelo menos restam esperanças, afinal, o rapaz que fez tão contundente crítica é também, jornalista. Logo, retomo o inicio: não devo ser generalista. Parabéns pela coerência, JORNALISTA Alisson Almeida.

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