quinta-feira, 23 de fevereiro de 2006

Folha de S. Paulo surfa na onda da extrema direita

Sérgio Mamberti critica “editorial de direita” na Folha de S. Paulo sobre Bono, do U2

O secretário da Identidade e da Diversidade Cultural do Ministério da Cultura, Sérgio Mamberti, criticou duramente na noite de terça-feira, em cerimônia no Palácio do Planalto, o artigo “Bono personifica a chatice da correção política”, publicado na capa da Folha do mesmo dia. Embora tenha sido escrito pelo editor da Ilustrada, Marcos Augusto Gonçalves, Mamberti disse que a Folha o “bancou como editorial” ao levá-lo para a capa do jornal.

Segundo o secretário, Gonçalves incorporou uma tendência que a própria Folha retratou recentemente, no caderno Mais!, sobre a “nova direita” mundial, que ele classificou de “extrema direita”. Ele se disse “assustado” com o teor do artigo, segundo ele discriminatório. “Estou assustado porque a Folha é um jornal importante”, afirmou, antes de comentar que não teria se surpreendido se o artigo tivesse sido publicado na revista Veja.

Falando para um público formado majoritariamente por ciganos, na cerimônia de lançamento do GT Cultural Cigano, Mamberti disse: “Que todos os atingidos se dirijam à Folha, para protestar contra a posição do jornal”. Segundo o secretário, essas “contestações autoritárias” à cultura da diversidade são “ameaças” a conquistas não só do governo do qual participa, afirma, mas estabelecidas há anos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Mamberti ficou particularmente horrorizado com a utilização irônica de expressões entre aspas, como “afrodescendentes”, “opção sexual” e “humanas”. “São pensamentos de extrema-direita, esses que consideram essas manifestações todas (de diversidade, tolerância), como arcaicas, como diz o próprio editor da Folha”.

Confira o artigo original de Marcos Augusto Gonçalves:

“Bono parece ser um sujeito legal. Está sempre do lado -como diria Rita Lee- dos frascos e comprimidos. Bono é a encarnação roqueira do politicamente correto. É uma espécie de Sting, o que faz dele, ao menos em parte, um chato. E também um equivocado: mal desembarcou no Brasil e já saiu correndo para emprestar seu prestígio a Lula. Nenhum questionamento, tudo beleza: a corrupção do PT e o faz-de-conta do presidente devem ser uma invenção da direita que não compra discos do U2.

Bono faz parte daqueles formadores de opinião do Primeiro Mundo Maravilha que acreditam em duendes progressistas do Terceiro Mundo. Estão sempre achando que vai brotar algo novo por aqui.

O "núcleo duro" de sua legião de fãs é a geração posterior à minha, hoje na faixa dos 35/40 e poucos. Um dos traços característicos dessa moçada é a correção política, aquela compulsão de chamar negros de "afrodescendentes", falar em "opção sexual", viver em permanente estado de solidariedade às minorias étnicas, colocar a culpa do terrorismo islâmico no Ocidente e recomendar filmes feitos nos cafundós do mundo sobre situações arcaicas e "humanas".

Bem, não deixa de ser um alívio ouvir de um artista dessa geração (Nuno Ramos, em entrevista publicada no sábado) que há muita arte de "cabeça baixa", tratando de questões imediatas: "Vivemos numa época extremamente controladora, e o pior é que aquilo que nos controla tem ótimos valores". Realmente, assistimos a um "boom" do que chamo de "arte ongueira", aquela produção ligada a ONGs, que se refugia no bom-mocismo para fazer sucesso.

Claro que Bono é "do bem". Irlandeses são gente fina. A África é pobre. O futebol brasileiro é mágico. E já que Bono quer dar uma força para o Terceiro Mundo, pode fazer um show na França contra os subsídios agrícolas. Aí diríamos: ao U2, as batatas!"

(Repórter Social - Alceu Luís Castilho - 22/02/2006)

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